Iraque
22 de dezembro de 2011Em meio a uma feroz luta de poder entre xiitas e sunitas, Bagdá foi abalada por uma série de ataques. De acordo com o Ministério da Saúde iraquiano, pelo menos 69 pessoas morreram e mais de 160 ficaram feridas na capital nesta quinta-feira (22/12) em mais de dez explosões, aparentemente coordenadas. Líderes iraquianos condenaram a violência. Foi a pior onda de atentados no Iraque desde meados de agosto, quando, num só dia, 74 pessoas foram mortas.
Já no início da semana, a disputa entre o primeiro-ministro xiita, Nuri al-Maliki, e o vice-presidente sunita, Tariq al-Hashimi, se intensificara, aumentando o temor de um ressurgimento da violência por motivos religiosos.
Agora parece que o medo se tornou uma realidade. Os atos ocorreram na hora em que muitos iam para o trabalho, em nove distritos da capital iraquiana, a maioria deles áreas xiitas. Segundo um porta-voz das forças de segurança iraquianas, os alvos foram trabalhadores, escolas e um escritório anticorrupção da administração local, entre outros.
O chefe de governo iraquiano, Nuri al Maliki, pediu união aos cidadãos, afirmando que o momento e os lugares dos ataques denotam o "caráter político" que os autores visam. "Mas os criminosos e seus cúmplices não conseguirão mudar o processo político e escapar de sua punição", complementou. O presidente do Parlamento, Osama al Nujaifi, condenou os ataques, dizendo que eles "ameaçam a unidade nacional", e convocou para a sexta-feira uma reunião de emergência.
Briga religiosa
Pouco depois da retirada das últimas tropas norte-americanas do país, o Iraque passa por uma grave crise política, caracterizada principalmente por diferenças entre xiitas e sunitas. Recentemente, Al Maliki, um membro da maioria xiita, ameaçou demitir todos os ministros sunitas do seu governo, por haverem boicotado as reuniões de gabinete. Anteriormente, a Justiça do país emitira mandado de prisão contra o vice-presidente sunita, Tariq al Hashimi, acusado de comandar atos de terrorismo. Seus guarda-costas supostamente estariam envolvidos em atentados.
O governo iraquiano formou-se há apenas um ano. No fim de semana, após quase nove anos, as últimas tropas dos EUA deixaram o país. Elas invadiram o Iraque em 2003, para derrubar o ditador Saddam Hussein. Já na noite de quarta-feira, a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, se mostrava "extremamente preocupada" com a luta pelo poder no Iraque.
Westerwelle também se disse "profundamente consternado" com a série de ataques. Ele destacou que o povo do Iraque e a comunidade internacional têm "investido muito para avançar na reconstrução do país e no processo de reconciliação social".
Nos EUA, alívio e aprovação
Entre a população americana há uma clara maioria a favor da decisão do presidente Barack Obama de retirar as tropas do país árabe. Em pesquisa realizada em novembro pela emissora NBC e pelo Wall Street Journal, 71% dos entrevistados disseram que acham a decisão certa, enquanto apenas 24% a condenaram.
Cada vez mais norte-americanos chegam à conclusão de que a guerra do Iraque representa um custo humano e financeiro alto demais para o país. Especialistas confirmam essa tendência na opinião pública dos EUA, depois de nove anos em que quase 4,5 mil soldados norte-americanos foram mortos e bilhões de dólares foram gastos para financiar a guerra.
"O sentimento dominante é de alívio", disse à Deutsche Welle Ellen Laipson, presidente do Stimson Center, think tank especializado em segurança global, sediado em Washington. "Acho que as pessoas estão muito felizes que a maioria soldados esteja de volta para casa para o Natal", observou.
Ao mesmo tempo, há grandes preocupações nos EUA quanto ao futuro do Iraque. Várias sondagens recentes mostram que muitos norte-americanos acham que a democracia vai levar tempo para fincar pé no Iraque e temem que o país afunde no caos.
Donald Brand, professor de Ciência Política do Holy Cross College em Worcester, Massachusetts, diz que, devido à situação de incerteza em Bagdá, é difícil julgar definitivamente se a guerra teria valido todos os esforços e custos. "Acredito que se o Iraque caminhar na direção certa, a resposta poderia ser 'sim'. Se, no entanto, conflitos religiosos dividirem o país e o Iraque se tornar uma mera figura de tabuleiro do Irã, então, a resposta tende a ser 'não'."
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Revisão: Augusto Valente