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Cerimônia de despedida de Wulff provoca críticas

7 de março de 2012

Uniformes impecáveis e música ao vivo diante do Palácio de Bellevue, em Berlim. Mesmo após a polêmica renúncia, o ex-presidente alemão é homenegeado em sua despedida do cargo. Oposição considera a celebração vergonhosa.

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Foto: Reuters

No início da noite desta quinta-feira (08/03), o ex-presidente alemão Christian Wulff será homenageado em Berlim na cerimônia conhecida como Zapfenstreich (expressão militar equivalente a "toque de recolher"). Às 18h55 em ponto o político sobe a um pódio diante de sua residência, o Palácio Bellevue. Cinco minutos mais tarde, 300 soldados do Exército alemão marcham munidos de armas, tochas e instrumentos musicais. Está tudo planejado para a cerimônia de despedida de Wulff, que renunciou no último dia 17 de fevereiro.

Mais tarde, a banda militar do Exército tocará uma serenata para o ex-presidente, incluindo o clássico de Judy Garland Over the rainbow e a Ode à Alegria de Ludwig van Beethoven. Encerrando a noite, irá transcorrer o "toque de recolher" propriamente dito, ao som de marcha militar e do hino nacional alemão. Tudo será transmitido ao vivo pelo canal de TV ARD, de direito público.

A renúncia veio após uma série de escândalos financeiros e de conduta envolvendo o presidente. O Ministério Público de Hannover está investigando o político, acusado de se beneficiar ilicitamente durante seu mandato como governador da Baixa Saxônia. O descontentamento em torno da pensão vitalícia de quase 200 mil euros por ano também persegue Wulff, assim como a discussão sobre a disponibilização de um carro, um motorista, uma secretária e um escritório para o ex-presidente até o fim da vida. O social-cristão de 52 anos exerceu o cargo por apenas 20 meses.

Ritual de sempre

A homenagem a Wulff desta quinta-feira também gera controvérsias. Quando o ministro da Defesa, Thomas de Maizière, dedicou ao ex-presidente a mais alta cerimônia militar do Exército como despedida, ele acentuou tratar-se de uma "prática habitual do Estado" e que "o cargo está em primeiro plano".

De fato, há décadas a pomposa despedida pelo Exército é um ritual comum para presidentes, chefes de governo e ministros da Defesa na Alemanha. O social-democrata e pacifista Gustav Heinemann, presidente de 1969 a 1974, foi o único a fugir à regra, propondo a seus convidados um passeio de barco pelo Rio Reno, em vez de música militar.

Großer Zapfenstreich für Helmut Kohl 1998
O ex-chanceler federal Helmut Kohl celebrou despedida diante de 15 mil espectadoresFoto: picture-alliance/dpa

Em contraste, foi particularmente imponente a homenagem militar para o chanceler federal Helmut Kohl, em 1988. Ele celebrou na catedral imperial da cidade de Speyer, diante de 15 mil espectadores, sua "passagem para a história", como comentou uma testemunha ocular. Seu sucessor Gerhard Schröder, por sua vez, derramou algumas lágrimas quando o Exército tocou para ele My way, de Frank Sinatra, em sua cidade natal, Hannover.

Até mesmo para a despedida, em março de 2011, do ministro da Defesa Karl-Theodor zu Guttenberg, notório pelo plágio em sua tese de doutorado, o Exército tocou Smoke on the water, do Deep Purple.

Lista de músicas

A lista de músicas pedidas por Wulff inclui quatro títulos, um a mais do que de costume. Fato que mais uma vez suscitou comentários sarcásticos da mídia, no estilo: "Mas até nisso ele quer mais do que todo o mundo!".

Sigmar Gabriel / SPD / Sozialdemokraten
Gabriel: "Alguém que falhou terá uma despedida como se tivesse feito grandes coisas pela Alemanha"Foto: dapd

Mas também houve críticas sérias. O chefe do Partido Social Democrático (SPD), Sigmar Gabriel, falou em uma grande vergonha. "Alguém que fracassou no cargo terá uma despedida como se tivesse feito grandes coisas pela Alemanha", disse. Já o parlamentar conservador cristão, Peter Altmaier, considerado confidente de Angela Merkel, discorda: afinal de contas, com sua renúncia, Wulff teria poupado ao país meses de debates penosos, e ele mereceria respeito por isso.

Segundo fontes de Berlim, uma série de convidados declinou do convite à cerimônia desta quinta-feira. Porém a participação da premiê Merkel e do presidente do Bundestag, Norbert Lammert – ambos democrata-cristãos – é tida como certas.

Autor: Bernd Gräßler (lpf)
Revisão: Augusto Valente