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Promover valores humanos

Hans Jürgen Mayer (as)24 de julho de 2007

Líder espiritual tibetano faz críticas ao governo chinês, fala sobre as motivações que regem a sua vida e comenta a importância de sua viagem à Alemanha.

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Dalai Lama voltou a denunciar o desrespeito aos direitos humanos no TibeteFoto: AP

O Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, declarou em entrevista à DW-WORLD que sua principal motivação não é a causa do Tibete, mas a promoção dos valores humanos.

"Acho que todo ser humano tem a responsabilidade de melhorar o mundo", afirmou em Hamburgo, durante uma visita de dez dias à cidade.

Ele também criticou o governo chinês e disse que o desrespeito aos direitos humanos continua sendo um problema sério no Tibete.

O Tibete foi invadido pela China em 1950, tornando-se uma província chinesa. Em 1959, após uma rebelião oposicionista sufocada pelo governo chinês, o Dalai Lama deixou o Tibete, passando a viver na Índia. Hoje, o Tibete é considerado uma província autônoma da China.

DW-WORLD: Sua Santidade, o senhor poderia fazer um relato sobre os direitos humanos no Tibete?

Dalai Lama: Continua muito séria. Há cerca de um mês encontrei um tibetano que passou oito anos numa prisão chinesa. Seu único crime, ocorrido num vilarejo perto de Lhasa, foi expressar seus próprios sentimentos.

A China reagiu de maneira muito dura quando o senhor falou sobre a causa do Tibete em Hamburgo. Isso o surpreendeu?

De forma alguma. Mesmo que eu fique quieto. Há sempre algum tipo de condenação. Eles apenas continuam agindo dessa maneira.

Qual sua opinião sobre o comportamento do governo alemão em relação ao Tibete? Berlim faz o suficiente pela sua causa?

O governo alemão é como outros governos – basicamente compreensivo. Certamente há um sentimento de preocupação. A questão é se isso é adequado. Expressões de preocupação do exterior são bem-vindas. Isso é necessário e nos ajuda.

Quais são seus objetivos quando o senhor visita outros países?

Meu principal objetivo e motivação não é a causa do Tibete, mas antes a promoção de valores humanos no sentido de que haja indivíduos, famílias e comunidades mais felizes – e, nesse sentido, uma humanidade mais feliz. Eu considero ser essa a minha contribuição. Acho que todo ser humano tem uma responsabilidade de melhorar o mundo. Essa é a minha convicção, e eu sempre tento promovê-la.

Meu segundo objetivo é a promoção da harmonia religiosa. Quando ensino na Índia, mais e mais chineses comparecem. Às vezes, o governo chinês coloca restrições para impedir os chineses de vir à Índia. Mas, apesar disso, alguns chineses sempre vêm. Muitos deles dizem que, após conhecer a comunidade tibetana, encontram grandes diferenças em relação ao que eles ouviram na China. Eventualmente há impactos positivos.

O senhor disse que pode ser o último Dalai Lama. O que o senhor quer dizer com isso?

Já em 1969, eu deixei claro, numa declaração oficial, que depende do povo tibetano se a instituição do Dalai Lama deve ou não continuar. Isso significa que, se a maioria dos tibetanos decidir que a antiga instituição do Dalai Lama não é mais relevante para a nação tibetana, ela deixará de existir. Se eu vier a morrer logo, acredito que a maior parte do povo tibetano quererá manter a instituição. Se eu viver mais 20 ou 30 anos, poderá ser diferente. É correto que seja assim. Seria um final com dignidade.

O senhor espera retornar ao Tibete?

Claro que sim. Todos os tibetanos têm saudade e esperam ver o seu país. Eu também. Mas, ao mesmo tempo, sou um monge budista. Assim, mentalmente e pessoalmente o lugar de nascimento não é tão importante. Há um ditado tibetano: "Lar é onde você se sente bem, e seus pais são todos aqueles que fazem coisas boas para você". Eu realmente gostei da atmosfera muito positiva de Hamburgo. Nos últimos nove dias, eu realmente senti que é a minha casa. Muitas pessoas, incluindo as da mídia, foram cheias de sorrisos. Como amigos.