Energia solar do deserto
28 de fevereiro de 2011O sol brilha no norte da África e no Oriente Média cerca de 3 mil horas por ano, ou seja, por um tempo três vezes maior do que na Alemanha. O fato evidencia o quão vantajoso seria, para a Europa, converter essa energia solar em eletricidade e exportá-la para o continente.
Para que esse objetivo seja alcançado, fundou-se a iniciativa industrial Desertec. Um projeto ambicioso, que quer, ao mesmo tempo, promover ajuda ao desenvolvimento nos países do norte africano e assegurar o abastecimento de energia na Europa.
No entanto, os conflitos na região trouxeram alguns questionamentos quanto ao futuro do Desertec. Já teria a energia do deserto virado história antes mesmo de a primeira usina ser conectada à rede de transmissão?
Estima-se que até 400 bilhões de euros serão necesários nas próximas quatro décadas para transformar o projeto em realidade. Paul van Son, presidente do Desertec, ocupa-se quase diariamente de esclarecer por que se deveria investir tanto dinheiro já nos próximos meses numa região de instabilidade política.
Segundo Van Son, o ambiente político incerto não deve ser visto apenas como um perigo, mas também como oportunidade. Já agora, os investimentos são mais importantes do nunca: "Por meio de uma forte cooperação entre Europa e esses países pode-se conseguir a estabilidade."
Com ajuda alemã
O objetivo da iniciativa Desertec é construir grandes usinas solares e eólicas no norte da África e no Oriente Médio para que, até 2050, seja abastecida grande parte da população local e suprida 15% da demanda europeia.
O grupo espera obter apoio político principalmente da Alemanha, por meio do Deutsche Bank, da Siemens, da Schott Solar e das companhias de energia E.ON e RWE. Por esse motivo, o governo alemão acompanhou o projeto com interesse desde seu início.
Um primeiro modelo do Desertec deverá ser implantado no Marrocos. O país já trabalha em planos próprios de desenvolvimento da energia solar e anunciou uma usina em Ouazazarde. O Desertec planeja ali uma planta para energia solar térmica e fotovoltaica.
No máximo em cinco anos deverá ser iniciada a produção de 500 megawatts, dos quais 33% devem ficar no Marrocos e o restante deve ser exportado para a Europa.
Relações entre a África e a Europa
O governo alemão disse apoiar a iniciativa, e afirmou que não deve retirar apoio com o aumento da insegurança política na região. "A parceria energética com o Marrocos pode ser um modelo para outras parcerias com a Tunísia, Egito ou Argélia", afirmou o ministro alemão de Economia, Rainer Brüderle, num encontro com o ministro marroquino de Energia.
Os europeus estão sendo convocados a oferecer, já agora, um sinal claro e providenciar ajuda mútua. Um projeto como o Desertec poderia assumir, de uma vez, várias tarefas: assegurar o abastecimento do mercado europeu, prestar ajuda ao desenvolvimento do norte da África e ajudar na estabilização da região.
Um grande desafio é o transporte dessa energia do norte africano para a Europa. Atualmente há apenas uma linha de transmissão entre o Marrocos e a Espanha. Está programada uma ligação entre a Tunísia e a Itália, uma outra na Argélia ainda será discutida.
Klaus Töpfer, ex-ministro alemão do Meio Ambiente e, posteriormente, chefe do programa ambiental da ONU, não encara o problema como insolúvel. Segundo Töpfer, que é conselheiro do projeto, a China já dispõe de uma técnica de linha de transmissão de alta tensão que permite o transporte de energia por mais de 5 mil quilômetros.
Quem pagará a conta?
O consórcio Desertec, que reúne cerca de 50 empresas europeias e norte-africanas, procura financiamento tanto público como privado. Ainda não existe uma parceria concreta. Portanto, ainda é incerta a contribuição de investidores privados e se poderá haver financiamento, por exemplo, do Banco Mundial ou do banco alemão de fomento KfW.
Klaus Töpfer afirma, no entanto, que é certo que a conta não poderá será paga apenas pelos consumidores europeus. Afinal, o Desertec não é um empreendimento puramente europeu: "É um projeto na África e especialmente para a África, que será refinanciado por meio da exportação de energia para a Europa. O projeto depende da aceitação local e da possibilidade de ser oferecida energia acessível
à população da área".
Autora: Sabine Kinkartz (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer