Caixas da saudade: um projeto bom e barato
23 de março de 2006Como os outros projetos que a senhora coordenou influenciaram a criação do projeto das caixas com lembranças da cidade natal?
Em projetos anteriores, entrevistamos as pessoas que voltaram ao Leste da Alemanha e procuramos definir pontos de partida, como a política, a dinâmica, as experiências e os novos contatos dessas pessoas, a fim de podermos utilizá-los para um desenvolvimento econômico positivo da região. Pesquisamos o conjunto e desenvolvemos estratégias contra a emigração e em prol do fortalecimento do retorno à terra-natal.
A imigração e o retorno devem ser fortalecidos, tanto em relação à profissão quanto ao contexto familiar. E por isso, uma lista de "motivos para ficar e para retornar" deve ser criada. Um ponto central dos projetos anteriores foi a criação de um catálogo de medidas concretas e a sua aplicação em projetos-piloto como em Magdeburg e Greifswald. O projeto Heimatschachtel é, por assim dizer, uma ação concreta com base nos resultados dos projetos anteriores.
Por que existem coisas tão diversas nas caixas?
O conteúdo das caixas foi escolhido de modo a sensibilizar os jovens com menos de 30 anos. Acreditamos que, assim, podemos mudar positivamente a imagem de Magdeburg, pois os jovens aos quais nos dirigimos não conhecem mais a antiga Alemanha Oriental e nem são "fãs" do Leste alemão.
Por que é tão importante mudar a imagem da cidade?
Os pré-requisitos para a criação de postos de trabalho são uma boa oferta de mão-de-obra qualificada e uma boa e positiva imagem regional. A idéia das caixas contribui para ambos. Não é à toa que a Baviera faz publicidade com "Laptop e calça de couro" ou o Estado de Baden-Württemberg diz "Podemos tudo, menos falar o alemão padrão". O projeto das caixas é uma pequena contribuição para melhorar a imagem em torno de Magdeburg e ao mesmo tempo tentar conectar possíveis trabalhadores ao seu local de origem.
E como a senhora avalia o sucesso do projeto até agora?
O projeto trouxe à tona o nome da cidade, nacional e internacionalmente e de modo muito positivo. Até então, o que se ouvia sobre a cidade – infelizmente de modo muito freqüente – eram apenas comentários negativos sobre xenofobia ou desemprego. Mas é claro que as caixas não subsituem os empregos e nem podem criá-los.
Até agora não sabemos de nenhum emigrado que tenha se irritado com o recebimento da caixa. Pelo contrário: os jovens que se mudaram há pouco de Magdeburg – os verdadeiros alvos do projeto – estão fazendo tantas solicitações que mal conseguimos atender a todos os pedidos.
O dinheiro não teria sido melhor aplicado se fossem criados mais empregos na região, em vez de enviar as caixas?
Quanto postos de trabalho poderíamos criar com três mil euros? Esta não é uma boa comparação. Nosso projeto é um dos mais baratos em todo o programa de reconstrução do Leste alemão. E além disso, influencia muito a opinião das pessoas a respeito da cidade.
Qual é o orçamento do projeto?
Preparamos inicialmente 300 caixas. Felizmente conseguimos um patrocinador, o banco Volksbank Magdeburg, que nos colocou mais dinheiro à disposição. Assim poderemos enviar tranqüilamente cerca de mil caixas. Do ponto de vista do orçamento, o nosso projeto é bem simplório. Toda a ação custou aproximadamente três mil euros. O resto é financiado pelos patrocinadores. Eu não conheço nenhuma outra medida de fomento do Ministério da Economia que com tão pouco tenha conseguido tanto.
Como está a situação de imigração em Magdeburg?
O envio das caixas é apenas uma pequena parte de uma pesquisa sobre o retorno de emigrantes, financiada pelo Ministério dos Transportes. No momento, imigram em média 1500 pessoas por ano. Os ex-moradores da cidade compõem a metade do grupo. Para que as pessoas realmente voltem, é necessário que elas mantenham algum tipo de contato com a cidade. Isso é o que o projeto das caixas proporciona.
Existem comparações entre o imigrar do Leste e os protestos estudantis na França. A senhora acredita que ambos sejam uma resposta à falta de apoio do governo?
Não. Não acredito que a imigração dos jovens seja uma forma de protesto. Acredito que seja mais uma reação à globalização e à pressão, à dificuldade de se achar o próprio caminho em um mercado de trabalho que está cada vez mais fechado. Nossas pesquisas mostram que a maioria dos emigrantes parte contra a própria vontade e a maioria deles retornaria com prazer, ou seja, não é uma forma de protesto.