Aumenta dependência alemã do gás russo
7 de novembro de 2004A Wintershall, uma subsidiária do grupo alemão BASF, iniciará em breve a construção de poços de perfuração na Sibéria, para extrair gás natural em cooperação com a gigante Gazprom, líder mundial na exploração desse recurso energético. É a primeira vez que uma firma estrangeira recebe autorização para participação da extração de gás natural na Rússia.
Ainda este ano, deverão ser construídas na região de Urengoi as plataformas para as primeiras perfurações, planejadas para 2005. Na região oeste da Sibéria, distante 2500 km de Moscou, encontram-se as maiores reservas de gás do mundo.
A decisão de permitir o acesso de uma empresa estrangeira a um de seus mais valiosos tesouros naturais é uma exceção na política energética de Moscou. Em vez de liberalização, o governo russo aposta numa "renacionalização camuflada" do setor energético, diz Klaus Umbach, da Sociedade Alemã para Política Externa (DGAP). Essa "tendência preocupante" confirmou-se, recentemente, no processo contra o conglomerado Yukos.
Gás natural é assunto do chefe
Na opinião de Friedmann Müller, perito em energia da Fundação Ciência e Política (SWP), a cooperação teuto-russa é uma conseqüência das carências do setor energético russo, "que precisa urgentemente de investimentos estrangeiros". Para modernizá-lo, são necessários mais de 600 bilhões de dólares, calculam especialistas. O país precisa renovar e ampliar sua deteriorada rede de gasodutos, bem como substituir sua tecnologia de fornecimento de gás.
Os altos custos não assustam, visto que está em jogo o futuro do abastecimento energético da Europa, onde, a médio prazo, o gás natural da Rússia deve gradativamente tomar o lugar do carvão e do petróleo. O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, força pessoalmente a cooperação teuto-russa no campo da política energética.
A Alemanha já importa 40% de sua demanda de gás natural da Rússia. A União Européia ainda produz, principalmente na Inglaterra e Holanda, dois terços do gás consumido, mas 60% do um terço importado pelo bloco econômico vem da Rússia.
Negócio arriscado
"A crescente dependência em relação à Rússia é perigosa", adverte Friedmann Müller. Ele lembra que essa advertência também já foi feita pela Comissão Européia, no documento "Rumo a uma estratégia européia de abastecimento seguro de energia", publicado em novembro de 2000. "Os argumentos foram simplesmente ignorados pelos países da UE", critica Müller.
Segundo Umbach, a Rússia poderá aproveitar sua liderança no mercado energético para pressionar a UE, por exemplo, com a ameaça de interromper o fornecimento. Para Moscou, a política energética é um importante instrumento de sua política externa e de segurança. Além disso, o país aposta em altos preços do petróleo e gás, nos próximos anos, para poder atingir suas metas de crescimento econômico.
Müller vê ainda um outro problema: a Europa é o maior mercado importador de gás natural do mundo, com uma demanda que cresce rapidamente. "A Rússia, no entanto, não tem capacidade suficiente para cobrir a demanda européia a longo prazo", diz.
Mais competividade seria melhor
Ele considera preocupante o fato de que a dependência alemã do gás importado tende a aumentar no futuro. Isso se deve, principalmente, a dois fatores: até 2020, deve sobrar pouco das reservas de gás natural do Mar do Norte; além disso, a decisão da Alemanha de desligar todas as suas usinas nucleares até 2020 gera o que Müller chama de "lacuna energética, impossível de ser compensada pelas energias renováveis".
Por isso, tanto Müller quanto Umbach defendem uma "diversificação regionalizada" das importações. Segundo eles, sem dúvida, a Rússia é imporante, mas o abastecimento parcial da rede européia com gás natural de outras regiões (por exemplo, do Norte da África e Irã) quebraria o monopólio russo na Europa e intensificaria a competividade entre os fornecedores.
Na avaliação dos dois peritos, a Ásia Central e a região sul do Cáucaso, com enormes reservas de gás natural no Turcomenistão, Azerbaidjão, Cazaquistão e Usbequistão, oferecem as melhoras perspectivas de futuro. Além de geograficamente mais próximas da Europa, a exploração do gás nessas regiões seria mais em conta.
Segundo Müller, há planos na gaveta para a construção de um gasoduto relativamente barato até a Ásia Central, mas "a Europa e o governo alemão não tomaram as providências necessárias". Ele atribui essa inércia à inflência exercida sobre o governo alemão pela Ruhrgas, uma das maiores companhias energéticas da Alemanha, com participação na Gazprom russa. "Além disso, Schröder não quer provocar arranhões na estreita parceria que mantém com Vladimir Putin", diz.