Entrevista
23 de setembro de 2009Deutsche Welle: O senhor faz alguma restrição à compra da Opel pela Magna?
Günter Verheugen: Ainda não, pois não sabemos nada do negócio a ser fechado. Ainda não existe uma concepção definitiva para a reestruturação e também não se sabe qual será a futura feição da General Motors na Europa. Só quando tivermos uma ideia disso e dos recursos que um ou mais governos europeus tirarão do bolso dos contribuintes para encontrar uma solução – só então a Comissão vai investigar. Mas uma coisa já está bem clara: não permitiremos que um país financie uma solução em detrimento dos outros, pois nesse ponto o direito europeu é absolutamente claro. O Tratado Europeu proíbe em grande parte os subsídios, sobretudo quando forem vinculados a condições políticas.
A acusação dos funcionários belgas, espanhóis e britânicos da Opel é que os alemães estão protegendo sobretudo as fábricas instaladas em seu país e vinculando ajuda estatal a garantias de manutenção de determinadas fábricas. Isso é permitido?
Percebemos esse problema desde o início. Foi por isso que a Comissão insistiu em exigir que o governo alemão se ajustasse com os parceiros europeus, integrando-os e informando-os. Interessante é que o Sr. Guttenberg [ministro alemão da Economia] não queria fazer isso, mas nós os obrigamos, e pelo menos já houve um primeiro passo nessa direção conjunta.
Todos os países-membros concordaram que a Alemanha financiasse essa solução transitória, a fim de permitir que a empresa não fosse à falência junto com a matriz norte-americana. Essa foi a verdadeira razão da operação. Agora se trata de achar uma solução que passe pela prova econômica [...] e viabilize a sobrevivência da empresa a longo prazo.
Mas uma coisa também está clara. Temos uma indústria com um excedente de produção de pelo menos 20% na Europa. Temos que parar de despertar a impressão de que estamos salvando empregos com o dinheiro dos contribuintes europeus. Esse não é o caso. A perda de empregos será apenas redistribuída. Não há alternativa à necessária reestruturação da indústria automobilística alemã; e isso não ocorrerá sem o corte de empregos e sem restrições dolorosas.
Temos interesse em manter a indústria automobilística europeia forte e com o número máximo de fábricas; acho que os funcionários na Opel da Antuérpia têm o mesmo direito de lutar por seus empregos que os de outras fábricas da montadora na Europa.
Segundo o senhor está dizendo, é necessário cortar empregos em toda a Europa...
Em toda a indústria, diga-se de passagem, não apenas na Opel.
OK. Mas pelo jeito, menos na Áustria, país de origem do presidente da Magna. Lá deverão ser gerados até 300 novos postos de trabalho. Existe alguma justificativa econômica para isso?
Não acredito que na Áustria se passe a se montar carros. Acredito que se trata de produção de autopeças, e a Magna é uma fabricante de autopeças.
Do seu ponto de vista, isso seria aceitável, portanto?
O que significa aceitável? Não é uma decisão sobre a qual a política possa exercer o mínimo de influência. Também temos que parar de dar a impressão de que as grandes empresas europeias sejam conduzidas por governos ou políticos. Isso nunca acontecerá. Trata-se de decisões empresariais tomadas aqui; a impressão que se gerou na Alemanha em relação a isso é totalmente errada: como se os governos fossem responsáveis por tomar decisões empresariais. As coisas não são assim.
Como comissário europeu, o senhor teme que possa eclodir uma espécie de guerra de subsídios?
O que me preocupa é o futuro da indústria automobilística europeia. O exemplo da Opel não é um bom sinal para o futuro. Quando imaginamos que teremos que contar com um grande desfalque no próximo ano, considerando que os bônus de sucateamento de carros velhos vão expirar e os produtores de automóveis de pequeno e médio porte sofrerão uma queda de vendas, aí as empresas não poderão evitar tomar as medidas que estão adiando há tanto tempo.
Uma coisa tem que ser dita. Os executivos da indústria automobilística alemã perderam a chance de fazer o necessário durante os anos gordos. Agora serão obrigados a fazê-lo em uma situação econômica tensa, o que torna a coisa extraordinariamente dolorosa. Só posso dizer que para todos os casos em que for requerida ajuda estatal valem as mesmas regras.
Entrevista: Patricia Schäfer
Revisão: Augusto Valente