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Com Vladimir Putin, nova Rússia ganha um velho presidente

7 de maio de 2012

Troca-troca entre presidente e premiê Medvedev era jogo de cartas marcadas. Porém o país mudou: Putin não é o inatacável "pai da nação" que quer ser. Classe média protesta e continua ganhando força.

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Foto: picture alliance/landov

Gerhard Schröder, Silvio Berlusconi, Alexander Lukachenko, Nursultan Nazarbaiev, Viktor Yanukovitch: a lista de nomes do alto escalão que Vladimir Putin convidou para sua posse como presidente russo nesta segunda-feira (07/05) tem peso simbólico. Ao que parece, trata-se se de gente especialmente próxima do novo homem no Kremlin: os antigos chefes de governo da Alemanha e da Itália, controvertidos em seus países, e três presidentes de regimes autoritários de antigas repúblicas da União Soviética – Belarus, Cazaquistão e Ucrânia.

Putin tampouco é um "pai da nação" inatacável, embora hoje se apresente dessa forma. Ele venceu a eleição presidencial de 4 de março último com 64% dos votos. Porém sua vitória foi precedida por protestos em massa como não se viam na Rússia há 20 anos. Somente na capital, dezenas de milhares foram às ruas para se manifestar contra irregularidades durante as recentes eleições parlamentares. Mais tarde, os protestos se voltaram cada vez mais contra Putin, pessoalmente.

Troca-troca no Kremlin

A maioria dos participantes do movimento de protesto civil "Por Eleições Justas" pertence à classe média, a qual se formou durante o governo de Putin, explica Hanns-Henning Schröder, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP), sediado em Berlim. Agora, parte dessa classe se distancia dele. "O problema é que um presidente antigo, que já ocupou o cargo durante oito anos, se confronta com uma nova sociedade", diagnostica Schröder.

Exatamente 12 anos atrás, Vladimir Putin passou pela primeira vez pelo tapete vermelho do imponente palácio do Kremlin, que data da época dos czares. Depois de ser presidente duas vezes, em 2008 teve que entregar o cargo, já que a Constituição russa prevê um máximo de dois mandatos para o chefe de Estado. Após quatro anos como primeiro-ministro, Putin retorna e troca de posto com seu antecessor, Dimitri Medvedev.

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Medvedev (esq.) e Putin: sai um, entra o outroFoto: Reuters

Quando esse acerto se tornou público, em 2011, a dupla Putin-Medvedev procurou mostrar ostensivamente que a continuidade dita a política russa. Porém os russos se sentiram provocados. "Os tempos mudaram", comentou à Deutsche Welle Ludmila Alexeieva, presidente do Grupo de Helsinque em Moscou. Muitos ficaram indignados pelo fato de Putin e Medvedev combinarem entre si quem deveria governar o país.

Analistas ocidentais como o biógrafo de Putin Alexander Rahr aconselham o presidente russo a integrar a sociedade civil mais fortemente na política. "A classe média se tornou uma instância política, que não se deixa aplacar tão facilmente com promessas sociais, como a classe proletária", diz Rahr, que dirige o Centro Berthold Beitz da Sociedade Alemã de Política Externa (DGAP). Segundo ele, os manifestantes não desistirão "enquanto a Rússia não houver reinstaurado certas liberdades políticas de caráter liberal".

Cinco desafios

Ainda há poucos meses, Dimitri Medvedev, que agora entrega o cargo de presidente, anunciara reformas liberais. O parlamento nacional implementou parte delas. Assim, por exemplo, ficou mais fácil fundar partidos políticos. Além disso, voltaram a ser adotadas as eleições diretas para governador, eliminadas por Putin.

"Não se trata do início de uma nova era, mas de um pequeno passo na direção certa", analisa o especialista em assuntos russos Hanns-Henning Schröder. No entanto, ele parte do princípio que as reformas serão aplicadas de modo a deixar intocado o poder de Putin.

Mais ou menos um mês antes da posse, Putin esboçou diante do parlamento sua futura política como presidente, mencionando cinco desafios que pretende atacar, em primeira linha. Em primeiro lugar, está a dinâmica demográfica. Há anos a população do país de maior superfície do planeta vem minguando. O novo chefe de Estado pretende sustar esse processo.

Os demais tópicos de que Putin prometeu se ocupar são: segurança, criação de novos postos de trabalho e de uma economia competitiva, assim como a fundação de uma União Eurasiana, juntamente com antigas repúblicas soviéticas.

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Passeata em fevereiro de 2012, em Moscou: 'Abaixo Putin'Foto: picture-alliance/dpa

Esperança de mais democracia

O fato de reformas liberais não contarem entre as prioridades de Putin tem um motivo simples. "Um bom presidente é aquele que faz o que o povo espera dele", declarou à emissora alemã ARD, antes de sua reeleição. Para compreender sua política, basta uma olhada nas pesquisas de opinião: dois terços dos russos esperam que o chefe do Kremlin mantenha a política adotada até agora.

Como tarefa mais importante do novo presidente, os entrevistados citaram o impulso econômico e o combate à corrupção e à pobreza. Assim, a reivindicação de mais democracia permanece o desejo de uma minoria culta. Contudo, é incerto quanto tempo Putin conseguirá governar a Rússia, contra essa minoria cada vez mais forte.

Pelo menos no Ocidente há esperança de uma democratização da Rússia durante o terceiro mandato presidencial de Putin. "Espero que após tantos anos no cargo ele tenha experiência e sabedoria para levar o seu país à verdadeira democracia, de forma mais decisiva", comenta o presidente da Comissão de Assuntos Estrangeiros do Parlamento Europeu, Elmar Brok. "Porém se ele continuar fazendo de tudo para consolidar seu poder, então em algum momento não terá mais o apoio do povo russo."

Putin completa 60 anos de idade ainda em 2012, e parece também pensar no tempo que lhe resta. "Na vida de toda pessoa chega o momento em que ela não precisa mais se agarrar a certas coisas. Aí ela pode e deve pensar no destino de seu país", disse, antes do início de seu terceiro mandato como presidente, acrescentando: em sua vida esse momento teria chegado.

Autor: Roman Goncharenko (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer