Carnaval belga é criticado por estereótipos antissemitas
25 de fevereiro de 2020Um desfile de Carnaval com estereótipos antissemitas em Aalst, na Bélgica, foi alvo de duras críticas. Bonecos e fantasias com chapéus, barbas, cachos laterais e narizes grandes representando judeus ortodoxos foram vistos nos festejos do último domingo (23/02) na cidade. É o segundo ano consecutivo em que figuras caricatas com características típicas de representações antissemitas fazem parte do desfile.
Adalbert Jahnz, porta-voz da Comissão Europeia, disse nesta segunda-feira em Bruxelas que imagens como as do desfile não deveriam mais ser vistas em ruas europeias, 75 anos após o Holocausto. Ele afirmou que ainda não está claro que medidas judiciais poderão ser tomadas em relação ao ocorrido, pois as autoridades belgas seriam responsáveis pelas consequências legais.
Com 600 anos de tradição, o Carnaval de Aalst, cidade hoje com 86 mil habitantes, é considerado um dos mais suntuosos da Bélgica. Em 2010, a festa foi incluída na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. No ano passado, no entanto, o Carnaval ocupou manchetes devido a estereótipos racistas e antissemitas e acabou sendo retirado da lista.
Em 2019, membros da associação carnavalesca Vismooil'n, vestidos como judeus ortodoxos, saíram pela cidade dançando e cantando. Na frente dos carros alegóricos, havia imagens que lembravam propaganda nazista. Bonecos enormes com madeixas, narizes de papagaio e sacos cheios de dinheiro a seus pés.
A cidade recebeu críticas mundo afora devido ao desfile. Autoridades locais pediram que seu Carnaval fosse retirado da lista de Patrimônio Mundial da Unesco.
Neste ano, a organização cultural da ONU foi motivo de zombarias por parte dos foliões, quase sempre em conexão com representações antissemitas. Um exemplo: um grupo de homens se fantasiou de judeus ortodoxos, baseando-se novamente em estereótipos antissemitas, como nariz comprido e cachos laterais.
Rindo, eles disseram ser fiscais da Unesco. Pequenos sinais de proibição puderam ser vistos em seus grandes chapéus de pele, com imagens riscadas de narizes e madeixas. À DW, um dos homens perguntou qual seria o problema com sua fantasia: "É só diversão! Nós zombamos de todos!"
Para muitos visitantes de Aalst, o antissemitismo não é percebido como um problema. Não importa se se trata da família real belga ou do presidente americano, Donald Trump, – zomba-se de todos da mesma forma, disse um passante.
Para Hans Knoop, no entanto, as representações no Carnaval de Aalst não são nada engraçadas, mas chocantes. O jornalista aposentado faz parte do conselho da FJO, uma federação de organizações judaicas na Bélgica. Quando criança, ele viveu escondido dos nazistas. Muitos membros de sua família não sobreviveram ao Holocausto.
As representações de judeus no ano passado ainda puderam passar como ignorância, disse Knoop. Mas após a onda de indignação, as associações sabiam exatamente o que estavam fazendo, criticou o jornalista.
Neste domingo, o Museu do Holocausto dos Estados Unidos criticou o desfile de Aalst em sua conta no Twitter: "Vinte e quatro mil judeus que viviam na Bélgica foram mortos no Holocausto. Hoje, antissemitismo mortal está em alta novamente pela Europa. Eventos como o desfile de Carnaval de Aalst, que promovem o antissemitismo e alimentam o ódio e potencialmente a violência devem ser denunciados por todos os segmentos da sociedade."
Antes do desfile de Carnaval deste ano, organizações judaicas e o embaixador de Israel na Bélgica, Emmanuel Nahschon, haviam advertido contra a repetição de "clichês antissemitas". O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, pediu a proibição do desfile "odioso".
O prefeito de Aalst, Christoph D'Haese, rejeita as acusações. "Este não é um desfile antissemita, Aalst não é uma cidade antissemita", disse o representante do partido nacionalista flamengo N-VA antes do início do desfile.
CA/dw/epd/dpa/afp
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