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O "efeito Bin Laden" para a mídia árabe

Loay Mudhoon (sv)21 de agosto de 2006

Especialistas árabes discutem a convite da Deutsche Welle os efeitos do 11 de setembro para a política de informação de seus países e apontam a reviravolta provocada pelos atentados na mídia árabe.

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Sede da Al Jazira em Ramallah: poder da emissora cresceu depois do 11 de setembroFoto: AP

O 11 de setembro foi um complexo desafio para a mídia árabe: se por um lado, os jornalistas de países árabes ficaram tão supresos e chocados como todo o resto da mídia internacional, por outro lados se viram confrontados com o fato de que os autores dos atentados eram cidadãos árabes.

Em um debate realizado na sede da Deutsche Welle em Bonn, Khaled Hroub, diretor do Projeto Mídia Árabe em Cambridge, descreveu da seguinte forma as primeiras reações aos ataques: "No primeiro momento, foi possível observar na mídia árabe um certo sentimento espontâneo de vingança, de espírito mesquinho, o que certamente foi espelhado nas reportagens de alguns veículos. Porém, não demorou muito até que vozes de bom senso ecoassem".

Chance perdida

O especialista em mídia e apresentador da emissora árabe de televisão Al Jazira, conhecida como o mais importante "partido árabe", recorda o que chama de "chance perdida" de aproximação entre o "Ocidente" e o "mundo árabe" após o choque desencadeado pelo 11 de setembro.

"A política norte-americana de confronto não deu praticamente nenhuma chance às elites árabes para que formulassem uma posição fundada e moderada em relação a este choque. Muitos árabes passaram a se sentir, de repente, sob uma suspeita generalizada de terrorismo. O mero dualismo do presidente norte-americano, o seu 'nós contra vocês', empurrou forças moderadas rumo à posição de linha-dura. Aconteceu uma coalizão de fundamentalismos", observa Hroub.

Boom no setor e inovação tecnológica

A Al Jazira é tida como a menos controlada de todas as emissoras árabes. A segunda emissora mais conceituada nos países árabes, a Al Arabia, sediada em Dubai, é obrigada a respeitar limites rígidos no que diz respeito à informação sobre governos politicamente próximos à Arábia Saudita, ou seja, pró-EUA.

"O 11 de setembro chegou mesmo a revolucionar a mídia árabe, nem sempre em sentido positivo. Desde então, as agências de notícias e jornais passam por um verdadeiro boom. Também em termos de inovação tecnológica houve uma mudança nos padrões", comenta Nakhle El-Hage, editor-chefe da Al Arabia.

Ausência de democracia

DW Dialog der Welt Blick nach Westen
Olhar para o Ocidente: evento na DW discute efeitos do 11 de setembro para a mídia árabeFoto: DW

Uma avaliação consensual e unânime do papel desempenhado pela mídia árabe é tarefa quase impossível de ser executada, acreditam os especialistas que debateram a convite da Deutsche Welle.

"O trabalho dos órgãos de imprensa nessa região em crise está imensamente interligado aos acontecimentos políticos. Para todo jornalista, é muito difícil libertar-se do peso da política e da ideologia dominante. É difícil criar mídias livres em uma zona isenta de democracia", diz Hroub.

Para o especialista, "os atentados do 11 de setembro em Nova York e Washington quebraram o domínio ocidental no cenário da mídia. Hoje, o Oriente Médio, como principal produtor de notícias sobre a região, fornece informaçoes à imprensa interncaional".

Interesse crescente

Quanto às relações entre o mundo árabe e o "Ocidente", o jornalista Nakhle El-Hage acredita que há hoje um interesse cada vez maior de espectadores árabes em relação aos países ocidentais.

"Desde esses acontecimentos terríveis, nossos artigos sobre temas ocidentais têm passado por um verdadeiro boom. Nossos telespectadores costumam se manifestar após os programas para perguntar sobre a opinião ocidental a respeito de temas relacionados aos dois espaços culturais. Isso é o que eu chamo de efeito Bin Laden", explica o jornalista.

Pontos de vista comuns

Em um ponto pelo menos, os representantes da mídia árabe reunidos em Bonn concordam: em função da política norte-americana para a região, alguns órgãos de mídia se tornaram verdadeiros porta-vozes dos opositores a essa política.

O que, em si, não seria de todo mal. O risco é que os problemas internos nos países árabes sejam colocados de lado e a mídia acabe perdendo, em parte, sua função crítica e informativa.

O estabelecimento de regras éticas claras e diretrizes comuns é outro ponto tido como necessário pelos vários representantes reunidos em Bonn.

Desequilíbrio entre os dois lados

Porém, "apesar das críticas justas ao trabalho de alguns órgãos de imprensa árabes", como salienta Hroub, não se deve esquecer que "eles se encontram em uma fase primária de desenvolvimento e estão aprendendo ao fazer".

Isso sem contar que a mídia árabe "dá mais espaço a vozes ocidentais que o inverso. Talvez por isso o cidadão árabe saiba mais sobre o Ocidente do que o ocidental sobre o mundo árabe", conclui Hroub.