Balanço da coalizão
27 de agosto de 2009Na noite das eleições parlamentares de 2005, o então premiê Gerhard Schröder perguntou a Angela Merkel, aos brados, se ela esperava seriamente que os social-democratas fossem aceitar um governo sob sua liderança. Os fatos acabaram mostrando que sim.
A coalizão formada pela União Democrata Cristã/União Social Cristã (CDU/CSU) e pelo Partido Social Democrata (SPD) não só foi concretizada, como também conseguiu chegar – apesar de todas as profecias pessimistas – ao fim do período legislativo regular.
O líder da bancada parlamentar social-democrata, Peter Struck, que se despede da política, elogiou a assim a coligação: "Principalmente nesta crise econômica e financeira, vê-se o quanto a grande coalizão conseguiu realizar".
Crise dos bancos obrigou a agir
A crise do setor bancário marcou o momento mais brilhante de um governo marcado pela falta de inspiração. E no entanto a própria coalizão de conservadores e social-democratas foi corresponsável pela crise, com seu aval aos chamados produtos financeiros inovadores. Mas o desastre os obrigou a agir com rapidez e em conjunto. Forçosamente, os membros da coalizão tiveram que deixar de lado suas diferenças ideológicas.
A maioria de dois terços no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) mostrou-se, então, vantajosa. Foram aprovados pacotes conjunturais, planos emergenciais para salvamento de bancos, limites para salários de executivos e até mesmo a estatização de um importante banco hipotecário, o Hypo Real Estate.
De resto, desde o início da legislatura, a coalizão de governo sofreu pelo fato de cada um dos parceiros querer se colocar em vantagem, sobretudo tendo em vista as eleições de 27 de setembro.
A vencedora é Angela Merkel
As aparições de apelo público de Merkel pelos tapetes vermelhos do mundo afora irritaram os social-democratas, que viram ameaçada também sua responsabilidade pela política externa do país, já que o chefe da diplomacia alemã é o social-democrata Frank-Walter Steinmeier.
No papel de salvadora do clima mundial, a chanceler federal posou de anoraque vermelho na Groenlândia. Enquanto isso, o ministro social-democrata do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, brigava com os governadores da CDU e CSU em torno de uma legislação única para o meio ambiente.
Enquanto a premiê democrata-cristã passeava pelo deque do navio, o SPD suava na casa de máquinas, reclamou o ministro do Trabalho e vice-chanceler-federal, Franz Müntefering, que posteriormente se demitiu por motivos particulares.
Entre os obstáculos ao funcionamento da coalizão estiveram a inveja do sucesso alheio, picuinhas ideológicas, disputas de competências e, no geral, – excetuado o ministro das Finanças, Peer Steinbrück – um quadro de pessoal inexpressivo.
Clara ganhadora
A chanceler federal permitiu-se classificar o balanço do governo de coalizão como "muito bom". Não é de surpreender pois, segundo as pesquisas de opinião, ela é a indiscutível ganhadora dos quatro anos de governo conjunto com os social-democratas.
Como ressaltou Kurt Kister, articulista e vice-editor-chefe do jornal Süddeutsche Zeitung: "Numa coalizão, quem se sai melhor são os políticos que não dizem 'basta' e que não abrem muito a boca, nem com muita frequência".
A preferência de Merkel por mediar em vez de decidir e sua política dos "pequenos passos" garantiu a sobrevivência da coalizão. Seu único grande projeto, a reforma do setor da saúde, só teve êxito pro forma.
Impulsos para família e integração
De qualquer forma, a coalizão de conservadores e social-democratas estabeleceu alguns marcos para o futuro. Na política da família, com a introdução do salário-maternidade/paternidade por 14 meses, além da ampliação da assistência às crianças.
A melhor integração de migrantes e o diálogo com os concidadãos muçulmanos têm a assinatura dos partidos conservadores social-cristão e democrata-cristão, assim como a linha dura na política de segurança interna. A controversa introdução da aposentadoria aos 67 anos é de responsabilidade, sobretudo, do SPD, como também o estabelecimento de pisos salariais em alguns setores.
Deste modo, o balanço do governo alemão não é tão ruim como disse Guido Westerwelle, líder do Partido Liberal Democrata (FDP). Com ironia, ele declarou no Bundestag que, dessa coalizão, só ficarão na memória, na melhor das hipóteses, os bônus para sucateamento de carros velhos, os quais custaram aos cofres públicos 5 bilhões de euros.
Autor: Bernd Grässler / Carlos Albuquerque
Revisão: Augusto Valente