Entrevista
13 de fevereiro de 2009A Casa das Culturas do Mundo é um espaço voltado para culturas não européias na capital alemã, onde são exibidos filmes e onde acontecem concertos, shows, performances e debates. Criada em 1989 antes da queda do Muro, a Casa tem perfil único no país. Leia abaixo entrevista com seu diretor, Bernd Scherer.
Deutsche Welle: Imagine que, há 20 anos, a Casa das Culturas do Mundo não tivesse sido criada. A Alemanha seria diferente sem uma instituição deste gênero?
Bernd Scherer: A decisão de criar a Casa das Culturas do Mundo, tomada em 1988/89, foi uma decisão visionária, pois antecipou o que chamaríamos posteriormente de globalização. Um processo que faz com que hoje sejamos atendidos por pessoas que trabalham em call centers na América Latina, por exemplo.
Ou o fato de que, em função do desenvolvimento econômico na China ou na Índia, os preços das matérias-primas tenham aumentado enormemente, a ponto de influenciar a nossa economia. E também a corrida, aqui, pelos filmes de Bollywood. Ou pensemos no Afeganistão, onde estão estacionadas tropas alemãs, numa missão muito debatida dentro da Alemanha. Todas essas questões se tornaram parte da política interna, parte da nossa cultura.
Quando a Casa foi fundada, a palavra globalização não estava ainda na boca de todo mundo. O que levou à criação da Casa das Culturas do Mundo?
A idéia inicial era a de se criar um adendo ao Instituto Goethe. Enquanto este apresentasse a cultura alemã no exterior, uma nova instituição em Berlim deveria cuidar de mostrar culturas não europeias dentro na Alemanha.
Por outro lado, tratava-se também de estabelecer ligações entre a apresentação de outras culturas e um discurso a respeito da sociedade multicultural dentro do país. Essa foi a ideia originária da Casa das Culturas do Mundo.
Por detrás da instituição, estão 20 anos de trabalho bem-sucedido no setor cultural. Quais são seus desejos para o futuro como diretor da Casa das Culturas?
Por muito tempo, a Casa foi entendida como uma instituição que se ocupa de fenômenos periféricos, que, por mais interessantes que fossem, não eram apreciados como sendo relevantes para nossa sociedade.
Meu desejo é o que personalidades importantes dos setores da política e cultura comecem a entender qual é o papel do intercâmbio internacional para a compreensão da própria sociedade, que entendam que os debates sobre a cultura do país não são mais possíveis sem olhar para fora.
A Casa das Culturas do Mundo é, neste sentido, uma instituição que traz o saber global para o diálogo interno no país.