Brasil não sofreu impactos diretos com 11 de setembro
11 de setembro de 2006Os especialistas entrevistados pela DW-WORLD afirmam que o Brasil não foi seriamente afetado pelos atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. A despeito das conseqüências devastadoras para a economia mundial e da implantação de medidas de segurança mais severas em aeroportos, o país não sentiu tanto o golpe como os norte-americanos ou os europeus.
"O Brasil é um país onde as atividades de grupos extremistas ou radicais não têm uma relevância crítica", disse o embaixador brasileiro na Alemanha, Luiz Felipe de Seixas Corrêa. Ele destacou que a política externa adotada pelo Itamaraty em relação ao conflito árabe-israelense é muito equilibrada e por isso "não parece ser capaz de criar reações que poderiam potencialmente dar origem a ações terroristas contra o Brasil".
O embaixador ressaltou que os ataques de 11 de setembro e suas repercussões também fizeram com que o governo brasileiro – com os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva – intensificasse os esforços diplomáticos no sentido de encontrar soluções pacíficas para problemas internacionais.
"Nós imediatamente condenamos os ataques de 11 de setembro, mas o Brasil também condenou a invasão norte-americana do Iraque em 2003. Reiteramos nossa posição contrária a qualquer ação militar não autorizada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas", observou.
Convivência pacífica
O sociólogo Onofre dos Santos Filho, professor do Departamento de Relações Internacionais da PUC-Minas, acrescenta que o fato de não haver xenofobia no Brasil faz com que o país não seja objeto da atenção de organizações extremistas. "As comunidades de origem árabe convivem normalmente e em harmonia com os brasileiros, sem qualquer discriminação ou segregação."
O professor observa, no entanto, que os ataques de 11 de setembro e seus desdobramentos causaram algumas mudanças no comportamento da população brasileira. Segundo ele, o sentimento antiamericano, especialmente após as ações militares lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque depois dos ataques terroristas, cresceu de forma expressiva.
Uma pesquisa realizada pelo instituto Ibope alguns meses após os ataques confirma a posição do docente, mostrando que mais de 80% dos brasileiros se mostraram contrários à "guerra contra o terror" levada a cabo pelos norte-americanos.
Outra reação apontada por Santos Filho foi uma aumento do interesse do brasileiro pela região do Oriente Médio. "Uma campanha recente realizada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para arrecadar fundos e doações para as vítimas libanesas dos ataques israelenses foi bem recebida no país. Anteriormente isso só acontecia no Brasil entre a comunidade árabe", disse.
Jean Charles de Menezes
O embaixador brasileiro na Alemanha também mencionou a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes como outra conseqüência indireta dos ataques terroristas. Menezes foi tomado erroneamente como um terrorista por agentes da Polícia Metropolitana de Londres e levou sete tiros na cabeça dentro de uma estação de metrô na capital inglesa, em julho de 2005.
"Esse rapaz, que ganhava a vida honestamente na Inglaterra, foi vítima de uma espécie de paranóia que tomou conta dos serviços de segurança dos países que sofreram com o terrorismo e estão compreensivelmente preocupados com esse problema", disse Seixas Corrêa.
O diplomata salientou, no entanto, que nos Estados Unidos e em muitos países europeus essa "espécie de paranóia" pode fazer com que qualquer pessoa que não tenha cabelos loiros e olhos azuis seja vista como um suspeito. Isso pode afetar, segundo ele, muitos brasileiros que moram ou viajam por outros países, uma vez que a maior parte da população do Brasil não é branca.