Demolir ou preservar?
2 de julho de 2010O pavilhão alemão não fica longe do parque de exposições Giardini, local que abrigará a Bienal da Arquitetura de Veneza, cuja 12º edição começa em 29 de agosto. Em 2011, acontece ali também a Bienal da Arte, onde artistas jovens têm oportunidade de mostrar seus trabalhos para um público internacional.
No local, ficam outros 27 pavilhões nacionais. E um deles sempre choca: o pavilhão alemão, documento arquitetônico do regime nazista. Agora, a discussão sobre a demolição e construção de um novo prédio, provocada pela Federação dos Arquitetos na Alemanha, deixou o debate mais polêmico.
Documento nazista
É possível avistá-lo já nas proximidades do parque Giardini. Dali vê-se a laguna em direção à praça São Marcos e a enorme cúpula da Basílica de São Jorge na ilha logo em frente. O prédio, em si, não é muito convidativo. A entrada é um portal monumental de quatro pilares enormes sob um teto pesado. O amplo espaço é iluminado apenas por uma fileira de claraboias, e não é possível olhar para fora, ou avistar a laguna.
O presidente da Federação dos Arquitetos na Alemanha, Arno Sighard Schmid, fala sobre a relação do prédio com o passado: "O pavilhão, que em 1938 foi transformado em templo nazista por Ernst Haiger, é pouco apropriada seja para a arquitetura ou para a arte. Ele não tem ligação com a laguna, ou mesmo com a silhueta da cidade de Veneza", diz Schmid.
Segundo ele, o prédio, com sua pequena dimensão, mas um caráter monumental, refletia a imagem que os nazistas tentaram construir da Alemanha, uma situação que não condiz com a atualidade. "Não se trata apenas de uma questão estética, mas de uma questão emocional", concluiu.
História original
O pavilhão alemão em Veneza foi originalmente construído em 1909, como pavilhão bávaro, segundo o projeto de um arquiteto veneziano. A construção, com pilares na parte da frente, lembra um templo da Antiguidade. Em 1938, o pavilhão foi reformado pelos nazistas, que o adaptaram aos seus padrões arquitetônicos.
A dimensão do grande salão, e também o ambiente, sempre foram desafios para os artistas. Em 1993, o artista conceitual alemão Hans Haack quebrou o piso de travertino, onde Hitler e Mussolini já haviam pisado, e os fragmentos foram deixados ali. "Esperança fracassada" chama-se o trabalho artístico.
Para Susanne Gaensheimer, diretora do Museu de Frankfurt para Arte Moderna e curadora da Bienal de 2011, a arte não deve ser tão dramática. "Há também vários outros exemplos de pavilhões de arquitetura planejada com uma conotação ideológica, que mostram que justamente a preocupação ou também a confrontação com essa arquitetura resultaram em projetos e obras notáveis."
Na visão de Gaensheimer, é preciso fazer a diferenciação entre a arquitetura e o que aconteceu no interior do prédio. "Há exemplos excelentes de bons trabalhos nesse pavilhão, e é isso que representa o país", opina Gaensheimer.
História e arquitetura
Um bom exemplo desse caso foi a Bienal da Arquitetura há quatro anos, sob o título apropriado "Conversível". A equipe de curadores, do escritório Grüntuch e Ernst, colocou uma escadaria provisória vermelha por meio de uma janela do pátio interno na lateral do prédio, pela qual podia-se chegar ao telhado e ter uma visão de Veneza.
Para Arno Sighard Schmid, aquela foi uma boa ideia – mas que não pode ser repetida. "Isso está associado a uma enorme dificuldade, mas mostrou que o telhado permitia uma situação tão maravilhosa, esse é o motivo que me estimulou, que a democracia, a nossa atual república em termos de arquitetura e arte, precisa ser apresentada no exterior de modo diferente", diz Schmid.
Susanne Gaensheimer faz outras considerações. "Demolir não quer dizer que se pode mudar a História, pelo contrário, nós podemos usar a arquitetura também para manter uma consciência permanente da História. Isso eu acho mais importante do que uma demolição."
Ela convidou o artista performático Christoph Schlingensief para o evento de 2011. Num comentário feito pelo artista, ele diz que gostaria de poder excluir o prédio com um clique do mouse – e a curadora não interpreta essa opinião como uma posição pró-demolição.
"Eu imagino que ele queira dizer que gostaria que essa discussão desaparecesse com um clique de mouse, porque ela nos detém por tanto tempo e sempre ficamos presos a ela", opina Gaensheimer.
Num blog sobre o tema, Schlingensief classifica como "idiota" a proposta de demolição. A convocação da máquina de terraplanagem mostra apenas o desejo de uma solução rápida e falta de imaginação.
Autora: Sigfrid Hoff (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer