Cresce venda de carros potentes na Alemanha
4 de setembro de 2006A Alemanha recicla ou reaproveita 65% de todo o lixo gerado no país: trata-se de um dos mais altos índices do mundo. Os espaços públicos do país, de modo geral, são limpos e o consumo de produtos orgânicos cresce a cada dia, características que refletem o elevado grau de conscientização ecológica da população. Porém, quando o assunto é carro, o consumidor alemão caminha em outra direção.
Segundo um estudo realizado pela Escola Superior Técnica de Gelsenkirchen, o porcentual de carros com potência inferior a 70 HP em relação ao total de automóveis novos vendidos no país despencou de 17% para 9% entre 2000 e 2006. No mesmo período, a participação dos veículos com potência entre 70 e 190 HP no mercado dobrou, chegando aos 27%. Isso apesar dos preços crescentes dos combustíveis – atualmente, na Alemanha, o litro da gasolina custa, em média, entre 1,20 euro e 1,50 euro.
No Brasil, por exemplo, os automóveis de motor 1.0 litro (1000 cilindradas) respondem pela metade de todas as vendas de veículos novos, de acordo com dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Na França, estatísticas do Comitê dos Construtores Franceses de Automóveis (CCFA) dão conta de que, em 2005, os carros da categoria classificada como inferior representaram 38,7% das vendas para o mercado interno.
Carros "superpotentes"
Segundo Ferdinand Dudenhöffer, professor da Escola Técnica Superior de Gelsenkirchen e autor do estudo que relacionou preços da gasolina e consumo de veículos na Alemanha, em 2006 a venda dos carros "superpotentes", com até 350 cavalos, dobrou em relação ao ano anterior. O crescimento aconteceu apesar de um aumento de cerca de 33% nos preços da gasolina, que atingiram os patamares mais altos da história.
De acordo com ele, uma das explicações para o resultado está no fato de que a decisão da compra de um automóvel na Alemanha não costuma ser tomada por razões predominantemente racionais. "O carro é sempre um produto emocional. Em muitos casos, na hora de assinar o contrato de compra, o consumidor não tende a pensar nos gastos com o abastecimento", destaca o docente.
Além disso, para Dudenhöffer, um carro não é visto apenas como um meio de transporte. "Os alemães dão grande valor para os automóveis. A valorização de um ser humano se dá fortemente pelo veículo que ele dirige", analisa.
Emissões de CO2
A escolha dos alemães pelos carros potentes esbarra também na questão ambiental, que tem forçado os fabricantes de veículos a repensar conceitos. Recentemente a União Européia advertiu a indústria automotiva do continente sobre os altos índices de emissões de dióxido de carbono e ameaçou impor uma nova legislação para reduzir o problema.
Embora tenham se comprometido a diminuir as emissões para 140 gramas de dióxido de carbono por quilômetro até 2008, Volkswagen, Volvo e Fiat ainda estão longe de atingir a meta, só conseguindo baixar o indíce para 161 gramas. A Comissão Européia criticou o tímido progresso.
O comissário de Comércio da União Européia, Günter Verheugen, acredita que o objetivo não será alcançado. "A situação não é satisfatória. A indústria precisa intensificar os esforços para cumprir o prometido", disse.
O porta-voz da Comissão Européia, Gregor Kreuzhuber, afirmou que a entidade irá intervir caso os fabricantes não se adeqüem aos padrões combinados. "Se as empresas não se submeterem voluntariamente, a Comissão vai entrar no jogo com ações regularizadoras", ameaçou.
Mudança para o diesel
Dudenhöffer alerta que os altos custos da gasolina motivaram um aumento na compra de veículos a diesel, que já representam 45% das aquisições de automóveis novos na Alemanha. Ele lembra que essa escolha permite ao consumidor conciliar a opção por um carro potente com custos mais baixos na hora de abastecer.
Segundo o docente, a preferência alemã por veículos com maior potência deve permanecer, mesmo que o motorista opte pelo diesel. Um dos fatores que deve contribuir para essa tendência seria o crescimento nas vendas de pequenos utilitários, como picapes ou jipes de uso misto (vias urbanas e rurais), que acabam demandando mais cavalos-potência que um veículo compacto normal.
Apesar dos inúmeros avanços tecnológicos da indústria automobilística, que consegue fabricar carros mais potentes com motores de menor cilindrada, o docente ressalta que os veículos mais potentes sempre vão consumir mais combustível que os demais e que os preços do petróleo e derivados devem seguir subindo, fazendo com que se torne cada vez mais caro o prazer do alemão de dirigir em alta velocidade.