Estado a serviço da indústria?
12 de setembro de 2009A venda da montadora alemã Opel à fabricante de autopeças áustrio-canadense Magna ainda não está totalmente esclarecida. O governo federal e os estados alemães ainda estão discutindo com a matriz GM o financiamento definitivo da transação.
Entre a GM e a Magna também há muitas questões em aberto. Além disso, a GM causou surpresa generalizada na sexta-feira (11/09), ao impor novas exigências. A matriz reivindica pelos próximos três anos quatro dos oito postos da diretoria da New Opel, bem como o direito de preempção, ou seja, a preferência caso em dos futuros proprietários resolva revender sua parte.
Isso não deve ser confundido com um direito de recompra, assinalou o condutor das negociações da GM, John Smith. A GM só entraria em ação caso algum dos parceiros resolver sair do negócio. Smith excluiu qualquer interesse de recompra por parte da GM.
Crítica da oposição e de especialistas
Na Alemanha, os opositores da planejada venda continuam fazendo severas críticas. A oposição liberal, verde e esquerdista tem uma negociata e exige a divulgação das condições contratuais.
O especialista em indústria automobilística Wolfgang Meinig lembrou que a própria Magna está em graves dificuldades por causa da crise econômica. O setor automobilístico russo, com cujo respaldo a Magna conta para a compra da Opel, também está sofrendo uma drástica queda de faturamento. Até mesmo o presidente da Magna, Frank Stronach, prevê um processo difícil, considerando que a Opel não tem lucro há muito tempo.
Dúvida no futuro da Opel
O representante do Estado alemão na comissão fiduciária da Opel, Manfred Wennemer, reiterou suas críticas ao governo em Berlim. Ele advertiu que o Estado é que assumirá todo o risco. "Não temos nenhuma solução para tornar a Opel uma empresa competitiva no final das contas", avalia o ex-presidente da Continental. Dentro da comissão, Wennemer votou contra a transação com a Magna, argumentando que a Opel poderá estar novamente sob ameaça de insolvência dentro de alguns anos.
O governo alemão refutou as críticas, defendendo a decisão de venda da Opel como a melhor das alternativas. O presidente russo, Vladimir Putin, também endossa a transação. Para ele, a venda da Opel à Magna e ao Sberbank russo representa para o seu país uma chance de integração na economia europeia.
Resistência da Europa
A maior resistência a ser enfrentada pela Opel deverá vir da União Europeia. A Comissão Europeia deixou claro que as garantias financeiras estatais não podem ser o preço para a manutenção das fábricas da montadora alemã. Em outras palavras, o governo alemão deve ficar atento para que os recursos de 4,5 bilhões de euros, a serem liberados para a Opel ou Magna na forma de empréstimos e fianças, não sejam vetados pelas autoridades em Bruxelas como medidas prejudiciais à competitividade. A Comissão anunciou que convocará os ministros da Indústria do bloco para discutir o assunto.
O vice-premiê belga, Didier Reynders, exigiu uma investigação para excluir o risco de protecionismo por parte da Alemanha. As críticas por parte da Bélgica foram motivadas pelos planos da Magna de manter as quatro fábricas alemãs, mas fechar uma na Antuérpia. Na Espanha, os sindicatos anunciaram protestos, caso se cortem empregos na fábrica de Saragoça.
Negociações sobre a distribuição de encargos
Por outro lado, o ministro britânico da Indústria, Peter Mendelson, e o premiê polonês, Donald Tusk, não preveem efeitos negativos para seus países. O Ministério alemão da Economia comunicou que o governo em Berlim pretende encontrar uma solução conciliável com o direito europeu. Além disso, a Alemanha planeja negociar com o Reino Unido, a Espanha e a Polônia sobre uma divisão justa da planejada ajuda financeira de 4,5 bilhões de euros.
Segundo informações do conselho de empresa, a compra da Opel pela Magna não deverá fracassar por causa do quadro de funcionários. O conselho de empresa europeu já assegurou à Magna há meses, por escrito, que os trabalhadores estariam dispostos a fazer a sua parte no processo de saneamento da empresa. Em contrapartida, eles esperam um maior direito de cogestão.
O presidente do sindicato dos metalúrgicos IG-Metall, Bertold Huber, assegurou a disponibilidade dos trabalhadores de contribuir para a consolidação da Opel, mas também exigiu garantias sobre a manutenção das fábricas e rejeitou demissões motivadas por circunstâncias empresariais.
SL/afp/ap/dpa/rtr
Revisão: Augusto Valente