Queda em investimentos e agropecuária leva PIB a pior desempenho em 3 anos
1 de março de 2013A economia brasileira fechou 2012 com crescimento de 0,9%. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado, divulgado nesta sexta-feira (01/03) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é inferior aos 2,7% de 2011 e aos 7,5% de 2010 – o menor desde 2009, quando houve queda de 0,3%.
Ao longo de 2012, o Banco Central revisou diversas vezes – sempre para baixo – as estimativas de crescimento do país. Por essa razão, o governo federal tentou reverter ao longo do período o fraco desempenho do PIB (a soma das riquezas produzidas pelo país) com uma série de medidas, como a desoneração de tributos para vários setores. Além disso, os juros no patamar histórico de 7,25% e o crédito facilitado para a população não surtiram os efeitos desejados.
"O modelo de crescimento usado pelo governo é totalmente equivocado e, desde 2009, é baseado exclusivamente no endividamento da família brasileira – que aumentou seu volume de compras e, agora, está muito endividada", explicou Manuel Enriquez Garcia, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP) e presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.
A falta de investimentos públicos e privados – 18,1% do PIB em 2012, inferior à taxa de 19,3% registrada no ano anterior – é considerada também um dos fatores responsáveis pelo fraco PIB do ano passado.
"A taxa de investimentos foi muito baixa. Para conseguir crescer 3%, o Brasil precisava investir 21% do PIB", frisou Celso Grisi, economista da Fundação Instituto de Administração (FIA).
Comércio foi destaque
O destaque no balanço geral de 2012 foi o setor de serviços, que cresceu 1,7%. Enquanto agropecuária (-2,3%) e indústria (-0,8%) registraram queda. Desta forma, o valor do PIB fechou 2012 em 4,403 trilhões de reais, sendo que o PIB per capita alcançou 22.402 reais, mantendo-se estável (0,1%) em relação a 2011.
O desempenho da agropecuária foi sofrível em função do baixo preço das commodities no exterior. Já a indústria patinou por falta de investimentos e devido ao baixo desempenho do mercado interno brasileiro. "Apesar do aumento do consumo, ele não conseguiu substituir as exportações de produtos manufaturados e de valor agregado", frisou Grisi.
Os números dos últimos três meses de 2012 mostram que a economia brasileira teve um pequeno avanço em relação ao trimestre anterior e cresceu 0,6%. Entre as atividades econômicas, os serviços tiveram aumento de 1,1%, a indústria teve variação positiva de 0,4%, enquanto a agropecuária registrou queda de 5,2%.
Para governo, crise não bateu na porta dos brasileiros
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, minimizou a importância do fraco desempenho da economia e disse que o país resistiu bem à crise internacional e vai, segundo ele, obter um melhor resultado em 2013. Ele assegurou, ainda, que a política econômica está no rumo certo.
"A maioria dos países registrou (no ano passado) um crescimento fraco ou desaceleração. Para a maioria da população brasileira, 2012 foi um bom ano. A crise internacional não bateu na porta das famílias brasileiras", disse Mantega.
Além disso, ele assegurou que a economia brasileira está em recuperação: "Estamos acelerando a economia de forma gradual, e essa aceleração está se mantendo em 2013, segundo revelam os dados que temos dos primeiros meses deste ano." O ministro estima que a expansão do PIB ficará entre 3% e 4% neste ano.
Mesmo com o baixo crescimento, o ministro acrescentou que os brasileiros conquistaram durante o ano passado de um aumento real de 4% em seus salários e que o país criou 1,3 milhão de novos postos de trabalho.
O crescimento brasileiro foi menor em comparação aos países, por exemplo, que fazem parte do grupo dos Brics – China (7,8%), Índia (5%), Rússia (3,4%) e África do Sul (2,5%). A economia brasileira cresceu menos que Japão (1,9%), Estados Unidos (2,2%), Coreia do Sul (2,2%) e México (3,9%). A Alemanha evoluiu na mesma taxa do Brasil (0,9%).
Recuperação lenta em 2013
Especialistas indicam que o processo de recuperação da economia brasileira será lento em 2013. Para turbinar a economia, o governo pretende atrair mais investimentos estrangeiros para os processos de privatização e concessão de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e, também, nos setores de energia elétrica e óleo e gás. Muitos projetos estão relacionados com os megaeventos Copa do Mundo de 2014 e Jogos Olímpicos de 2016.
Neste programa, no valor total de 200 bilhões de reais, o governo aumentou o índice de remuneração dos capitais externos de 7% para 14% e expandiu os prazos de concessão para o mínimo de 30 anos.
"Com esses investimentos, haverá a retomada da agropecuária e da indústria brasileira. Acredito que será possível crescermos na casa dos 3%", frisou Grisi, da FIA. Já para Garcia, da USP, como o crescimento de 2012 foi baixo, há a possibilidade que haja expansão em torno de 3% em 2013. "Não é nada inviável, já que a base de comparação (ano de 2012) é muito baixa", afirma.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, defendeu que a evolução do PIB confirma a "gradual recuperação" da economia a partir do segundo semestre. Para ele, o resultado permite prever um ritmo de crescimento para 2013 "bem superior" ao observado em 2012.
Autor: Fernando Caulyt
Revisão: Rafael Plaisant Roldão