Comércio com poluição causa batalha em dois fronts
27 de fevereiro de 2004De um lado está o ministro da Economia, Wolfgang Clement, do Partido Social Democrata (SPD), que teme desvantagens para a economia alemã. De outro, as indústrias não querem cumprir o que prometeram há dois anos e sua organização de cúpula ainda exige a demissão de Trittin.
O comércio com certificados de emissões de dióxido de carbono vai começar na União Européia em 2005. Numa discussão do gabinete da Alemanha (carro-chefe da economia da UE) sobre a questão, em Berlim, nesta semana, os ânimos foram tão acirrados que ninguém quis se posicionar depois para a imprensa. A Confederação Alemã da Indústria (BDI), por sua vez, deixou claro que o setor não quer praticamente aceitar nova redução de suas emissões de dióxido de carbono até 2010 em relação ao nível da atualidade.
Nova ameaça à já fraca conjuntura?
- Numa carta ao chanceler federal, Gerhard Schröder, o presidente da BDI, Michael Rogowski, exigiu apoio do governo, inclusive com uma demissão do ministro do Meio Ambiente. O empresário alega que mais reduções no volume de poluição ameaçariam novos postos de trabalho e a competitividade das indústrias na Alemanha, o que seria da maior gravidade nestes tempos de baixa conjuntura, com alta taxa de desemprego.O comércio de emissões funciona assim: cada país distribui primeiro gratuitamente ações de partida às suas empresas para serem comercializadas na UE. Quem menos gerar poluição pode vender. O preço será determinado pelo mercado. O problema é que as empresas alemãs acham que vão começar com desvantagem, uma vez que já reduziram consideravelmente suas emissões.
Toneladas de poluição
- Trittin diz que quer, com o comércio de emissões, ajudar as indústrias a cumprir na prática a sua promessa voluntária de poupar 45 milhões toneladas de dióxido de carbono até o ano 2012. Em seu polêmico plano nacional de alocação, ele exige que as 2600 fábricas e usinas de energia elétrica, que vão participar do comércio com poluição, reduzam as 505 milhões de toneladas de dióxido de carbono que expelem hoje para 480 milhões de toneladas até o ano 2010.A BDI quer reduzir minimamente estas emissões para 498 milhões de toneladas. Para o diretor do Departamento de Meio Ambiente da organização, Klaus Mittelbach, isto não significa que as indústrias vão parar de poupar energia e de gerar poluição, "pois as emissões adicionais terão de ser compensadas tanto pelo crescimento econômico esperado de 2% ao ano quanto pela substituição da energia atômica por fontes alternativas". O governo alemão firmou um acordo com o setor energético para desativar, paulatinamente, todas as 19 usinas nucleares do país. Uma já parou de gerar energia.
Pelo tratado da União Européia baseado no Protocolo de Kyoto, a Alemanha tem de reduzir suas emissões até 2010 para 21% abaixo da marca registrada em 1990. Já foram alcançados 19%.