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Afeganistão

26 de janeiro de 2012

Limite máximo de soldados alemães presentes no Afeganistão caiu de 5.350 para 4.900. Decisão marca o início de uma redução gradual até o completo fim da missão, previsto para o final de 2014.

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Bundeswehr permanece no país até 2014Foto: picture-alliance/dpa

Uma coisa é certa: até o fim de 2014, as tropas internacionais deverão se retirar definitivamente do Afeganistão. Por isso também as Forças Armadas Alemãs reduzem o limite máximo de seu contingente no país, de 5.350 soldados para 4.900. A prorrogação do mandato das tropas, que o Parlamento alemão aprovou nesta quinta-feira (26/01), vai valer até janeiro de 2013.

O deputado Johannes Pflug, porta-voz da "Força-Tarefa Afeganistão/Paquistão" da bancada social-democrata do Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), disse que a presença de soldados alemães no país dificilmente chegará ao fim até lá.

"Queremos que nossa tropas de combate deixem o Afeganistão até 2013, 2014. Mas parto do princípio de que serão necessárias ainda pelo menos mais duas prorrogações de mandato", prevê Pflug. A meta do governo alemão é reduzir o contingente de soldados no Afeganistão para 4.400 em janeiro de 2013. A viabilidade disso vai depender da evolução das condições de segurança no país.

Formação das forças afegãs de segurança

A missão alemã no Afeganistão tem prioridades claras, definidas no plano de retirada da comunidade internacional do país até 2014. A Bundeswehr deverá cuidar, no tempo que ainda resta, sobretudo da formação das forças afegãs de segurança, na tentativa de limitar ao máximo o leque de atuação dos talibãs. A Otan pretende treinar um total de 350 mil policiais e soldados afegãos.

Johannes Pflug Auswärtigen Ausschuss
Johannes Pflug, porta-voz da 'Força-Tarefa Afeganistão/Paquistão'Foto: Deutscher Bundestag/Lichtblick/Achim Melde

Os problemas inerentes a essa decisão ficaram recentemente claros: quatro soldados franceses foram mortos por um militar afegão na sexta-feira passada. Segundo o jornal The New York Times, entre maio de 2007 e maio de 2011, 58 soldados das forças internacionais de segurança foram mortos por integrantes das forças afegãs de segurança.

Mas a formação dos militares afegãos é apenas um lado da moeda. Os soldados também querem ser pagos. E os números mostram o quanto as Forças Armadas do país são dependentes dos recursos financeiros e do apoio do Ocidente: para o treinamento de soldados, o Afeganistão receberá somente em 2012 um total de 8 bilhões de euros. A partir de 2014, estima-se que os custos com as Forças Armadas serão de pelo menos 6 bilhões de euros por ano.

Se os EUA e os outros países financiadores reduzirem, como planejado, suas contribuições, pode-se chegar a uma situação na qual bem mais de 100 mil integrantes das forças de segurança estarão desempregadas, observa Pflug. "Não é preciso ter uma imaginação fértil para pensar o que aconteceria se todos se unissem ao inimigo", argumenta o especialista.

Französische Soldaten in Afghanistan
França suspendeu ações no Afeganistão após morte de soldadosFoto: picture-alliance/dpa

Forças militares como fator econômico

Timo Christians, encarregado de questões relacionadas ao Afeganistão da organização Ação Agrária Alemã, afirma que a economia do Afeganistão passará por um choque com a retirada das forças militares estrangeiras do país. Pois a saída das tropas, além das implicações relacionadas com a política de segurança, deverá também fazer com que a "fonte de renda 'comunidade internacional'" seja sensivelmente reduzida nos próximos anos. "Isso vai ter consequências", completa Christians.

Afghanistan Hilfe Konvoi
Comunidade internacional deverá manter ajuda humanitária ao país depois de 2014Foto: AP

Ajuda diplomática por parte da Alemanha

Com a prorrogação do mandato da Bundeswehr, a missão militar no Afeganistão chega a seu 11° ano. Hoje quase ninguém mais acredita numa solução militar para o país. Tanto nos EUA quanto na Alemanha, as esperanças estão sendo depositadas nas negociações com os talibãs.

Michael Steiner
Michael Steiner, encarregado do governo alemão para questões relacionadas ao AfeganistãoFoto: picture-alliance/dpa

Diplomatas ocidentais veem com bons olhos a abertura de um escritório de negociações dos talibãs em Doha, a capital do Catar, sobretudo porque também o presidente afegão, Hamid Karzai, abdicou de sua resistência a conversar com representantes do Talibã, mesmo que a contragosto. "Foi um parto difícil", diz Pflug, lembrando a importância do papel desempenhado pelo encarregado alemão, Michael Steiner, neste processo.

O Catar pretende, com o escritório de negociações, se tornar o principal mediador no conflito entre o Ocidente e os talibãs. No entanto, o Paquistão deve desempenhar um papel ainda mais importante para o bom andamento das negociações. "Sem o Paquistão nada será possível", afirma Pflug.

Ele espera que a China, que, na última conferência sobre o Afeganistão, realizada em Bonn, na Alemanha, exerceu "um papel muito construtivo", faça pressão sobre seu aliado. O Paquistão boicotou a conferência porque 24 soldados do país haviam sido mortos pouco antes, durante um ataque norte-americano a um posto de controle de fronteiras.

Difíceis negociações com os talibãs

As negociações com os talibãs deverão incluir também questões de teor constitucional, como por exemplo os direitos das mulheres. O direito de garotas frequentarem escolas é uma pedra no sapato dos talibãs; para o Ocidente, trata-se de um ponto essencial. Aquilo que já foi alcançado até agora no Afeganistão, contudo, não é questionado somente pelos talibãs, diz Timo Christians, da Ação Agrária Alemã. "Muito do que se conquistou em liberdades e direitos humanos corre risco também sob os atuais donos do poder", analisa o especialista.

Kinder in Afghanistan
Meninas na escola: pedra no sapato dos talibãsFoto: DW

Um outro aspecto das negociações é quem vai participar delas. Quem deverá falar em nome do mulá Omar, o líder talibã no exílio, considerado morto diversas vezes, e que ainda exerce grande influência? É possível que esta seja uma tarefa para o militante Tayyeb Agha, com o qual o Serviço Nacional de Informações da Alemanha (BND) supostamente fez contatos. Também a participação do líder mujahidin Gulbuddin Hekmatyar é polêmica. Hekmatyar, líder do Hezb-e-Islami, um dos mais radicais e importantes agrupamentos islâmicos é, nas palavras de Pflug, um "criminoso de guerra da pior espécie".

Nos círculos parlamentares alemães já se ficaria satisfeito se algum tipo de negociação começar logo. No segundo semestre de 2013, a Alemanha vai escolher um novo Parlamento, e é provável que as dificuldades para uma nova renovação do mandato da Bundeswehr no Afeganistão cresçam, avalia Pflug. "A prorrogação do mandato nunca foi uma questão tranquila, e os novos membros do Parlamento não vão torná-la mais fácil", conclui o social-democrata.

Autor: Daniel Scheschkewitz (sv)
Revisão: Alexandre Schossler