Críticas contra Israel
1 de junho de 2010Ainda sob efeito do choque causado pelo ataque israelense ao navio que transportava suprimentos para Gaza, o primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, disse nesta terça-feira (01/06) que a relação entre os dois países nunca mais será mesma. Das nove pessoas mortas no confronto ocorrido nesta segunda-feira entre ativistas e soldados da Marinha de Israel, quatro eram cidadãos turcos.
"O comportamento de Israel deveria definitivamente, definitivamente ser punido", disse Erdogan em encontro com parlamentares nesta terça. "Ninguém deveria tentar testar a paciência da Turquia", ameaçou.
Das seis embarcações que transportavam 10 mil toneladas de suprimentos para Gaza, a única invadida por soldados israelenses foi a turca, Mavi Marmara. Mais de 350 cidadãos turcos envolvidos no confronto ainda estão presos em Israel.
Erdogan conclamou a comunidade internacional a dar um "basta" em Israel. Ele defende que as Nações Unidas sustentem a resolução de condenar o país. Foi essa a mensagem que Erdogan transmitiu por telefone para a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e para o primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron.
Pressão de todos os lados
Ban Ki-moon, secretário-geral das Nações Unidas, atribuiu a tragédia ao bloqueio que Israel mantém contra Gaza. O coreano falou por telefone com o ministro israelense da Defesa, Ehud Barak, e com o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, e reiterou o pedido de que o bloqueio à região seja suspenso.
Depois da reunião de emergência que durou 12 horas, o Conselho de Segurança da ONU, em resposta ao incidente, exigiu uma investigação completa sobre o caso. "Levo esse assunto muito a sério; assim que voltar a Nova York, me empenharei imediatamente em discutir as medidas a serem tomadas para que se realize uma investigação abrangente do assunto", declarou Ban Ki-moon em Campala, onde participou de uma conferência.
Reino Unido, França, Rússia e China, membros do Conselho de Segurança da ONU, também pediram que Israel suspenda o bloqueio à Faixa de Gaza. Os Estados Unidos, tradicional aliado de Israel, pediram que o bloqueio pelo menos seja atenuado.
O presidente da União Europeia, Herman Van Rompuy, considera as mortes "injustificáveis" e Catherine Asthon, alta representante para Política Externa da EU, prometeu que se empenhar para que Israel acabe com o bloqueio.
O governo brasileiro emitiu nesta terça-feira um comunicado em que condenou o ataque de Israel contra o comboio de ajuda humanitária à Gaza. "Os trágicos resultados da operação militar israelense denotam, uma vez mais, a necessidade de que seja levantado, imediatamente, o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, com vista a garantir a liberdade de circulação de seus habitantes e o livre acesso de alimentos, remédios e bens de consumo àquela região", diz a nota oficial.
Paz desacreditada
Em Washington, o ministro turco de Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, disse que a ação de Israel prejudicou em grande proporção o processo de paz no Oriente Médio. "Como poderemos acreditar que temos um verdadeiro parceiro interessado na paz, se ele mesmo não respeita os cidadãos de um país amigo?", questionou.
As relações entre Turquia e Israel esfriaram rapidamente desde que o governo de Erdogan declarou apoio aos palestinos no ano passado. "Hoje é o começo de uma nova era. As coisas nunca mais serão as mesmas", disse Tayyip Erdogan nesta terça-feira. "Jamais daremos as costas aos palestinos".
No mundo árabe, a crença de que Israel não esteja interessado na paz também é predominante. Amr Moussa, chefe da Liga Árabe, formada por 22 nações, disse que "as negociações estão condenadas ao fracasso". Segundo o líder, o ataque foi uma "mensagem muito poderosa de que Israel não quer a paz, que o país ainda não está disposto a selar a paz".
Aumenta a tensão
Egito e Jordânia, os únicos dois países árabes que mantêm um tratado de paz com Israel, intimaram seus embaixadores a condenar os ataques desta segunda-feira. Os governos da Síria e Líbia disseram que o incidente poderia levar a uma guerra para além da região.
Com a abertura da fronteira entre Egito e a Faixa de Gaza nesta terça-feira, espera-se que a tensão na região diminua. O governo egípcio, que fechou a passagem para Gaza depois que o Hamas assumiu o controle da região, reabriu as fronteiras para permitir a entrada de ajuda humanitária na região após da tragédia com o comboio de ativistas.
Versão de alemães
Nesta terça-feira, ativistas alemães participantes do comboio de ajuda humanitária a Gaza declararam, em coletiva de imprensa, que não havia pessoas armadas a bordo. Dos alemães participantes da missão, três são políticos e um representante da comunidade palestina na Alemanha.
"Não nos preparamos de forma alguma para lutar. Nem consideramos essa hipótese", disse Norman Paech, ex-parlamentar alemão pelo partido A Esquerda. "Queríamos mostrar que éramos pacíficos", adicionou, dizendo que a câmera fotográfica com que registrou o ataque israelense foi confiscada.
"Nós nos sentimos como se estivéssemos numa guerra, como se estivéssemos sendo sequestrados", desabafou Inge Hoeger, política esquerdista alemã também presente a bordo dos navios que seguiam a Gaza.
NP/afp/rts/dpa
Revisão: Simone Lopes