Afeganistão
20 de julho de 2010O presidente afegão, Hamid Karzai, apelou por uma maior soberania de seu país durante a conferência internacional sobre o Afeganistão realizada nesta terça-feira (20/07) em Cabul. Além de exigir que a responsabilidade pela segurança seja entregue aos afegãos até 2014, Karzai solicitou um maior controle sobre a ajuda financeira bilionária proveniente do Ocidente.
Com o objetivo de discutir o futuro da região, cerca de 40 ministros de Relações Exteriores e outras autoridades do alto escalão de mais de 60 países participaram da conferência na capital afegã. Entre eles, o ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, e sua colega de pasta norte-americana, Hillary Clinton. O encontro foi presidido por Karzai e pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
No período da manhã, o aeroporto de Cabul fora bombardeado pelos talibãs. Segundo o ministro sueco do Exterior, Carl Bildt, o ataque dificultou a chegada de diversos participantes ao encontro. O avião da ministra das Relações Exteriores da Dinamarca, Lene Espersen, teve de ser desviado para o Cazaquistão, de forma que Espersen não pôde participar da conferência.
Atentado frustrado
Em seu blog, Bildt relatou que, devido ao ataque, o avião que o levava juntamente com Ban Ki-moon teve de pousar na base norte-americana de Bagram, nos arredores da capital afegã. De lá, Ban Ki-moon e o ministro sueco foram levados de helicóptero para a conferência de países doadores.
Antes do início da reunião, as já fortes medidas de segurança foram ainda mais acirradas em Cabul. A força internacional de segurança para o Afeganistão (Isaf) informou, nesta terça-feira, que impediu um ataque terrorista à capital afegã. Segundo a Isaf, diversos militantes radicais islâmicos talibãs que planejavam atacar a conferência foram mortos em uma operação militar próxima a Cabul.
Na última conferência internacional sobre o Afeganistão, realizada em Londres em janeiro, a comunidade internacional pressionou para que a responsabilidade pela segurança do país fosse transferida paulatinamente para os afegãos. Desde a conferência de Londres, no entanto, a situação no país piorou, afirma Said Wali, empresário de Kandahar: "No começo do novo governo tínhamos muita esperança. Mas agora a perdemos. Todos os dias ouvimos no noticiário que se gasta muito dinheiro com o Afeganistão, mas não acontece absolutamente nada. Na nossa vida, não noto grandes mudanças".
Falta de recursos
O último semestre foi o mais sangrento desde o início da missão da Isaf em 2001. Com vista a esse desenvolvimento, o Exército afegão não se considera preparado para assumir a responsabilidade pela segurança do país, como foi sinalizado em Londres no início do ano.
Segundo o porta-voz do Ministério afegão da Defesa, general Zaher Azimi, isso não se deve à superioridade dos talibãs, mas aos problemas das Forças Armadas afegãs. "Não podemos agir de forma autônoma porque não temos, por exemplo, força aérea. Automóveis blindados também nos faltam totalmente", disse o porta-voz.
Por outro lado, o ministro afegão das Finanças, Omar Zakhelwal, critica abertamente os parceiros de seu país. Eles deveriam cumprir com seus compromissos, declarou o ministro. Como foi combinado em Londres, em breve, o governo afegão espera dispor de mais da metade da ajuda financeira internacional destinada ao Afeganistão. Atualmente, Cabul controla somente 20% desse dinheiro.
Desconfiança ocidental
Temendo a corrupção, muitos países doadores estão céticos, todavia, quanto ao aumento do controle afegão sobre o dinheiro enviado pelo Ocidente. Os países ocidentais temem desfalques e o mau uso do dinheiro enviado para reconstrução do Afeganistão.
Quanto à opinião da população afegã em relação aos programas de reconstrução, ela é, sobretudo, negativa. O fato de no norte – onde a situação de segurança é melhor – essa opinião ser mais positiva deixa claro que a segurança é um fator determinante para o país. No sul, onde há mais violência, a população tem pouca esperança.
Segundo fontes oficiais, até o momento, o Afeganistão recebeu quase 28 bilhões de euros do exterior. Esse dinheiro foi destinado principalmente a investimentos na infraestrutura de regiões relativamente seguras. Alguns afegãos criticam, todavia, que a comunidade internacional tenha investido principalmente em instalações de segurança.
"Caminho certo"
Além da reconstrução, a segurança do país foi um dos principais temas tratados pela atual conferência em Cabul. Nesta terça-feira, a conferência internacional aprovou um cronograma de transferência da responsabilidade pela segurança do país para os afegãos até 2014.
Desde sua chegada a Cabul, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, disse apoiar o cronograma. "No ano 2014, o controle da segurança deverá ser passado ao governo afegão", disse o ministro.
Ao jornal Hamburger Abendblatt, Westerwelle declarou todavia que "a transferência da responsabilidade pela segurança ao governo afegão não significa nem a retirada imediata [dos soldados alemães] nem o fim de nosso engajamento." A secretária norte-americana de Estado, Hillary Clinton, afirmou, por sua vez, que a conferência seria o começo de "uma nova fase, não o fim de nosso engajamento".
Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), salientou que a comunidade internacional estaria "no caminho certo". Rasmussen afirmou que a conferência teria transcorrido de forma positiva e saudou o fato de se ter aprovado um cronograma.
CA/dw/epd/dpa/apn
Revisão: Roselaine Wandscheer