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Com acordo de associação, Ucrânia dá mais um passo rumo à UE

Roman Goncharenko (ca)26 de junho de 2014

Durante cúpula em Bruxelas, Poroshenko assinará parte econômica do tratado entre União Europeia e Ucrânia, o mesmo que Yanukovytch havia se recusado a assinar. Com isso, Kiev se afasta cada vez mais de Moscou.

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Foto: Reuters

No dia 28 de novembro do ano passado, o então presidente ucraniano, Viktor Yanukovytch, perdeu a oportunidade de entrar para a história. A União Europeia (UE) estava disposta a assinar, durante a cúpula da iniciativa europeia Parceria para o Leste em Vilnius, na Lituânia, o acordo de associação com a Ucrânia.

O documento, que já havia sido negociado em 2011, deveria unir economicamente UE e Ucrânia, também por meio de uma zona de livre comércio. Yanukovytch se recusou, justificando que estaria sofrendo pressão econômica da Rússia. Sua decisão desencadeou um movimento de protesto, que o forçou a fugir para a Rússia no final de fevereiro.

Nesta sexta-feira (27/06), no encontro de cúpula da UE em Bruxelas, o recém-eleito sucessor de Yanukovytch, Petro Poroshenko, assinará o acordo de associação entre a Ucrânia e o bloco europeu, selando agora os laços econômicos, principal parte do acordo.

A associação política já havia sido assinada em 21 de março pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseniy Yatsenyuk. Na ocasião, Bruxelas quis mostrar solidariedade com a Ucrânia, que perdera parte de seu território com a anexação da península da Crimeia pela Rússia.

Alegria contida, grandes esperanças

Agora a Ucrânia está ameaçada de perder outras regiões no leste do país. Em Donetsk e Lugansk, separatistas pró-russos proclamaram "repúblicas populares" e empreendem duros combates com o Exército ucraniano. Centenas de pessoas já morreram.

O governo em Kiev acusa a Rússia de apoiar os separatistas com homens e armas. Poroshenko anunciou um cessar-fogo de uma semana, que termina às 8h (GMT) desta sexta-feira. Embora o cessar-fogo tenha sido apoiado publicamente pelos separatistas, foi ignorado na prática. Pessoas são mortas diariamente.

Os acontecimentos no leste ucraniano ofuscaram a satisfação de muitos cidadãos do país com a associação com a UE. No final do ano passado e no começo deste ano, centenas de milhares de pessoas haviam saído às ruas em defesa do acordo com a União Europeia.

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Yanukovytch se recusou a assinar acordo de associaçãoFoto: Reuters

Com a assinatura do documento, Poroshenko também sai vitorioso. Como ministro do Exterior e ministro da Economia, ele sempre defendeu o acordo. "A primeira etapa da nossa integração europeia foi concluída", disse o presidente, pouco antes da assinatura do acordo.

O governo em Kiev espera, para breve, mais ajuda econômica de Bruxelas e investimentos ocidentais. O país está há meses à beira da falência estatal e precisa urgentemente de bilhões em ajuda. A Ucrânia espera também que o acordo de associação seja um primeiro passo em direção a uma adesão plena à União Europeia. Bruxelas insiste, porém, em separar os dois projetos.

Associação também com Geórgia e Moldávia

Além da Ucrânia, outras duas ex-repúblicas soviéticas assinarão acordos de associação semelhantes em Bruxelas: Geórgia e República da Moldávia. Todos os três são membros da Parceria para o Leste. Na verdade, a assinatura estava agendada para acontecer mais tarde, mas os acontecimentos na Ucrânia provocaram a aceleração do acordo, afirmam observadores no leste europeu.

Tantos os políticos quanto as pessoas em geral compreenderam que "não faz mais sentido continuar apostando na Rússia", diz o especialista Kakha Gogolashvili, da Fundação Georgiana de Estudos Estratégicos. Segundo ele, o número dos que ainda acreditam em boas relações com a Rússia só diminui.

"O mais importante é proporcionar condições que nos deem possibilidades de novas reformas e investimentos", comenta Pirkka Tapiola, chefe da delegação da UE na República da Moldávia. Segundo ele, a UE está interessada, em primeira linha, numa aproximação econômica, que não é direcionada contra outros países.

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Premiês da Moldávia, Geórgia e Ucrânia com Angela Merkel em BerlimFoto: John MacDougall/AFP/Getty Images

Após a assinatura, os três países pretendem ratificar rapidamente o acordo em seus respectivos Parlamentos, para que ele possa entrar em vigor, ao menos em parte, ainda no segundo semestre deste ano. Posteriormente, Ucrânia, Geórgia e Moldávia adequarão sua legislação à da União Europeia. No entanto, a ratificação definitiva pelos 28 países-membros da UE poderá durar ainda um ano.

Iminente guerra comercial com a Rússia

Mesmo que a Rússia não esteja presente na cúpula da UE em Bruxelas, muitos olhos estarão voltados para Moscou. Há cerca de um ano, O governo russo ameaçou a Ucrânia com consequências graves caso Kiev viesse a assinar o acordo de associação com a UE.

Para reforçar a ameaça, em agosto último, a Rússia suspendeu temporariamente as importações da Ucrânia. "Podemos esperar para breve uma guerra comercial com a Rússia", adverte o ministro ucraniano da Economia, Pavlo Sheremeta.

Moscou ainda não elevou a voz. Não haverá sanções contra a Ucrânia, afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, ressalvando que seu país vai introduzir, no entanto, taxas de importação para produtos ucranianos, com o objetivo de proteger o mercado russo. "Será um teste difícil para a Ucrânia", advertiu Putin.

Negociações trilaterais com a Rússia?

Para a Ucrânia, mas também para a Geórgia e a Moldávia, o acordo de associação com a UE implica o início da tão aguardada despedida da esfera de influência russa. Moscou tentou, durante anos, impelir as ex-repúblicas soviéticas a uma nova aliança, a União Eurasiática, iniciada por Putin. Até agora, sem sucesso.

Ainda há alguns meses, Moscou exigia direito de voz nas negociações para a assinatura do acordo de associação entre a Ucrânia e a UE. Kiev e Bruxelas rejeitaram. Mesmo assim, deverá haver consultações. Em julho, é possível que aconteçam reuniões entre a Ucrânia, a UE e a Rússia sobre as consequências do acordo de associação, informou a agência de notícias russa Interfax, com base em fonte anônima em Bruxelas.