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RDA, uma piada?

dpa (sm)11 de agosto de 2008

Em Berlim, um bar resgata como motivo de decoração o aparato de vigilância do serviço secreto da Alemanha Oriental. Iniciativa criticada como banalização histórica da atuação repressora do Estado socialista.

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Lembranças da RDA e uma urna com as iniciais E.H. (Erich Honecker)Foto: picture-alliance/ dpa

O bar Zur Firma – Der Konspirative Treff (O ponto de encontro conspiratório) promete desconto para os informantes do antigo serviço secreto da Alemanha Oriental. No prato de porcelana fixado à parede, lê-se o lema da Stasi, serviço secreto da Alemanha Oriental: "Juntos em defesa do poder dos operários e camponeses".

Quase 19 após a queda do Muro de Berlim, dois alemães abriram um restaurante na Normannenstrasse, em Berlim, para fazer ressuscitar a Stasi. Fitas de papel numa sacola, simbolizando fichas de arquivo retalhadas, fazem parte da decoração. E por trás do balcão se mira a bandeira da República Democrática Alemã.

"Banalização da gravidade da Stasi"

Stasi Bar
'Venham até nós, senão vamos até vocês!' diz uma placa do restauranteFoto: picture-alliance/ dpa

O nome do bar foi escolhido de caso pensado: entre os alemães orientais, o Ministério de Segurança do Estado, Stasi, era conhecido como "a firma". O fato de o bar da Stasi se localizar justamente na mesma rua em que se situava a sede do serviço secreto provocou polêmica.

As associações de vítimas do serviço secreto da Alemanha socialista reagiram com perplexidade. "Essa banalização da gravidade da Stasi é inconcebível", declarou Theodor Mittrup, da União das Associações de Vítimas do Despotismo Comunista, localizada não muito longe do bar.

A sede da associação fica na antiga central do ministro Erich Mielke, com vista para a nova "firma". As pessoas que foram encarceradas pelo serviço secreto da República Democrática Alemã (RDA) engoliram seco.

Mittrup reclama que as vítimas da Stasi nunca receberiam tanta atenção como a abertura desse bar. A forma de lidar com o passado da RDA estaria se tornando cada vez mais descarada.

O diretor do Memorial para Vítimas da Stasi, em Berlim-Hohenschönhausen, Hubertus Knabe, se mostrou assustado com "tamanha falta de sensibilidade". "O fracasso dos políticos é evidente. As vítimas da ditadura socialista precisam ser protegidas da ridicularização por alguma lei."

Iniciativa de "uma seriedade satírica"

Os donos do bar, Wilfried Gau (60) e Wolfgang Schmelz (53), não se sentem atingidos pelas críticas. "Não é brincadeira, não; isso tudo é de uma seriedade satírica", declarou Gau (60), do Leste.

Gau garante não ter sido um informante da Stasi, mas acha que esse ministério da Alemanha socialista foi injustamente incriminado. "A Stasi não passava de um serviço secreto como o Serviço Federal de Informações (BND) ou o Mossad, de Israel."

Stasi Bar
Willi Gau serve café a uma freguesaFoto: picture-alliance/ dpa

Já Schmerz, sócio de 53 anos e vindo do Oeste, vê a iniciativa mais de uma perspectiva econômica. "Isso aqui não é um ponto de encontro da Stasi. As pessoas da vizinhança freqüentam o bar, bebem cerveja e conversam com toda naturalidade sobre mulher e futebol." Em torno do bairro de Lichtenberg ainda moram antigos funcionários da Stasi.

Os dois sócios afirmam que pretendem enriquecer a oferta turística de Berlim com a sua iniciativa. Ambos se conheceram há anos, desde quando trabalhavam juntos em um call center.

RDA, uma piada?

Ao visitar Berlim, os turistas costumam buscar indícios históricos da divisão da Alemanha. O Muro praticamente desapareceu. Tanto maior o espaço para a banalização da história, algo que não deixa de ser lucrativo. No Checkpoint Charlie, antigo posto de controle de fronteiras na Friedrichstrasse, os comerciantes vendem condecorações e peças de uniformes da RDA há anos.

O Hotel Ostel é decorado com fotos de Honecker, móveis e papéis de parede estampados originais da Alemanha Oriental. Também há passeios turísticos em Trabis, antigos carros do Leste, reformados para essa função. Tudo para veicular um pretenso flair alemão oriental.

"O bar da Stasi corresponde a uma atmosfera em que a RDA só é entendida como piada ou graça", analisa o Prof. Klaus Schroeder, da Universidade Livre de Berlim, onde dirige um grupo de pesquisa sobre o Estado socialista alemão. E acrescenta com sarcasmo: "Só falta os neonazistas copiarem a idéia do bar".

O politólogo observa que "quanto mais tempo se passa, a RDA é vista de forma mais positiva". Um estudo recém-divulgado por ele revelou um assustador desconhecimento histórico sobre a RDA entre escolares do Leste e do Oeste. Schroeder defende maior esclarecimento sobre as amargas realidades da Alemanha Oriental, a fim de impedir que os jovens desvirtuem para a nostalgia do Leste ou para o desinteresse.