Comissão pede tolerância zero com abusos em missões de paz
17 de junho de 2015Uma comissão especial chefiada pelo Nobel da Paz José Ramos-Horta divulgou nesta quarta-feira (17/06) o mais completo relatório dos últimos 15 anos sobre as operações de paz da ONU, abaladas nos últimos meses por acusações de que soldados cometeram abusos em países como Haiti, Libéria e República Centro-Africana.
O relatório, entregue ao secretário-geral, Ban Ki-moon, defende que a ONU empregue uma política de "tolerância zero" e facilite, a qualquer momento, a investigação de integrantes das missões suspeitos de abusos e exploração sexual.
"Uma tolerância zero contra a exploração sexual e o abuso deve significar exatamente isso, tolerância zero", disse em entrevista coletiva o ex-presidente do Timor-Leste. "Se alguém comete uma atrocidade, não deve ter qualquer tipo de proteção. Não se pode proteger [suspeitos] sob o teto da ONU."
Elaborado por um painel de especialistas, o relatório vem a público no momento em que a ONU tem 125 mil soldados espalhados pelo mundo, o número mais alto de sua história. Segundo os autores, o objetivo é adaptar as operações dos capacetes azuis ao século 21.
O texto defende missões mais rápidas, em que a questão política prevaleça sobre a militar, e operações mais realistas. Porém, durante a apresentação do relatório, o assunto ao qual mais se deu destaque foram as denúncias de abusos por parte dos militares.
Na última segunda-feira, um relatório do Escritório da ONU para Serviços de Supervisão Interna (Essi) mostrou que os militares que participam em missões de paz da organização em países como Haiti e Libéria cometeram uma série de crimes sexuais.
Os militares da missão no Haiti, que é chefiada pelo Brasil, são acusados de trocarem itens como vestidos, joias e telefones celulares por favores sexuais, explorando a situação de crise no país.
As denúncias foram feitas um mês depois de 14 soldados franceses, que estavam servindo como forças de paz no conflito na República Centro-Africana, terem sido colocados sob investigação, acusados de terem abusado de crianças com idade entre nove e 13 anos.
Como os militares da ONU não podem ser julgados nos países onde foram destacados, Ramos-Horta defendeu, nesta quarta-feira, que seus Estados de origem os levem à Justiça e mantenham não só as Nações Unidas como também o público informados do andamento dos processos.
O relatório defende ainda que não sejam aceitas sob a bandeira da ONU tropas de países que apareçam citados nos informes sobre violência contra crianças e mulheres em conflitos armados.
RPR/rtr/ap/afp