Beethovenfest 2012 aposta em originalidade e novos formatos
10 de setembro de 2012"A verdadeira arte tem vontade própria, não se deixa constranger dentro de formas lisonjeiras", anotou Ludwig van Beethoven (1770-1827) num de seus cadernos de conversação, em 1820. O festival que leva seu nome, em sua cidade natal, adotou a frase como ponto de partida para sua edição deste ano.
A Deutsche Welle conversou em Bonn com Ilona Schmiel, diretora-executiva do Beethovenfest desde 2004, pouco antes do início do festival, que vai de 7 de setembro a 7 de outubro de 2012.
Deutsche Welle: O slogan do Beethovenfest Bonn este ano é "Vontade própria", a partir de uma declaração de Ludwig van Beethoven. Como o programa do festival reflete esse conceito?
Ilona Schmiel: Beethoven sempre esteve à frente de seu tempo. Ele não deixava de provocar, chocar, e entrou para a história da música como revolucionário. A época em que vivemos transcorre de forma globalizada, digitalizada, em parte virtual, por vezes até despersonalizada. No entanto, a maior façanha é o desempenho artístico de se expor, ao vivo, aos desafios mais extremos, e de comunicar algo extremamente digno de viver, através de uma mensagem sensorial e emocionalmente tocante.
Acho que no século 21 precisamos mais do que nunca dessa "vontade própria" artística, pois os desempenhos mais elevados só se realizam quando uma pessoa consegue e quer impor seu próprio caminho. A história mostra que os músicos que mantiveram sua própria linha durante toda a vida são, no fim, os mais bem-sucedidos. Mesmo que não necessariamente ainda em vida.
No entanto, a senhora realiza um festival vivo e vivaz, com músicos que ainda se encontram entre nós. Quais desses artistas voluntariosos, que traçam seus próprios caminhos, estão presentes agora no Beethovenfest?
O húngaro András Schiff, por exemplo. Para mim, é sem igual o que ele tem a contar e a interpretar com as 32 sonatas para piano de Beethoven.
Um outro protótipo, no tocante a uma abordagem totalmente própria da execução musical, é o regente letão Andris Nelsons, que abre o festival com a City of Birmingham Symphony Orchestra. Entre os da geração mais jovem, ele é alguém com perspectivas enormes diante de si.
O concerto também será transmitido ao vivo na praça Marktplatz de Bonn. Assim, ainda mais gente poderá ver que Andris Nelsons não só faz bela música, como é também bonito vê-lo reger. Ele parece não ter ossos no corpo...
É verdade. Ele também tem um grande talento para o movimento. Ao vê-lo em ação, tem-se logo a vantagem de cantar ou tocar sob a regência. É energia pura.
Um outro tipo, exatamente tão voluntarioso e original quanto ele, e em plena carreira madura, é Herbert Blomstedt, que conta 85 anos de idade. Por todo o mundo, ele conquistou grandes êxitos, e nos últimos cinco anos adicionou-se um "algo mais" que faz brilhar todo o seu tesouro de experiência. Alegro-me de forma especial, pois é a segunda vez que ele trabalha com a Deutsche Kammerphilharmonie Bremen, "orquestra em residência" do Beethovenfest desde 2004.
De antemão, esses músicos me disseram que adoram e apreciam e, ao mesmo tempo, temem o trabalho com Herbert Blomstedt, e que vai ser realmente duro. A Kammerphilharmonie Bremen, por sua vez, é sinônimo de pura vontade própria. Cada um de seus músicos é igualmente sócio da orquestra. Esse princípio fora do comum também é audível.
Temos ainda um concerto coreográfico, em que será dançado o ciclo de concertos As quatro estações, de Antonio Vivaldi, na interpretação da violinista Midori Seiler e a Akademie für Alte Musik Berlin. Um aspecto bem especial é que a orquestra fica dividida em duas seções, sendo assim integrada na coreografia. Também a solista participa da dança.
O que é capaz de apresentar este, que é talvez o mais importante festival Beethoven do mundo? Haverá, por exemplo, a apresentação cíclica de todas as sonatas para piano e quartetos de cordas do compositor alemão, além de mais um ciclo de sinfonias. Mas desta vez vai-se além da apresentação das obras mais conhecidas do repertório.
Juntamente com a Philharmonia Orchestra London, imaginamos algo bem especial para 2012. Ou seja: integrar os Jogos Olímpicos de Londres e o nosso festival, com os cinco anéis olímpicos representando os cinco continentes. Assim, lado a lado com as sinfonias de Beethoven, se escutarão cinco composições dos cinco cantos do mundo.
A senhora mencionou anteriormente o concerto coreográfico, quais são as outras formas inusitadas de concerto que o festival mostra?
No dia 15 de setembro, nós nos dedicamos ao compositor John Cage. Várias de suas obras serão executadas nos três museus da área de museus de Bonn. Como não se trata só de concertos com lugares fixos para o público sentar ou ficar de pé, é possível "transitar" entre os sons.
Temos também uma incrível banda clássica jovem chamada Sparks, formada por dois flautistas doces, mas que tocam pelo menos 25 instrumentos. E temos, por exemplo, Das Gemüseorchester, uma orquestra de legumes vinda de Viena. Esses artistas mostram que se pode fazer música realmente fantástica usando abobrinhas e repolhos. E – isso é ultraimportante – eles também tocam música do século 21, ou seja, tecno, mas partindo do período clássico.
Por falar em formatos inusitados: uma das orquestras jovens mais fora do comum é a terceira geração da venezuelana Youth Orchestra of Caracas, com 180 jovens e crianças no palco. Quando eles executam a Quarta sinfonia de Tchaikovsky, a sala de concertos parece que vai explodir, de tanta energia.
Entrevista: Rick Fulker (av)
Revisão: Carlos Albuquerque