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Checkpoint Berlim: O tesouro de Beelitz

Clarissa Neher26 de agosto de 2016

A pequena cidade ao sudeste de Berlim oferece duas atrações a turistas. Uma dela é verdadeiro ímã de visitantes. Nesta semana, a coluna apresenta o Sanatório de Beelitz, famoso atualmente por suas ruínas.

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Ruínas da ala cirúrgica do sanatório de Beelitz
Ruínas escondem passado grandiosoFoto: DW/C. Schimunda Neher

A pacata Beelitz fica apenas alguns quilômetros ao sudeste de Berlim. A cidade de 12 mil habitantes tinha tudo para ser só mais uma entre tantas outras – com casinhas, tranquilidade típica de regiões menos povoadas e nada de especial. Beelitz, porém, deu sorte na história – digamos, estava no lugar e na hora certa – e também teve algum marqueteiro agrícola que soube vender ao mundo o produto que cresce em seus solos.

Muitos conhecem Beelitz como a cidade do aspargo – a planta ganhou inclusive um museu, coisa de quem entende como atrair turistas. Além disso, agricultores locais abrem as portas de suas fazendas para todos durante a temporada de aspargo, que começa em abril.

Mas o aspargo é a menor atração da cidade, apesar de muito apreciado em Berlim. Foi um tesouro histórico que realmente trouxe fama mundial a Beelitz: as ruínas de um sanatório construído no fim do século 19 e início do século 20.

Ao caminhar pelas ruínas do Sanatório de Beelitz, dá para ter uma dimensão da beleza e grandeza do local durante o seu auge. Os prédios possuem uma arquitetura belíssima, mas que lembram um pouco filmes de terror, ainda mais agora que estão abandonadas e seu interior foi completamente depredado.

Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008
Clarissa Neher vive em Berlim desde 2008Foto: DW/G. Fischer

A história do Sanatório de Beelitz reforça mais essa impressão de mal assombrado. O complexo foi construído em 1898 para tratar tuberculosos que viviam em Berlim, mas não todos, apenas os trabalhadores, porque a elite ia para clínicas mais nobres nas montanhas europeias e os mais pobres tinham que esperar um milagre para sobreviver. Na época, a medicina acreditava que o ar de Beelitz ajudava na cura dos pacientes.

Durante a visita guiada, eu pensava em quantas pessoas não chegaram sobreviver ao tratamento e quanto tempo o bacilo de koch permanece vivo na atmosfera.

Com a Primeira Guerra Mundial, o local expandiu suas especialidades médicas e passou a receber soldados convalescentes – o próprio Adolf Hitler teria sido tratado por lá. No fim da Segunda Guerra, alguns prédios do complexo ficaram completamente destruídos e outros continuaram a exercer sua função hospitalar, mas agora controlados pelo Exército soviético.

O complexo se transformou no maior hospital militar da União Soviética no exterior. Após a reunificação da Alemanha e o fim da Guerra Fria, em 1994 as construções foram praticamente abandonadas e se tornaram alvo de vandalismo. Em seguida o terreno foi adquirido por um investidor, que cercou cada um dos prédios para evitar invasores. O novo proprietário dos imóveis pretende restaurar alguns deles. Há a ideia de construir um hotel na antiga ala cirúrgica.

Mas, até lá, as ruínas são a grande atração de Beelitz, e foram até cenário dos filmes O pianista e Operação Valquíria. Para mim, o mais fascinante delas é ver como o poder do tempo e a ação humana afetam prédios sólidos que sobreviveram a duas guerras mundiais e que, vítimas do vandalismo, em apenas 20 anos foram completamente depredados, restando apenas seu esqueleto.

Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às sextas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.