Atos anti-Dilma registram baixa participação
13 de dezembro de 2015Apesar da recente admissão do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, da prisão inédita de um senador brasileiro e do recente contingenciamento de aproximadamente 10 bilhões de reais, a quarta data de protestos anti-Dilma em 2015, realizado neste domingo (13/12), teve a pior adesão popular.
Atos em favor do impeachment da presidente foram registrados em 20 estados, além do Distrito Federal. Em todas as locações, a maioria dos manifestantes vestia roupas com as cores da bandeira brasileira e levavam cartazes pedindo punições a Dilma, Lula e até ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Nas marchas em mais de 60 cidades brasileiras, viu-se muitos bonecos infláveis do "Pixuleco" e da "Dilmabandida", além de manifestantes usando máscaras com o rosto de Dilma e Lula desfigurados como zumbis. E inédito nos protestos deste domingo, principalmente em São Paulo e Brasília, foi a presença de imagens, balões e bonecos gigantescos de um pato amarelo com a frase "não vou pagar o pato", em referência a um manifesto contra o aumento dos impostos e a volta da CPMF.
São Paulo e Brasília, além de Curitiba e Rio de Janeiro, foram os destaques em número de participantes. Na capital paulista a Polícia Militar divulgou a estimativa de aproximadamente 30 mil pessoas – e 36.500 em todo o estado de São Paulo. Em Curitiba, foram registrados dez mil manifestantes, em Brasília sete mil, enquanto no Rio de Janeiro apenas cinco mil pessoas encararam o forte calor em Copacabana. Em todos os casos: menos de um quarto de pessoas registradas nos atos de agosto, os maiores até então.
Em São Paulo, o instituto Datafolha computou 40.300 manifestantes. Já os movimentos organizadores das manifestações, que levaram sete carros de som à avenida Paulista, estimaram números bem mais positivos: Endireita Brasil (50 mil), Movimento Brasil Livre (80 mil), Vem Pra Rua (100 mil) e Revoltados Online (500 mil).
Fundador do PT pede saída de Dilma
Novamente a maior do país, a manifestação na capital paulista contou com discursos de Hélio Bicudo, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e coautor do pedido de impeachment, e do senador José Serra (PSDB). Bicudo acusou os petistas de terem "devastado o país em nome de uma causa espúria". Ele disse que o Brasil não pertence ao PT, a Dilma Rousseff e a Lula, mas "a um povo que quer democracia verdadeira e não um arremedo que o PT quer impor".
Bicudo afirmou ainda que a democracia será alcançada pela Constituição, e que as manobras contábeis da presidente, apelidadas de "pedaladas fiscais", são motivo para afastamento."O povo exige que os parlamentares cumpram o seu dever e façam cumprir a Constituição, afastando a presidente. Nossos corações transbordam com o sentimento de justiça, e na boca do povo há uma só palavra: impeachment".
Serra, por outro lado, afirmou que somente uma mobilização popular "vai tirar o país desta situação". "Perdemos 1,2 milhão de empregos este ano e vamos perder 1,8 milhão no próximo ano", profetizou. O senador evitou falar sobre a participação do PSDB em um eventual governo do vice-presidente Michel Temer. "Agora é hora de falar de impeachment, depois falamos de governos."
Os organizadores dos protestos pró-impeachment se mostraram satisfeitos e culparam o pouco tempo de divulgação pela baixa participação popular. "Acredito que tinham 100 mil pessoas. Tivemos menos tempo de mobilização. Não significa esvaziamento da bandeira junto à população", afirmou o líder do Vem Pra Rua, Rogério Chequer.
Segundo os organizadores, eles já esperavam uma presença menor e alegaram que o evento deste domingo foi apenas um aquecimento para os protestos do ano quem vem. A primeira data já foi escolhida: 13 de março.
Pró-Dilma lembram data da instituição do AI-5
Em Brasília, no gramado em frente ao Congresso Nacional, manifestantes levaram um caixão com imagens de Dilma e bandeiras do PT. Encenando a cremação do governo e do partido, os manifestantes colocaram fogo no caixão.
A data dos protestos deste domingo repercutiu nas redes sociais, principalmente entre os defensores do governo de Dilma, que aproveitaram para traçar paralelos entre as manifestações e a ditadura militar.
Pois foi em 13 de dezembro de 1968 que o Ato Institucional Nº 5, chamado de AI-5, foi instituído. O decreto emitido pelo governo militar brasileiro cassou direitos civis durante a ditadura. Uma "coincidência absolutamente infeliz", disse Kim Kataguiri, um dos líderes do Movimento Brasil Livre.
Mas com a hashtag #NãoVaiTerGolpe, publicações de brasileiros pró-Dilma acusaram os movimentos pró-impeachment de serem antidemocráticos e quererem restaurar uma ditadura no Brasil. Grupos a favor do governo convocaram manifestações em defesa de Dilma para quarta-feira, 16 de dezembro.