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Aumento de juros não conterá pressão inflacionária, dizem especialistas

Fernando Caulyt18 de abril de 2013

Copom eleva Selic de 7,25% para 7,50%, em medida defendida por Dilma para conter a alta dos preços. Aumento, o primeiro em quase dois anos, é visto como ação simbólica do governo, que quer se mostrar atento à inflação.

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Foto: Getty Images/AFP

Para conter a alta da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou na quarta-feira (17/04) os juros básicos da economia brasileira de 7,25% para 7,50%. É a primeira vez que o governo aumenta a taxa Selic desde julho de 2011 – quando a passou de 12,25% para 12,50%.

A decisão de elevar a taxa de juros ocorre em um momento de forte pressão dos preços, em que o índice de 6,59% de inflação, medido nos últimos 12 meses pelo IBGE, ultrapassou a meta estabelecida pelo BC – que era de 6,50%. Produtos como tomate, que em 12 meses subiu mais de 120%, contribuíram para elevar a inflação. 

Com a medida, o governo pretende encarecer o crédito para as famílias e espera, com isso, que o consumo diminua – e, como resultado, que os produtos, principalmente os alimentos, fiquem mais baratos. Mas, mesmo assim, analistas acreditam que a pressão inflacionária deverá persistir por mais algum tempo.

"Aumentar a taxa Selic para controlar a inflação é ineficiente. Esse aumento tem um impacto muito pequeno, já que a modalidade de crédito mais usada é o cartão de crédito e o cheque especial. Não é 0,25 ponto a mais ou a menos que vai fazer com que as pessoas deixem de consumir", explicou Samy Dana, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Com o aumento, os custos da produção também devem subir. "Eu não acho uma atitude [a do aumento dos juros] muito assertiva. O problema do Brasil não é a demanda, mas sim a oferta. Aumentar o juros em um momento de fraco crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não é a solução", acrescentou Dana.

Aumento simbólico

Pelo fato de o percentual de aumento ser baixo, é provável, segundo especialistas, que não haja qualquer influência sobre a trajetória do aumento dos preços. O aumento, de acordo com Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), é simbólico para mostrar sinais ao mercado de que o governo está atento à inflação.

"O percentual é muito baixo e não vai ter qualquer repercussão sobre a trajetória do aumento dos preços. O governo não usou de forma concreta a política monetária para debelar um processo inflacionário que está latente e poderá causar muitos danos, principalmente para as classes menos favorecidas", disse Garcia, presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.

Dos oito membros do Copom, seis – inclusive o presidente do Banco Central, Alexandre Antonio Tombini – votaram a favor do aumento. Outros dois membros votaram pela manutenção da taxa em 7,25%.

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O tomate foi um dos vilões do aumento da inflação. O produto aumentou mais de 120% em 12 meses e chegou a custar mais de 10 reais/kg.Foto: DW/L. Schadomsky

"O nível elevado da inflação e a dispersão de aumentos de preços, entre outros fatores, contribuem para que a inflação mostre resistência e ensejam uma resposta da política monetária", disse o Copom em comunicado. "Incertezas internas e, principalmente, externas cercam o cenário prospectivo para a inflação e recomendam que a política monetária seja administrada com cautela".

Efeitos colaterais

Na segunda-feira, dois dias antes do anúncio do aumento da Selic, a presidente Dilma Rousseff já defendia a medida. "Não fazemos concessão à inflação e sempre combatemos e combateremos a inflação, principalmente pelo mal que causa para trabalhadores e empresários. Corrói as rendas. Não abriremos mão desse controle", afirmou.

Os efeitos colaterais da elevação dos juros podem aparecer em breve. Segundo especialistas, a atividade econômica do país pode se reduzir e, assim, influenciar o fechamento do crescimento de 2013 – além de gerar impacto na criação de empregos e no salário dos trabalhadores, que hoje estão em ritmo de alta.

"Subir a taxa de juros neste momento não é conveniente, logo agora que a economia começa a ensaiar a sua decolagem. Isso pode comprometer o crescimento. Acho que na próxima reunião [marcada para 28 e 29 de maio], a taxa deverá subir 0,5 ponto até alcançar 8% ou 8,5%", destaca Celso Grisi, professor de economia da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Uma Selic maior aumenta a rentabilidade dos títulos públicos – e, consequentemente, o reembolso a ser realizado pelo governo federal, que vai ter que pagar um rendimento maior por esses papéis. Outro efeito colateral é a dificuldade dos estados e municípios em realizar o pagamento de suas dívidas.

Para Dana, da FGV, o governo deveria investir realmente nos pontos certos para combater a inflação. "Deveria ser feita uma reforma tributária profunda e investimentos em infraestrutura e educação, para poder fazer o país crescer", conclui.