Parlamento Europeu
23 de janeiro de 2007A Comissão Extraordinária do Parlamento Europeu que investigou as atividades do serviço secreto norte-americano CIA na Europa considera comprovado que o ex-governo alemão, formado por social-democratas e verdes, recusou a libertação do turco nascido na Alemanha Murat Kurnaz, então prisioneiro em Guantánamo.
"De acordo com informações institucionais confidenciais, o governo alemão não aceitou uma oferta que os Estados Unidos fizeram em 2002 de libertar Murat Kurnaz de Guantánamo", consta do relatório final, aprovado nesta terça-feira (23/01) em Bruxelas.
A comissão constata ainda que "os serviços secretos dos EUA e da Alemanha já tinham chegado à conclusão em 2002 de que Kurnaz não tinha ligações com a Al Qaeda ou o Talibã e não constituía uma ameaça terrorista". Além disso, agentes alemães que interrogaram Kurnaz em Guantánamo em 2002 e 2004 negaram ao prisioneiro toda e qualquer assistência.
O relatório foi aprovado por 28 dos 48 deputados que integraram a comissão e será apresentado ao Parlamento Europeu para votação no mês de fevereiro.
Ministro Steinmeier na berlinda
O líder dos social-democratas na comissão, Wolfgang Kreissl-Dörfler, exigiu que o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier – que na época era chefe da Casa Civil em Berlim – se pronuncie o mais rápido possível sobre a questão.
Em sua opinião, Steinmeier não deveria esperar até abril, quando deporá perante a CPI do serviço secreto no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão. "A verdade sempre pode ser dita", afirmou Kreissl-Dörfler.
Numa primeira reação, Steinmeier, que se encontra em Bruxelas para uma reunião, declarou desconhecer a existência de uma proposta oficial dos EUA para a libertação de Kurnaz.
Atividades da CIA na Europa
Os deputados europeus reuniram durante um ano informações sobre as atividades ilegais do serviço secreto norte-americano CIA na Europa. Eles chegaram à conclusão de que, entre fins de 2001 e fins de 2005, a CIA realizou pelo menos 1245 vôos no espaço aéreo europeu, dos quais 336 fizeram escala em aeroportos alemães.
O documento de 30 páginas ocupa-se em detalhes com casos registrados na Itália, Reino Unido, Alemanha, Suécia, Áustria, Espanha, Portugal, Irlanda, Grécia, Chipre, Romênia e Polônia, bem como com os seguintes países não pertencentes à União Européia: Turquia, Macedônia, Bósnia-Herzegóvina e a província do Kosovo.
O capítulo relativo à Alemanha é um dos mais amplos. Inclusive um dos aviões que pousou num aeroporto alemão seguiu viagem em direção à base militar dos EUA em Guantánamo. (lk)