BCE
29 de outubro de 2011O Banco Central Europeu tem uma incumbência que paira sobre todas as outras: manter a estabilidade do euro. Uma tarefa desempenhada até agora com sucesso, mesmo em tempos de crise financeira e de endividamento. No entanto, a crise da dívida impôs ao Banco novos desafios. Desde que foi decidido, em maio de 2010, que o BCE compraria títulos públicos gregos, a instituição vem sendo duramente criticada. Entre outros, os adversários deste procedimento afirmam que o BCE está extrapolando sua competência.
Gertrud Traud, economista-chefe do Banco Estadual de Hessen e da Turíngia (Helaba) vê a situação de outra forma. "Acho sempre interessante que, quando é o BCE, os dogmáticos abrem a boca. Já o Bank of England e também o Tesouro norte-americano fizeram a mesma coisa durante a crise financeira e todo mundo aplaudiu". No BCE, trabalha-se com dois pesos e duas medidas, aponta Traud.
Compra polêmica de títulos públicos
Embora o Banco tenha anteriormente parado de comprar títulos públicos gregos, portugueses e irlandeses, esse procedimento já foi retomado em agosto último. E desta vez, o BCE adquiriu ainda títulos espanhois e italianos. O presidente do Banco, Jean-Claude Trichet, justificou sua ação ao afirmar que a compra seria uma medida de apoio às já encaminhadas medidas políticos-financeiras tomadas pelo BCE. Hoje, o Banco dispõe de um volume de títulos públicos em torno de 170 bilhões de euros.
A medida foi sinal de obediência prematura, critica Jörg Krämer, economista-chefe do Commerzbank: "Com essa decisão, Trichet aproximou-se da política", diz ele. Krämer não descarta que esta decisão tenha sido tomada com boas intenções. "Mas acho que, sem a decisão do BCE de comprar títulos públicos, os políticos já teriam, nessas alturas, reagido há muito tempo", completa.
Liquidez ilimitada
Esta não é, contudo, a única medida tomada pelo Banco Central Europeu para estabilizar o mercado financeiro. Além disso, o BCE disponibiliza, desde o início da crise financeira, uma liquidez ilimitada aos bancos. E reverte também regularmente essa liquidez ao mercado, quando ela não é mais necessária. Assim, o BCE evita a inflação. Os bancos necessitam com urgência da liquidez adicional, pois, com o acirramento crescente da crise, a confiança entre os próprios bancos diminui, o que faz com que um não empreste mais capital ao outro.
Os bancos temem que seus concorrentes tenham excesso de títulos públicos de países em crise e que, por isso, possam estar em situação de risco. Somente em outubro é que o BCE resolveu fazer de tudo, ampliando claramente suas ofertas de crédito aos bancos com prazo de mais de um ano, ou seja, os bancos podem adquirir liquidez no BCE pagando a taxa básica de juros. Há quem diga que há um exagero nessa medida, mas há também aqueles que continuam achando que isso não é suficiente.
No que diz respeito à política de juros, o Banco Central Europeu continua fazendo uso de boas doses de precaução. Nos últimos meses, o Banco não baixou a taxa de juros mais importante, muito pelo contrário: devido ao desenrolar positivo da conjuntura, no início do ano, o BCE aumentou os juros até julho em dois passos: primeiro até 1% e agora até 1,5%.
Autora: Brigitte Scholtes (sv)
Revisão: Francis França