Checkpoint Berlim: Um caso de amor
30 de setembro de 2016"Porque nós te amamos!", poderia muito bem ter saído de alguma propaganda de produtos de beleza ou algum tipo de alimento saudável, mas este é o slogan da empresa de transporte público de Berlim. E como ignorar a simpatia da BVG, que deseja conquistar seus usuários com comerciais criativos que pregam o amor. Ao oferecer um serviço eficiente, ela nem precisa disso para ser estimada.
O sistema de transporte público da capital alemã é o melhor que já tive a oportunidade de conhecer, e nem se compara ao oferecido nas cidades brasileiras, mesmo naquelas consideradas exemplo. A rede berlinense possui dez linhas de metrô, doze de bonde e mais de 150 de ônibus. Os pontos são sinalizados com as informações sobre linhas que passam por ali e horários previstos.
Com toda essa estrutura, aqui não cola a desculpa de que não havia como ir para faltar a algum convite chato. É possível chegar a qualquer canto de Berlim, não importa a hora do dia ou noite. É claro que durante a semana o percurso nas madrugadas leva mais tempo, pois o metrô fecha durante algumas horas, e a frota de ônibus é reduzida.
Há alguns problemas: como atrasos, ônibus "sauna" – nos quais as janelas não podem ser abertas, e no verão o ar condicionado modesto não dá conta do calor –, e o preço da passagem, relativamente salgado e que sobe ano após ano.
A BVG reconhece que tem problemas. Agora, toda irreverente, resolveu rir dos próprios deslizes. Num vídeo lançado nas redes sociais, ao comprar a passagem, um jovem afirma que o preço é caro, o funcionário da empresa explica, então, que nele está incluindo tudo o que os clientes esperam: atrasos controlados por um esquilo, a competição de boliche em ônibus, cujo objetivo é derrubar o maior número de pessoas, e ainda um simulador onde motoristas aprendem o momento exato para fechar a porta na cara de passageiros atrasados que correm para pegar o ônibus.
Com o comercial, a empresa quer alcançar o mesmo sucesso da campanha "Para mim tanto faz", na qual um rapper vestido com o uniforme da BVG cantava sobre situações inusitadas de passageiros em veículos da empresa e afirmava que tudo é permitido, contanto que a passagem esteja paga. Alguns desses episódios realmente acontecem, já peguei um ônibus de madrugada com um jovem que levava consigo um barco inflável.
A fofura da BVG é tanta que ela chegou até a lançar uma coleção de roupas com a estampa dos bancos dos metrôs para aqueles usuários que desejam corresponder todo esse amor e mostrar esse afeto ao mundo. As peças, para quem têm interesse, são vendidas no site da empresa. Apesar de tanta irreverência, o diferencial da empresa continua mesmo sendo o serviço oferecido.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.