Chefe da polícia de Pinochet morre em hospital militar
8 de agosto de 2015Os restos mortais de Manuel Contreras, o general mais temido da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) no Chile, foram entregues neste sábado (08/08) a seus familiares. O ex-chefe da Direção de Inteligência Nacional (Dina) morreu aos 86 anos na sexta-feira por complicações de diabetes e de um câncer no cólon.
Condenado a 529 anos de prisão por crimes contra a humanidade, o militar reformado cumpria pena no presídio Punta Peuco, nos arredores da capital chilena, mas foi transferido em setembro de 2014 para o Hospital Militar de Santiago, onde morreu. Com o agravamento de seu estado de saúde, nos últimos dias os médicos suspenderam o tratamento, passando a administrar cuidados paliativos contra a dor.
Em 1975 o então chefe da polícia secreta do regime de Pinochet foi mentor da Operação Colombo, que teve como objetivo encobrir o desaparecimento de 119 presos políticos, com o auxílio das polícias secretas do Brasil e da Argentina. A ação abriu espaço no mesmo ano para a Operação Condor, uma coordenação das ditaduras do Cone Sul para eliminar opositores.
A Dina, o organismo repressor que Contreras começou a organizar antes do golpe militar contra o presidente Salvador Allende (1970-1973), foi responsável pelo desaparecimento de 1.192 presos políticos e por mais de 1.500 execuções de opositores ao regime. Em 17 anos de ditadura, mais de 30 mil pessoas foram torturadas ou presas no Chile.
Sem arrependimento
Contreras, que contava com uma rede de 50 mil informantes no país e no exterior, nunca reconheceu sua responsabilidade pelos crimes, sempre jogando a culpa em outros membros do regime, inclusive o próprio Pinochet, que acusava de ter enriquecido com o narcotráfico.
O general aposentado alegava que Pinochet era o verdadeiro chefe da Dina e que apenas cumpria ordens. Ele também atribuiu à CIA, a agência de inteligência dos EUA, o assassinato de figuras como o general Carlos Prats, antecessor de Pinochet no comando do Exército.
Alguns anos atrás, ele declarou publicamente, a partir da prisão, que se sentia orgulhoso do trabalho realizado frente à Dina. "Não matamos ninguém, exceto terroristas quando eles nos enfrentaram. No Exército chileno, não se dá ordens para matar. Não tenho as mãos manchadas de sangue", afirmou em entrevista a um canal de televisão.
A presidente do Agrupamento de Familiares de Detidos Desaparecidos (AFDD), Lorena Pizarro, afirmou estar "frustrada" com o fato de Contreras ter morrido num hospital militar como general aposentado. "É um plano de impunidade inaceitável" apesar dos mais de cinco séculos anos de condenação, declarou.
KG/efe/dpa