Banco de dados das "infâncias alemãs"
28 de julho de 2005Vivendo há dez anos na Alemanha, a artista plástica Joanne Moar se sentia incomodada ao ouvir de amigos referências a filmes ou canções infantis dos quais ela nunca tinha ouvido nem de longe falar. Foi daí que surgiu a idéia de criar um banco de dados das "infâncias" passadas no país. Não importando que os depoimentos venham de alemães ou de filhos de migrantes.
Notebook, mesa e cadeira
"Quero saber como meus amigos cresceram e descobrir o que é uma típica infância alemã, o que significa infância para os alemães e a que se associa esta palavra", explica Moar. Para isso, a artista sai pelas ruas de várias cidades de posse de seu notebook, uma mesinha dobrável de madeira, duas cadeiras e um guarda-sol vermelho. E faz perguntas aos passantes sobre suas lembranças da infância.
Até agora, conta Moar, as pessoas têm se mostrado dispostas a puxar o fio da memória. "É necessário fornecer alguns dados pessoais, mas não muitos. O ano de nascimento é importante. Também a região do país onde se viveu, a estrutura da família, o número de irmãos. Com base nessas informações é criado um banco de dados", diz a artista.
Arte conceitual com acesso online
A partir de conversas com pessoas escolhidas aleatoriamente no meio da rua, Moar sistematiza e ordena as respostas que colhe. Na cidade de Iserlohn, o projeto, intitulado Becoming German, chegou a ser exposto numa galeria de arte, onde os registros foram mostrados nas telas de notebooks, colocados sobre mesinhas escolares antigas.
Na parede ao lado, a artista marcou num mapa da Alemanha os próximos lugares que pretende visitar. "As pessoas contam de seus livros infantis preferidos ou das canções que mais gostavam. Esse é quase sempre o começo e é admirável como, a partir daí, as pessoas começam a contar detalhes íntimos de suas vidas", observa a artista.
Álbum coletivo de fotografias
O banco de dados de Moar é, assim, uma espécie de álbum coletivo de fotografias. Formado por lembranças consideravelmente diversas, "mas autênticas", diz a neozelandesa que vive em Colônia.
Para ela, é importante também a presença de relatos de imigrantes que tenham crescido na Alemanha. Em sua busca de registros, Moar encontrou, por exemplo, dois turcos que disseram a ela não terem tido uma "infância alemã", mesmo tendo crescido no país, por terem tido muitas influências da cultura do país de origem de seus pais. O que, para Moar, não importa: "Isso também é uma infância alemã", conclui a artista.