Mito RAF
9 de janeiro de 2008Anúncio
Ulrike Meinhof, uma das ativistas de guerrilha urbana mais temidas na virada da década de 1960/70, foi objeto de inúmeros filmes, documentários, peças, músicas e livros, mas seu retrato muitas vezes foi marcado pela influência familiar. Tanto o ex-marido de Meinhof, Klaus-Heinz Röhl, como sua filha Bettina Röhl escreveram sobre Meinhof e sobre o processo de desintegração da sociedade alemã que se iniciou na primavera de 1968 e levou à formação da Fração do Exército Vermelho (RAF).
Decifrando mitos A biografia de Jutta Ditfurth, lançada em novembro, desafia muitos dos mitos que pairam sobre a transformação de Meinhof de jornalista em terrorista. Nos seis anos em que ficou pesquisando para escrever a biografia, Ditfurth, uma das fundadoras do Partido Verde alemão que posteriormente se afastou da política, descobriu material até então inédito, inclusive documentos guardados em arquivos fora da Alemanha. "Ulrike Meinhof era muito mais interessante, com uma personalidade muito mais multifacetada do que eu pensava", declarou Ditfurth à DW-RADIO. "Era uma mulher que teria tido infinitas oportunidades se tivesse tido a sorte de ter crescido fora da Alemanha." A biografia também abarca a história da Alemanha Ocidental no pós-guerra e o clima politicamente carregado dos anos 1960 e 1970. Ditfurth analisa condições sociais da época que costumam ser obliteradas, como a violência por parte do Estado, a tendenciosidade dos tribunais alemães, a rigidez das leis e as terríveis condições dos prisioneiros políticos que lideraram a RAF, inicialmente conhecida como Grupo Baader-Meinhof, numa época em que a democracia alemã ocidental recém florescia. Contaminada por terrorismo? A biografia é cronológica e em geral se abstém de comentários, mas os críticos acham que ela mostra somente um lado da história, mesmo que as informações usadas sejam verídicas. Até a filha de Meinhof, Bettina Röhl, qualificou a mais recente biografia escrita sobre sua mãe como "uma bobagem venenosa e contaminada por terrorismo". Ditfurth admite que o livro seja politicamente tendencioso, mas alega que há uma grande diferença entre escrever de uma perspectiva esquerdista e endossar o terrorismo anárquico. "Sou uma esquerdista de outra geração e a RAF realmente não era comigo", afirmou ela. "Sempre deixei claro esse limite e sempre critiquei severamente seus atos terroristas." Em vez de auxiliarem a autora, suas credenciais políticas como ex-líder da ala esquerdista do Partido Verde e sua oposição bem documentada à Fração do Exército Vermelho acabaram tornando o trabalho de pesquisa ainda mais difícil. "Eu era considerada outsider e tratada por pessoas próximas à RAF com grande ceticismo", explicou ela. "Mas fiz o que pude para descobrir tudo o que sempre quis saber." Apesar de Ditfurth não tentar desculpar Meinhof e considerar sua trajetória errada, ela também diz que acha tudo isso completamente compreensível.Ditfurth não é a primeira a ser acusada de passar do limite entre escrever sobre a RAF e apoiar a RAF. Em 2002, o filme Baader, de Christoph Roth, também foi criticado por supostamente glamourizar o líder de extrema esquerda. (sjr / sm)
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