Checkpoint Berlim: Humor eleitoral
16 de setembro de 2016No domingo, Berlim vai às urnas escolher seus representantes na assembleia legislativa municipal e distrital – o partido mais votado, ou sua coalizão, indica então o novo prefeito. Cartazes de candidatos e partidos decoram as ruas da capital. E engana-se quem pensa que os berlinenses levam campanha política tão a sério. A criatividade dos candidatos da cidade não deixa nada a desejar às eleições no Brasil.
Com poucas chances de repetir o sucesso eleitoral da última votação, o Partido Pirata é o mais irreverente. E pela variedade de estilos, a propaganda provavelmente ficou a critério de cada candidato. O Jan da foto quis fazer uma paródia com a série de TV Better call Saul – derivada da famosa Breaking Bad –, mas deve ter esquecido que o protagonista tem um caráter duvidoso, e isso pode afetar sua imagem entre os eleitores...
Os partidos tradicionais, União Democrata Cristã (CDU), Partido Social Democrata (SPD), A Esquerda e os Verdes, preferiram manter a discrição e evitaram deixar espaço para a criatividade dos candidatos – os cartazes são padrão, mudam somente foto e nome. Provavelmente para evitar que propagandas constrangedoras manchem a imagem das legendas.
Já nas propagandas gerais, apenas os Verdes saíram com slogans que pretendiam ser criativos e provocantes, mas o resultado não foi bem o esperado. "As startups mais importantes de Berlim: crianças" ou "Berlim precisa de novas vias: ciclovias". Difícil perceber o que se passou exatamente na mente do criador da propaganda para achar que a população levaria a sério esse tipo de frase.
Na tentativa de conquistar algumas cadeiras na assembleia local e voltar a fazer parte do governo, o Partido Liberal Democrático (FDP) – cuja sigla geralmente causa risos entre brasileiros –, inovou com uma propaganda colorida estilizada e um slogan conservador para padrões liberais: "manteremos o aeroporto Tegel aberto", mesmo após a inauguração do novo aeroporto internacional.
Já os partidos populistas de extrema direita parecem ter esquecido que a eleição é local: defendem uma Alemanha para os alemães, contra estrangeiros e refugiados, e por aí pregam preconceito e ódio em nível nacional.
A batalha pela atenção nas ruas da capital é grande. Há postes superlotados de cartazes. No domingo, os eleitores escolhem quais slogans devem ser recompensados com a vitória nas urnas. E semana que vem toda essa decoração vai parar no lixo.
Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.