Brasil se inspira na Alemanha para impulsionar inovação na indústria
7 de maio de 2013Quando David Carlos Domingos chegou à Alemanha para fazer seu mestrado, em 2005, ele não imaginava que ajudaria o Brasil a implantar a receita alemã de sucesso que garante o caráter inovador do país. Hoje, como pesquisador do Instituto Fraunhofer em Berlim, o engenheiro mecânico de 31 anos é a principal peça para fazer dar certo em seu país de origem a engrenagem que funciona tão bem entre os alemães. "A Alemanha trabalha com muita pesquisa aplicada para a indústria e inovação. E esse modelo queremos desenvolver no Brasil."
O Brasil, com seus quase 200 milhões de habitantes espalhados por 8,5 milhões de quilômetros quadrados, depende do agronegócio. O país é o maior fornecedor mundial de carne, soja e café. A Alemanha tem 81 milhões de habitantes e um território 23 vezes menor que o Brasil.
Por décadas, os alemães lideraram o ranking mundial de exportação graças ao comércio de máquinas pesadas e produtos químicos. "É um país que exporta valor agregado, e não commodities, como o Brasil. E o grande segredo é essa junção entre universidade, pesquisa aplicada e indústria", completa David.
Para mudar um pouco esse perfil, o governo brasileiro foi buscar inspiração na Alemanha e decidiu construir 23 institutos de inovação espalhados pelo país. Desde o Amazonas, que ganhará um centro de microeletrônica, até o Rio Grande do Sul, que será sede do instituto de polímeros.
Diminuir o abismo
A iniciativa é do Movimento Empresarial para Inovação, o MEI, formado pelas 50 maiores empresas brasileiras. A ideia é montar institutos de pesquisa que atendam à demanda industrial nacional. Para isso, uma parceria com o instituto Fraunhofer foi assinada no ano passado: o órgão alemão vai trabalhar no acompanhamento, certificação e avaliação do trabalho dos brasileiros.
As pequenas e médias empresas precisam muito desse suporte, avalia o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil. Pelo acordo, as companhias poderão apresentar suas demandas aos institutos credenciados, que terão a missão de criar soluções. O novo projeto deve diminuir o abismo entre os laboratórios das universidades e a linha de produção das indústrias.
Na maior parte dos casos, as universidades no Brasil fazem pesquisa básica, que não têm aplicação imediata no mercado. E as empresas, a maioria multinacionais, não têm interesse em trabalhar com as universidades no país e desenvolver produtos no Brasil. "Queremos fechar esse abismo. Pegar a pesquisa feita na academia e transferi-la para a indústria e, assim, suprir a necessidade que a indústria tem para inovação tecnológica", comenta David.
Para cumprir o objetivo, o governo vai investir 1,9 bilhão de reais. A maior parte do dinheiro irá para a modernização e ampliação dos institutos que serão pólo de pesquisa. A estrutura do Senai, escola profissionalizante mantida pela Confederação Nacional das Indústrias, será usada como base dos novos centros.
Do café para a pesquisa de ponta
O Fraunhofer reúne 60 centros de pesquisa em todo o mundo. Alguns deles já desenvolvem projetos específicos no Brasil, como nos setores calçadista, têxtil e automotivo. Na Alemanha, a instituição está envolvida nos processos mais importantes da indústria alemã na área da tecnologia.
O governo brasileiro admite que, no Brasil, o setor privado ainda inova pouco. A expectativa é que a parceria com o Fraunhofer estimule ainda o registro de patentes e facilite a transferência do conhecimento entre as empresas.
Segundo o planejado, os novos centros de pesquisa e inovação no Brasil terão oito anos para se tornarem sustentáveis. Nesse tempo, eles terão que retornar o investimento feito e com projetos sólidos que ajudem a indústria a se modernizar. A partir de então, o Brasil poderá ser descrito também por sua capacidade tecnológica, espera David. "O Brasil está crescendo agora, mas devido ao setor primário de commodities. No futuro, a gente espera que seja pelo fato de estarmos inovando e agregando valor aos nossos produtos, às nossas mercadorias."