Brasileiro planejou ataque a Cristina Kirchner, diz juíza
8 de setembro de 2022A tentativa de homicídio contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, foi produto de um "planejamento e acordo prévio" entre o autor da ação e sua namorada, segundo a Justiça da Argentina. A informação foi divulgada pela imprensa local nesta quarta-feira (07/09), baseada em uma acusação preliminar redigida pela juíza Maria Eugenia Capuchetti.
O episódio ocorreu na quinta-feira da semana passada nas proximidades da residência de Kirchner.
O autor da tentativa de assassinato é Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais que vive na Argentina desde 1993. Ele tentou atirar duas vezes contra Kirchner, mas a arma não disparou, apesar de estar carregada com cinco balas.
Ele e a namorada, Brenda Uliarte, de 23 anos, estão presos. De acordo com o texto da juíza, divulgado por meios de comunicação e também pela agência oficial Télam, ambos são acusados de tentativa de assassinato e foram indiciados por "tentarem matar Cristina Kirchner, contando para isso com planejamento e acordo prévio".
Montiel foi preso no local do atentado, pouco depois de ter tentado disparar a pistola de calibre 32, que ambos não teriam autorização para portar. Ele não admitiu às autoridades suas motivações e se negou a responder perguntas sobre o crime.
Já Uliarte foi detida no domingo à noite em uma estação de trem em Buenos Aires. Depois do episódio, em entrevistas para canais de televisão argentinos, ela disse que não se encontrava com Montiel há dois dias. Mas, conforme a Justiça, câmeras de segurança flagraram ambos no local da ação.
No indiciamento divulgado pela mídia argentina, consta que Uliarte "estava presente nas imediações do local, onde chegaram juntos, e [...] que eles estavam de posse da arma de fogo, que foi apreendida com munição, [...] pelo menos desde 5 de agosto".
Em buscas realizadas pela Polícia Federal na residência de Montiel, na cidade de San Martín, província de Buenos Aires, foram apreendidos cerca de 100 projéteis de calibre 9mm, um telefone celular e um computador portátil.
Suspeitas de ligação com grupos radicais
Emissoras de televisão captaram as imagens de quando Cristina Kirchner, que presidiu a Argentina entre 2007 e 2015, deixou seu carro, no bairro da Recoleta, rodeada por uma multidão de apoiadores. Em certo momento, ela abaixa a cabeça, e alguém lhe aponta uma arma.
Em março de 2021, Andrés Montiel foi detido por portar uma faca de 35 centímetros no bairro La Paternal, em Buenos Aires, onde vive. Na época, conforme o jornal Clarín, o brasileiro afirmou que usava o objeto para se defender. Mesmo assim, foi autuado por porte de arma. O jornal também afirmou que Montiel atuava como motorista de aplicativo.
De acordo com o jornal La Nación, o suspeito seguia diversos perfis ligados a grupos radicais e de ódio, assim como páginas de "ordens maçônicas", de "comunismo satânico" e de ciências ocultas. As redes sociais do brasileiro foram deletadas durante a madrugada posterior ao ataque a Kirchner.
De acordo com informações da Polícia Federal da Argentina à imprensa, Montiel portava uma pistola Bersa 380, calibre 32, de fabricação argentina, carregada com cinco balas.
Manifestações de apoio a Cristina Kirchner
Depois da meia-noite de 1º de setembro, o presidente argentino, Alberto Fernández, falou em rede nacional e expressou "forte repúdio" ao incidente. Além disso, decretou um feriado nacional para o dia seguinte.
Ele classificou o evento como o mais grave "desde que recuperamos nossa democracia". Segundo fontes próximas, Fernández teria telefonado para Cristina logo após o incidente.
Líderes mundiais e latino-americanos também repudiaram o episódio.
No Twitter, o ex-presidente argentino e opositor Mauricio Macri, escreveu: "Meu repúdio absoluto ao ataque sofrido por Cristina Kirchner, que felizmente não teve consequências para a vice-presidente. Esse fato gravíssimo exige um esclarecimento imediato e profundo por parte da Justiça e das forças de segurança".
Manifestações pró e contra Cristina Kirchner ocorreram nas ruas da Argentina nos dias seguintes à tentativa de assassinato.
Protestos já vinham ocorrendo no país principalmente após o dia 22 de agosto, quando o promotor Diego Luciani pediu 12 anos de prisão para Kirchner, acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado quando era presidente.
Desde então, grupos a favor e contra a vice-presidente têm se manifestado principalmente nas proximidades da residência de Kirchner, no bairro Recoleta.
gb/md (AFP, Lusa, ots)