Os EUA cinco anos após o 11 de setembro
5 de setembro de 2006Foram os primeiros ataques terroristas em solo norte-americano. O seqüestro e a queda de quatro aviões de passageiros e a morte de quase três mil pessoas estremeceram os Estados Unidos da América, embora pouco tenha mudado o dia-a-dia das pessoas que aí vivem, afirma David Altheide, sociólogo da Universidade do Arizona.
"Os norte-americanos não modificaram realmente seu cotidiano. Eles simplesmente prestam mais atenção e observam com mais cuidado as pessoas a seu redor e se tornaram mais precavidos em relação a criminosos e imigrantes", diz Altheide. Hoje, segundo o sociólogo, os norte-americanos nutrem uma desconfiança maior em relação a pessoas de outras religiões ou etnias.
Pouca reflexão
O Departamento de Defesa Nacional, criado especialmente depois dos atentados de 11 de setembro, aconselha os cidadãos norte-americanos a tomar mais cuidado e prestar mais atenção em possíveis perigos, estejam eles em casa, no trabalho ou em viagens. Uma mudança definitiva na forma de comportamento, comparando-se ao modo de vida no país há seis anos.
Entretanto, apenas quando os norte-americanos adentram os aeroportos e suas tesourinhas de unha ou gel de cabelo são confiscados como "armas potenciais" é que surge neles a consciência de que seu mundo realmente mudou depois do 11 de setembro.
Mas mesmo isso já se tornou rotina. Pouco depois dos ataques, muitos norte-americanos começaram a ter medo de viajar de avião. Algunas semanas mais tarde, contudo, a situação já havia voltado à normalidade, aponta uma pesquisa de opinião realizada em 2002.
Longe das manchetes
Cinco anos depois dos atentados terroristas, o cotidiano norte-americano caracteriza-se por uma serenidade que não se deixa abalar pelos alertas oficiais dos departamentos públicos.
"Nos três anos que sucederam ao 11 de setembro, a regularidade dos alertas em relação a possíveis atentados terroristas fez com que os norte-americanos se tornassem cada vez menos apreensivos quando confrontados com informações sobre a probabilidade de futuros ataques", diz Robb Willer, da Universidade de Berkeley.
Tema perde importância
Quanto mais tempo passou depois do desmoronamento das torres gêmeas, mais outros assuntos foram afastando "o combate ao terrorismo" das manchetes dos jornais, observa Mathieu Deflem, da Universidade da Califórnia.
Em fins de 2001 e início de 2002, algumas pesquisas mostraram que, para os norte-americanos, temas como emprego, economia e saúde eram mais importantes que terrorismo e segurança.
Em uma enquete realizada em junho de 2006, por exemplo, 24% dos norte-americanos diziam-se convencidos de que a guerra no Iraque era o tema mais importante do momento, enquanto o assunto "terrorismo" ocupava o maior grau de importância para apenas 8% dos entrevistados, ocupando a sexta posição no ranking de temas primordiais para a população em geral.
Mais encouraçados que nunca
Apesar disso, muitos especialistas acreditam que o choque frente à queda das torres gêmeas em Nova York "se tornou parte da psique norte-americana, mesmo que os norte-americanos se neguem a moldar suas vidas em função de ameaças, com o objetivo de evitar que os terroristas se vejam como vencedores", afirma David Schanzer, diretor do Centro para Terrorismo e Segurança Nacional.
Embora eles se neguem a modificar suas vidas, tornou-se comum ter a sensação de que "o mundo é agora mais perigoso", afirma Altheide. Segundo o sociólogo, cada vez mais norte-americanos optam por soluções individuais de proteção contra a criminalidade e o terrorismo.
"Eles vivem mais encouraçados do que nunca. Moram em bairros tendencialmente protegidos, defendem o uso de câmeras de vigilância, serviços privados de segurança e controle de drogas. Andam com carros blindados e portam armas", aponta Altheide.
Perigo global
Também os atentados em Madri, Londres e outros lugares contribuíram para acentuar a sensação de insegurança dos norte-americanos e mudaram a perspectiva da população em relação ao terrorismo, que passou a não ser mais visto como um ataque direto à cultura do país, mas como um perigo global, acredita Deflem.
"De forma geral, os norte-americanos só refletem sobre seu próprio mundo, mas o 11 de setembro mudou isso. Através da guerra no Iraque e dos atentados a bomba em Madri e no Reino Unido, os norte-americanos perceberam que o problema do terrorismo não vai simplesmente desaparecer. Por isso deixaram de acreditar em uma solução única para o problema."