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Cooperação energética

5 de julho de 2007

Cooperação nas áreas de energias alternativas e segurança energética inclui etanol e biodiesel. Conferência em Bruxelas discute dilema entre o aumento da demanda de biocombustíveis e a produção de alimentos.

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Produção de colza para biodiesel aumenta na EuropaFoto: AP

O Brasil e a União Européia (UE) assinaram nesta quinta-feira (05/07), em Bruxelas, um acordo de cooperação para desenvolver energias alternativas e garantir a segurança energética, informou o Ministério brasileiro das Relações Exteriores.

Segundo o Itamaraty, o acordo, semelhante aos que a UE já mantém com a Argélia e Ucrânia e está negociando com a Rússia, inclui um intercâmbio de experiências na produção de etanol e biodiesel, mas não prevê concretamente a venda de biocombustível brasileiro à UE.

O acordo foi assinado durante a visita do presidente Luiz Inácio Inácio Lula da Silva à sede da Comissão Européia, onde ele participou de uma Conferência Internacional sobre Biocombustíveis.

"Não estamos aqui para escolher entre comida e energia", disse Lula, pedindo aos países desenvolvidos que acabem com as distorções no comércio mundial que impedem a exportação de produtos agrícolas pelos países em desenvolvimento. "Reduzindo as desigualdades, evitamos potenciais conflitos", afirmou.

Lula Da Silva International Conference on Biofuels in Brussel
Lula discursou na Conferência Internacional sobre BiocombustíveisFoto: AP

O presidente brasileiro também tentou tranqüilizar os europeus quanto às dúvidas cada vez mais freqüentes no exterior em relação ao balanço social e ambiental do etanol. Ele disse que o Brasil está desenvolvendo um programa de certificação para mostrar que toda cadeia de produção dos biocombustíveis no país respeita critérios ambientais, sociais e trabalhistas.

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, defendeu a aposta nos biocombustíveis como solução para a segurança energética e para o problema do aquecimento global.

O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, advertiu que a União Européia não deve permitir que a proteção do clima nos países industrializados se transforme numa catástrofe ambiental nos países em desenvolvimento. O crescente uso de combustíveis verdes não deve, por exemplo, causar mais desmatamento de florestas tropicais, disse.

Aumento dos preços de alimentos

De acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (04/07) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a corrida mundial aos biocombustíveis pode causar uma disparada dos preços dos produtos agrícolas. Os preços dos cereais e dos laticínios podem aumentar entre 20% e 50% nos próximos dez anos, prevê o estudo.

Pelos cálculos da OCDE e da FAO, até 2016 a produção de etanol e biodiesel deve dobrar tanto na União Européia quanto nos EUA, no Brasil e na China. A produção de etanol no Brasil deve atingir 44 bilhões de litros em 2016, ou 145% a mais que em 2006.

Os peritos estimam que a produção de oleoginosas na UE, especialmente de colza, deve aumentar de 10 milhões de toneladas para 21 milhões de toneladas ao ano na próxima década. Os países da UE decidiram em março deste ano aumentar para 10% até 2020 a participação dos biocombustíveis no consumo total de combustíveis.

Ambientalistas preocupados

Zuckerrohrplantage
Canaviais em vez horticultura?Foto: Geraldo Hoffmann

O aumento da demanda mundial de biocombustíveis gera críticas de ambientalistas. "Grande parte deles não é produzida de forma sustentável e, por isso, não pode ser vista como parte da solução de problemas ambientais", afirmou Frauke Thies, especialista em energias renováveis do Greenpeace na Europa.

Thies disse à agência alemã de notícias DPA que o Greenpeace acompanha com preocupação a produção de etanol no Brasil. "O plantio de cana-de-açúcar empurra a pecuária do sul para o norte e isso ameaça a Floresta Amazônica", disse.

O importante, segundo Thies, é que a produção de biocombustíveis não destrua ecossistemas naturais ou aumente as emissões de gases do efeito estufa e evite a escassez de alimentos. "Melhor do que o uso de energias renováveis seria reduzir o consumo de energia", disse.

Problema da fome

Para o diretor do Departamento de Recursos Naturais e Meio Ambiente da Fao, o alemão Alexander Müller, o boom dos biocombustíveis representa um dilema. "Quem fala de biocombustíveis terá de explicar como se pode alimentar 850 milhões de pessoas que passam fome hoje e amanhã e mais 3 bilhões no futuro. Precisamos de uma estratégia para impedir que o abastecimento de energia do rico Norte se transforme em mais um problema de alimentação no pobre Sul", disse ao jornal alemão Die Tageszeitung.

Na última terça-feira, o presidente da Associação dos Agricultores Alemães, Gerd Sonnleitner, pediu à UE que libere o uso de áreas agrícolas abandonadas nos últimos anos para o plantio de cereais e milho destinados à produção de biogás. Ele defendeu também um bloqueio à importação de biodiesel barato, produzido a um alto custo ambiental fora da União Européia

O comissário de Energia da UE, Andris Piebalgs, rejeitou essa proposta na Conferência de Bruxelas, nesta quinta-feira. Segundo ele, tecnicamente seria possível atingir a meta de 10% de bicombustíveis até 2020 com produção própria da UE sem um grande aumento de preços.

"Mas, diante da regras do comércio internacional, esse não é um caminho viável. A UE prefere uma expansão do comércio mundial de biocombustíveis e de suas matérias-primas em vez de levantar barreiras desnecessárias", afirmou. (gh)