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Comprar uma arma de fogo nos EUA é fácil e rápido

16 de janeiro de 2013

A regra se confirma: em vez de intimidar, massacre de Newtown incentiva norte-americanos a comprar ainda mais armas. Repórter da DW vai às lojas e confere a simplicidade do procedimento.

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Foto: picture-alliance/dpa

"Ah, leve uma Glock 9mm", aconselha, simpático, o rapaz louro do meu lado, "ela atravessa paredes, portas, praticamente qualquer coisa". E acrescenta, prestativo: "Depende um pouco do tamanho da sua mão" – ambos olhamos para minha mão esticada – "mas com uma Glock, não tem erro".

Assim como eu, o jovem, que calculo ter em torno de 20 anos, encontra-se na fila de compradores de uma loja de armamentos na Virgínia. Ele me conta que está procurando uma pistola bem específica, por isso já esteve aqui na semana passada. "Mas eles estavam com o estoque praticamente esgotado."

A loja, ao sul da capital norte-americana Washington DC, abriu há uns 20 minutos, mas os três vendedores mal dão conta da grande afluência de fregueses. Segundo as estatísticas, nove entre dez norte-americanos possuem uma arma de fogo, e continuam comprando mais. Quantas armas trocam de proprietário, de fato, ninguém sabe, pois em muitos casos não é necessária qualquer formalidade.

Como se fosse uma bicicleta

Porém, quão fácil é, realmente, comprar uma pistola nos Estados Unidos? A alternativa mais simples é uma feira de armas de fogo, as populares gun shows. Aqui não há qualquer tipo de verificação de antecedentes nem se fazem perguntas. Tanto negociantes quanto particulares podem colocar à venda suas pistolas e espingardas.

Uma outra possibilidade é a internet. Mas, para mim, como compradora de primeira viagem, acho muito arriscado. Quem é que vai querer dar suas informações pessoais a um site anônimo? Para me informar o mínimo sobre o tema, encontro-me com um conhecido, "John" – que prefere não ter seu nome verdadeiro publicado.

Ele cresceu num lugarejo do estado da Virgínia, onde, como relata, as armas de fogo faziam parte do cotidiano. "Eu tinha uns 9 anos quando atirei pela primeira vez." Aos 18 anos, comprou sua primeira espingarda, uma Winchester. Atualmente, ele possui diversas armas. John insiste nas formalidades, ao vender ou comprá-las, embora isso não seja obrigatório em seu estado.

Symbolbild Waffe Waffengesetz USA Ausweitung
Principiantes são bem-vindos nas lojas de armamentos dos EUAFoto: picture alliance/dpa

Quem lá reside pode vender uma arma a outros cidadãos da Virgínia como se fosse uma bicicleta, sem checagem de antecedentes, sem documentos. John não concorda com isso. "Se eu não possuo mais a arma, isso deve estar documentado, para que eu não seja mais responsável por ela", diz, pois quem sabe o que o comprador terá feito, em dez anos.

Sem tempo para jornalistas

Quando se compra uma arma numa loja da Virgínia, a checagem de antecedentes transcorre rapidamente, conta John. Caso nada conste, dentro de duas ou três horas o comprador já pode levar o objeto consigo, pelo menos no caso de uma pistola ou de um fuzil semiautomático.

Decido ir diretamente a uma loja, alguns dias mais tarde, porém no estado de Maryland, onde estou registrada. Já no primeiro estabelecimento que visito pela manhã, o movimento é grande. Ele se situa numa rua comercial típica, entre um restaurante taiwanês e uma loja de animais.

Chega a minha vez. Eu me identifico como jornalista que gostaria de saber se e como se pode comprar uma arma. "Hum, deixe ver se eu posso falar com a senhora", diz o vendedor, e desaparece num aposento adjacente. Pouco mais tarde, o gerente me comunica que devo me dirigir ao assessor de imprensa. Este se encontra numa outra loja e infelizmente não tem tempo para falar comigo.

Caminho aberto a calouros

Vou a outra loja de armamentos em Maryland, mais para o leste da cidade. Também aqui o movimento é intenso, pouco após a abertura. Desta vez, sou simplesmente uma cliente.

"Como posso ajudá-la?", me interpela, gentil, a vendedora. "Antes de mais nada, tenho uma série de perguntas", replico. "Primeira vez?", pergunta, e quando faço que sim, ela prossegue: "Sem problema, meu colega pode ajudá-la, temos muita gente que compra uma arma pela primeira vez, homens e mulheres."

Seu colega, que acaba de atender uma senhora de meia idade, aponta para um cartaz. "Então primeiro a senhora tem que ir a este site e fazer o curso. No fim, recebe um certificado, que traz aqui, e eu posso lhe vender uma arma."

Eu quero saber: "Eu moro em Maryland, mas não sou norte-americana. Posso comprar uma pistola, mesmo assim?" "Tem o green card?", ele pergunta. Eu digo sim, que possuo o visto oficial de trabalho e permanência. "Então não tem problema", é a resposta.

Amerikaner in einem Waffenladen
Nas lojas: oferta ampla, estoques limitadosFoto: picture-alliance/dpa

"Curso" de meia hora

Ninguém vê qualquer problema em me vender uma arma, embora esteja claro que eu não tenha a menor noção de como lidar com uma. Ainda pergunto quanto dinheiro vou precisar investir. "De 300 a 600 dólares", é a resposta.

Vou para casa e me sento diante do computador. No site da polícia de Maryland, fico sabendo que o "curso de segurança para armas de fogo" dura cerca de 30 minutos.

Digito meu nome, data de nascimento e número de carteira de motorista e vou clicando adiante. Aprendo algo sobre os diferentes tipos de revólver, sou instada a guardar separadas a arma e a munição e, se possível, a manter a arma num cofre.

Pergunto-me: então como é que vou estar a postos, à noite, quando vier o gângster de máscara de esqui, contra o qual os sites das lojas de armamentos tanto me alertam?

Dentro de 30 minutos, de fato, terminei o curso online, e como prova posso imprimir o certificado. Parte dele devo enviar de volta para a polícia. E aí não há mais nada que me impeça de comprar a minha primeira pistola.

Agora, só falta comprar

Falta ainda o comerciante realizar uma checagem de antecedentes, ou seja, enviar meus dados pessoais para a polícia. "Normalmente demora sete dias", ele me avisara, "mas eles estão tão atrasados que a senhora precisa contar com duas ou três semanas".

No fim do dia, ainda vou até aquela loja na Virgínia, onde espero quase três quartos de hora até ser atendida. Quero saber se também posso comprar uma pistola aqui, onde tudo é mais simples e rápido?

O vendedor esclarece: "A senhora pode comprar aqui, mas teríamos que enviar a arma para um comerciante em Maryland, para a senhora a receber lá e completar as formalidades. Só que estamos com tanto trabalho que no momento não fazemos isso, lamento".

Eu agradeço e saio da loja. Agora, eu poderia ir até o negociante em Maryland, escolher uma pistola e, em duas a três semanas, simplesmente levá-la para casa comigo. Uma perspectiva que não me deixa especialmente à vontade.

Autoria: Christina Bergmann (av)
Revisão: Alexandre Schossler