Datafolha: Metade reprova gestão da pandemia por Bolsonaro
29 de maio de 2020Cada vez mais brasileiros reprovam a gestão da crise do novo coronavírus por parte do presidente Jair Bolsonaro, mostra uma pesquisa do Datafolha divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo na noite desta quinta-feira (28/05). Entre os entrevistados, 50% avaliou a atuação do presidente como sendo ruim ou péssima, um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao levantamento de abril.
Já em comparação com a primeira pesquisa que avaliou a condução do Bolsonaro na pandemia, realizada em março, houve um aumento na reprovação de 17 pontos percentuais. Na época, apenas 33% dos brasileiros consideraram a gestão do presidente ruim ou péssima.
A aprovação segue em 27%, mesmo índice do levantamento anterior, e os que consideram a gestão da crise regular são 22%, uma queda de três pontos percentuais em relação a abril.
A piora na avaliação de Bolsonaro reflete a turbulência vivida pelo governo, que perdeu dois ministros da Saúde em pouco menos de um mês e viu os números de casos e de mortes por covid-19 saltarem rapidamente. O país já tem mais de 438 mil infecções confirmadas da doença, e os óbitos em decorrência do novo coronavírus já passam de 26 mil.
A maior rejeição à condução de Bolsonaro na crise foi registrada no Nordeste e no Sudeste, com 52%. Entre os que ganham mais de 10 salários mínimos, 62% consideram a condução ruim ou péssima, e entre os mais instruídos esse índice é de 57%. Apenas 15% dos defensores do lockdown, modalidade mais radical de isolamento, acham Bolsonaro ótimo ou bom.
O Ministério da Saúde, agora sob o comando interino do general Eduardo Pazzuelo, também viu seu prestígio cair, ficando com 45% de ótimo/bom na mais recente pesquisa. No começo da crise, 55% aprovavam as ações da pasta, índice que subiu para 76% na gestão de Luiz Henrique Mandetta e caiu para 55% com Nelson Teich.
O Datafolha ouviu 2.069 pessoas, por telefone, entre segunda e terça-feira. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos.
Bolsonaro é crítico ao isolamento social e costuma minimizar a gravidade da pandemia., que chegou a chamar de "gripezinha". Mais de uma vez, o presidente provocou aglomeração em Brasília ao visitar o comércio. Além disso, participou ao menos três vezes de manifestações a seu favor, cumprimentando e beijando simpatizantes, indo contra a recomendação de médicos e de seu próprio governo. Em março, o presidente chegou a dizer que "ficar em casa é coisa de covarde".
Vários governadores, entre eles João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, têm uma visão diferente e tiveram embates com o presidente por considerarem necessárias medidas mais rígidas de isolamento. Isso se reflete na pesquisa: os governadores seguem sendo melhor avaliados do que Bolsonaro na gestão da crise.
No entanto, os chefes estaduais também viram o índice de satisfação cair: de 54% na pesquisa anterior para 50%. Para 24% dos entrevistados, seus governadores são regulares no combate à covid-19, e 25% estão insatisfeitos, um crescimento de 5 pontos ante a pesquisa anterior. Os governadores mais bem avaliados são os do Sul, com 68% de ótimo e bom, seguidos por Nordeste (53%), Norte/Centro-Oeste (52%) e Sudeste (50%).
Para 33%, Bolsonaro é muito responsável pela curva de infecção pelo novo coronavírus. Outros 20% acham ele um pouco responsável, e 45% o eximem de responsabilidade. Entre os mais ricos, o índice dos que acham o presidente muito responsável é de 42%, e entre os mais instruídos, de 43%. Entre os maiores de 60 anos, metade acha que ele não é o responsável, assim como 52% das donas de casa. Sobre os governadores, 19% acham que eles são muito responsáveis, e 20% os consideram um pouco responsáveis.
O Datafolha já havia revelado na quinta-feira que a rejeição ao presidente Jair Bolsonaro atingiu o nível mais alto desde o início de seu governo, com 43% de avaliação ruim ou péssima, quatro pontos percentuais a mais em relação ao levantamento anterior, divulgado em abril. Por outro lado, 33% o veem como bom ou ótimo, 22% como regular e 2% não souberam responder.
O resultado parece demonstrar um aumento da polarização da opinião pública. Em 2019, os dados mostravam uma divisão semelhante entre as três avaliações, mas agora, o grupo dos que consideravam o governo regular perdeu força, com parte desses brasileiros aparentemente mudando de opinião e passando a avaliar negativamente o presidente.
Na quarta-feira, o instituto revelou que 60% dos brasileiros é a favor do lockdown, ou seja, de medidas drásticas de confinamento para conter o avanço da doença.
LE/ots
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