1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Conflito na Síria completa três anos sem fim à vista

Marcus Lütticke (ca)15 de março de 2014

O que começou em março de 2011 como um movimento democrático de protesto na esteira da Primavera Árabe transformou-se numa guerra sangrenta. Crise na Ucrânia beneficia regime de Assad.

https://p.dw.com/p/1BQMQ
Foto: Reuters

Enquanto a comunidade internacional observa atentamente os desenvolvimentos na Ucrânia, outro conflito perde cada vez mais o interesse da opinião pública. Nos últimos três anos, uma guerra brutal vem assolando a Síria. Estima-se que 140 mil pessoas já tenham morrido nos confrontos. Mesmo assim, ainda não se vislumbra um fim para a guerra civil, que já provocou a fuga de 2,4 milhões de pessoas.

O levante popular contra o regime de Bashar al-Assad já se transformou há muito tempo numa guerra confusa e com muitas frentes. Diferentes grupos lutam entre si pela hegemonia regional.

Inimigos desde o início

Segundo André Bank, especialista em Síria do Instituto de Estudos Globais e Regionais (Giga), de Hamburgo, atualmente é possível dividir as partes conflitantes em quatro grupos maiores.

O primeiro grupo é formado pelos apoiadores de Bashar al-Assad. Além das unidades do Exército sírio fiéis ao regime, esse grupo também inclui as milícias. "São as chamadas Shabiha – antigas redes criminosas que ganharam bastante influência nos últimos anos", afirma Bank.

No segundo grupo está o Exército Sírio Livre – uma coalizão de diferentes associações de milícias, fundado em julho de 2011. Essas foram as primeiras unidades armadas que lutaram com o regime de Assad, disse Bank, afirmando ainda que muitos dos combatentes seriam desertores do Exército regular sírio.

Novas frentes

As milícias islamistas formam o terceiro grupo. Por sua vez, elas se diferenciam entre si, mas são também bastante fortes. Entre elas, estão o Isis (Estado Islâmico do Iraque e da Síria, em inglês) e também a frente Al Nusra. Como milícias jihadistas, ambas estão próximas da rede Al Qaeda. "Às vezes, estes dois grupos lutam até mesmo um contra o outro", explicou o especialista do Giga. No início do ano, o líder da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, distanciou-se claramente do Isis.

Syrien Bürgerkrieg Kämpfer von Al Nusra Front
Combatentes da frente Al Nusra na SíriaFoto: picture-alliance/AP

O quarto grupo é formado pelas milícias curdas. "Aqui o partido PYD, o desdobramento do partido turco-curdo PKK e suas unidades de combate estão em ação." Eles controlam as regiões na fronteira com a Turquia e norte do Iraque.

Nessa situação confusa de conflito, até agora, a comunidade internacional não obteve nenhuma solução para dar um fim ao derramamento de sangue. A Rússia e o Irã são considerados os apoiadores mais importantes de Assad. Já o Ocidente está do lado das forças moderadas do Exército Sírio Livre.

A Arábia Saudita e os Estados do Golfo apoiam os oposicionistas islamistas, apesar de há poucos dias o governo saudita ter proibido o Isis e a frente Al Nusra, após classificá-los oficialmente como grupos terroristas.

Negociações sem resultados

Também a Conferência Internacional sobre a Síria, que aconteceu em janeiro e fevereiro deste ano, em Genebra, na Suíça, sob a direção do enviado especial das Nações Unidas Lakhdar Brahimi, não trouxe avanços.

O regime Assad chama a oposição de "terroristas", com quem é impossível formar um governo de transição. A oposição, por sua vez, condiciona a formação de um novo governo à saída de Assad. Não se sabe, porém, até que ponto as partes negociadoras têm alguma influência sobre os combatentes locais.

Genf Syrien-Gespräche 15.2.2014
Lakhdar Brahimi dirigiu conferência em Genebra sobre a SíriaFoto: Philippe Desmaze/AFP/Getty Images

Apesar disso, é preciso dar continuidade a esse processo, disse Volker Perthes, especialista em Oriente Médio e diretor do Instituto de Relações Internacionais e de Segurança (SWP) em Berlim. "É importante que esse processo de Genebra exista."

Perthes sugere que tal processo seja complementado. Para ele, é possível organizar um encontro de diferentes grupos sociais, "que são reunidos pela primeira vez para conversar entre si e discutir se realmente querem um Estado unitário comum e, se a resposta for positiva, como esse Estado deve ser."

Afinal de contas, disse Perthes, a sociedade está definitivamente interessada numa transição. "São os grupos armados que não querem a transição, o comprometimento e a divisão do poder."

A influência das potências mundiais

Essa transição só pode ser bem-sucedida se os EUA e a Rússia encontrarem uma posição comum. Foi a pressão dos dois países que levou, finalmente, Assad a ceder quanto à destruição das armas químicas, mas a implementação do plano transcorre lentamente.

Segundo dados da Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq), a Síria está disponibilizando só muito lentamente o seu arsenal de armas químicas para a destruição. Um porta-voz do Departamento de Estado americano criticou que, dessa forma, possivelmente a Síria não irá cumprir o prazo para destruir todas as suas armas químicas até junho deste ano.

O conflito na Ucrânia e o subsequente esfriamento de relações entre Moscou e Washington veio a beneficiar Assad. A Rússia irá se mostrar menos cooperativa e os países ocidentais terão menos interesse numa cooperação com a Rússia.

"Um estrategista como Assad vai perceber isso e vai se sentir menos forçado a continuar cooperando com os inspetores de armas químicas", afirmou Perthes.