Checkpoint Berlim: Confusão numérica
28 de outubro de 2016Quando criança, aprendi a me localizar nas ruas de Curitiba rapidamente: encontrar um número era fácil: de um lado estavam os pares, e do outro, os ímpares. E sempre cresciam ou desciam dependendo da direção. A dica me ajudava rapidamente a encontrar o endereço que procurava. E dava sempre certo, até eu chegar a Berlim.
Aqui essa dica é furada. Percebi quando procurava um número e acabei passando bem longe. Havia olhado apenas para um lado e não me liguei que a numeração era sequencial, crescendo até o fim da rua de um lado e continuando a contagem do outro para a direção do início da rua.
Depois disso, comecei a reparar neste caos. Não havia apenas um modelo de numeração: além desse crescente, havia ainda o tradicional em ziguezague – pares de um lado e ímpares do outro.
E a explicação para esta confusão está na história. A ideia de colocar números em casas veio da França – e ambos os sistemas também. O modelo crescente foi adotado como o padrão prussiano.
Porém, esse sistema tem um déficit: não permite, sem a completa reestruturação de endereços, a ampliação de ruas. Assim, a numeração em ziguezague começou a ganhar espaço na cidade em expansão e, em 1927, foi declarada o padrão oficial na capital alemã.
Dessa maneira, bairros onde houve poucas mudanças estruturais nos últimos 100 anos, como Wilmersdorf, Charlottenburg, Mitte e Kreuzberg, são os que possuem atualmente a maior quantidade de ruas com a numeração sequencial. Já em localidades com mais mudanças, o sistema ziguezague é o que se sobressai.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.