Arquivos da Stasi
10 de maio de 2007O volume investido pelo governo federal alemão foi de mais de seis milhões de euros no projeto desenvolvido pelo Instituto Fraunhofer de Máquinas de Produção e Técnica de Construção. O objetivo é recompor eletronicamente os cerca de 600 millhões de pedacinhos de 45 milhões de páginas de documentos encontrados nas instalações da Stasi (polícia política da ex-Alemanha Oriental) por ocasião da queda do Muro de Berlim, em 1989.
Jan Schneider, 36 anos, um dos coordenadores do projeto, conta que as tirinhas de papel vão ser colocadas numa esteira e de lá encaminhadas à digitalização através de um escaner, que poderá ler frente e verso dos documentos.
O software poderá identificar a cor do papel, o tipo de letra, carimbos e as margens do papel. Como se estivesse formando um quebra-cabeça, o computador reúne imagens afins, tão logo consiga detectar alguma semelhança entre os fragmentos em questão.
"É muito interessante decodificar os documentos da Stasi. Você tem a sensação de estar escrevendo história", diz Schneider. A tarefa de recompor esses documentos foi facilitada pela fixação pela ordem dos oficiais da Stasi, que rasgavam manualmente os papéis e os atiravam em lixeiras que ficavam embaixo de suas mesas. Logo, os documentos acabavam não sendo misturados com outro tipo de lixo.
Antes do fim
Com o fim do regime comunista, em 1989, o Ministério para a Segurança Estatal incendiou e destruiu vários documentos e rasgou outros. Os incinerados não podem mais ser recuperados, mas as tiras e os pedaços rasgados manualmente foram recolhidos depois da queda do Muro de Berlim e estão, até hoje, praticamente intactos, embora desordenados.
O projeto de reconstrução do material visando reorganizar esses papéis, de forma que eles possam ser lidos, começou com 15 funcionários de um escritório nas imediações de Nurembergue, que trabalham desde 1995 em cima de 323 sacos. Com aproximadamente 16 mil sacos de fragmentos a serem identificados, 30 funcionários levariam entre 600 e 800 anos para fazer o rastreamento manual do material.
Lacunas nos arquivos
Em 2003, o governo rejeitou a proposta de destinar 50 milhões de euros para a digitalização de todo esse acervo de papel, mas o Parlamento aprovou um projeto-piloto mais modesto. Cada fragmento será escaneado e um computador tentará reunir as imagens com outras do mesmo saco, a partir de uma comparação da forma e diagramação.
A Alemanha já abriu vários documentos intactos da Stasi para historiadores e para familiares das vítimas da polícia política, com a intenção de ajudá-los a identificar os informantes na sociedade comunista de então, guiada pelo medo da denúncia. No entanto, há ainda várias lacunas nos arquivos existentes.
A equipe que trabalha com o material sob a coordenadoria de Marianne Birthler, antiga ativista dos direitos humanos na ex-Alemanha Oriental e hoje diretora dos arquivos da Stasi, diz que 400 sacos a mais poderão ser processados nos próximos dois anos, um número maior do que o reconstituído pelos funcionários no mesmo período de tempo.
Novas descobertas à vista
Günter Bormann, representante dos arquivos, afirma que os sacos de papel a serem escaneados e reunidos contêm documentos relativos aos anos de 1988 e 1989, quando o regime comunista já ameaçava ruir. Nenhum deles, porém, remete à espionagem da Alemanha Oriental no exterior. Os documentos deste departamento foram destruídos quase que por completo.
Não se sabe ainda o que vai acontecer quando o projeto-piloto estiver encerrado. Até hoje, vários documentos pertencentes aos arquivos da Stasi já foram úteis para desmascarar o passado de pessoas que, após a queda do Muro, tentaram omitir o passado de prestação de serviços à polícia política.
O parlamentar Klaus-Peter Willsch afirma que o rastreamento dos documentos poderá ajudar a revelar o nome de mais informantes da Stasi e puni-los por isso. Ele acredita que todos os 16 mil sacos poderiam ser reconstruídos por menos de 30 milhões de euros. (sv)