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As pequenas vinganças do eleitor

Monika Hebbinghaus (sv)17 de setembro de 2005

Uma forma de se vingar dos políticos? Talvez. Fato é que as imagens dos candidatos espalhadas pelo país são modificadas com freqüência: há desde o bigode de Hitler no rosto de Merkel até óculos escuros em Schröder.

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Schröder de óculos e balãozinho ao lado: 'olhos fechados'Foto: dpa

A Frankfurter Allee fica num dos bairros "in" de Berlim, onde se concentram inúmeros bares, cafés e brechós. Com seis pistas, o tráfego é intenso e "emoldurado" por prédios imponentes, construídos sob o regime comunista. Nas últimas semanas, essa avenida vem sendo tomada por incontáveis cartazes com propaganda política, alternando a imagem de um Schröder decidido com a de uma quase sempre sorridente Merkel.

Em alguns desses cartazes, porém, os olhos do atual premiê alemão foram cobertos com o desenho de moedas enormes, sobre as quais está escrito: "poder do mercado". Sobre o rosto de Merkel, noutro cartaz, alguém acrescentou as palavras "reino da estupidez".

Simples vandalismo? Não necessariamente, diz uma moradora da região. "Depende da forma como as intervenções são feitas. Acho legítimo que se façam comentários sobre os slogans de propaganda política. Afinal, o que está escrito nesses cartazes não representa necessariamente a opinião das pessoas que moram na região."

Vigilância

Übermaltes Wahlplakat der CDU
Centro de Leipzig: intervenção no rosto de MerkelFoto: dpa

De uma forma ou de outra, esse diálogo democrático com cartazes e outdoors vem causando sérias dores de cabeça aos partidos. Na Frankfurter Allee, quase todos foram pichados, pintados, cobertos ou modificados de alguma forma.

Thorsten Reschke, o jovem coordenador da campanha eleitoral da União Democrata Cristã (CDU) no bairro Mitte, estima que mais de 20% dos 850 mil cartazes do partido espalhados pela Alemanha tenham sido danificados. Em alguns bairros de Berlim, a questão é tida como grave. "Alguns amigos me disseram que no norte de Neukölln [um bairro berlinense habitado por operários e com alto número de estrangeiros] a situação é crítica", diz Reschke.

"Mas nossos correligionários são muito ativos e estão tentando reparar os danos. Estamos enviando equipes para vigiar as ruas, a fim de evitar o vandalismo. É possível que eu consiga pegar algum em determinado momento. Vou então perguntar se ele tem ciência da bagunça que está provocando", dispara o democrata-cristão.

Tema para sociólogos

A questão ocupa não apenas os partidos, mas também cientistas políticos e sociólogos no país. Um deles é Nils Diedrichs, professor da Universidade Livre de Berlim, que coordena uma pesquisa sobre os efeitos da campanha eleitoral alemã. Diedrichs vem reunindo os slogans políticos pelas ruas de Berlim, ao lado das alterações criativas que são feitas em cima dos cartazes.

Freies Bildformat: Verunstaltete Wahlplakate Ausstellung in Hamburg zu "Wählergunst und Wählerkunst- die kleine Rache des Souveräns"
Exposição em Hamburgo sobre intervenções em cartazes de propaganda políticaFoto: AP

O professor acredita que os motivos que geram tais intervenções vão do mero vandalismo a objetivos de ordem claramente política. "Há certamente pessoas que querem expressar sua opinião política e vão atrás de determinados partidos. E há também os antifascistas, que destróem sistematicamente todos os cartazes da extrema direita. E vice-versa. Sabemos que extremistas de direita, especialmente os jovens, andam por aí atacando cartazes de outros partidos", diz Diedrichs.

Nada de novo

O comitê eleitoral do Partido Social Democrata (SPD) fica no bairro berlinense Wedding, uma região tradicionalmente operária da cidade. O coordenador de Relações Públicas da facção, Manfred Neuhaus, vê o problema de destruição da propaganda eleitoral como uma questão já conhecida. Para ele, as disputas entre a extrema direita e a esquerda não representam nada de novo nestas eleições.

Neuhaus vê os interventores da propaganda política até mesmo com uma certa simpatia, mesmo sendo, ele próprio, um dos responsáveis pela reparação dos danos causados por eles. "De certa forma, é um efeito psicológico. Se há um rosto olhando para você constantemente, você mora na esquina e tem que ficar olhando para isso todo o tempo, é possível que tenha a tentação de ir até lá para mudar um pouquinho aquela feição", analisa o social-democrata.

Já boa parte dos eleitores parece passar incólume à avalanche de cartazes. "Vou votar em quem eu quero e nenhum cartaz ou outdoor, danificado ou não, vai modificar minha opinião", diz um morador do bairro Wedding.