Detenções e ameaças antecedem protesto em Caracas
1 de setembro de 2016Uma série de ativistas e apoiadores da oposição venezuelana foi presa às vésperas de uma marcha convocada para esta quinta-feira (01/09), chamada de "Toma de Caracas" (Ocupação de Caracas). Políticos da oposição rechaçam a onda de repressão, enquanto o governo denuncia supostos planos golpistas relacionados à manifestação, que deve reunir dezenas de milhares de pessoas.
O partido opositor Primero Justicia (PJ) denunciou que 11 de seus militantes foram detidos pela Guarda Nacional Bolivariana ao se dirigirem à capital do país para participar do protesto, que tem como objetivo agilizar um referendo para revogar o mandato do presidente Nicolás Maduro.
"A detenção é uma amostra do medo que o governo tem da contundência que terá a Gran Toma de Caracas neste 1º de setembro. Está claro que nesta quinta-feira se inicia a rota rumo à mudança apor meio do referendo presidencial revogatório de Nicolás Maduro", disse o partido em comunicado.
As autoridades venezuelanas confirmaram nesta quarta-feira que dois dirigentes opositores haviam sido detidos e denunciaram um plano "desestabilizador" previsto para a manifestação desta quinta-feira.
Segundo o ministro do Interior, Néstor Reverol, foi descoberto um suposto plano de fuga do prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, que cumpria pena domiciliar em consequência das manifestações de 2014 contra o governo. Ceballos foi transferido para um presídio e arquivos do político revelaram detalhes de planos desestabilizadores, envolvendo vários "atores da ultradireita". Tais arquivos resultaram na prisão de dois dirigentes, do Voluntad Popular e do Avanzada Popular, por posse de materiais explosivos.
"Os detidos têm antecedentes de atos desestabilizadores em nosso país, e não se descartam outras detenções de geradores de violência da ultradireita que pretendem criar o caos e a violência no país", disse Reverol.
De acordo com o ministro, o dirigente Lester Toledo, do partido Voluntad Popular, é alvo de uma ordem de prisão por financiamento de terrorismo. Reverol afirmou ainda que as autoridades estão investigando outras informações para "derrotar o golpe de Estado e a violência no nosso país e seguir avançando com a construção da revolução bolivariana."
Nesta terça-feira, Maduro disse que o Voluntad Popular é o "braço armado" do imperialismo e que está envolvido numa eventual tentativa golpista nesta quinta-feira.
Jornalistas barrados
O Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa da Venezuela denunciou nesta quinta-feira, a poucas horas da manifestação da oposição em Caracas, que as autoridades do país estavam impedindo a entrada e expulsando jornalistas estrangeiros que iriam cobrir o protesto.
Segundo Marco Ruiz, porta-voz do sindicato, as autoridades alegam que os jornalistas tiveram a entrada no país negada, mas na verdade não estão permitindo a entrada de funcionários de meios de comunicação internacionais.
Nesta terça-feira, três jornalistas da emissora Al Jazeera que pretendiam cobrir a marcha em Caracas foram detidos ao chegarem ao aeroporto venezuelano de Maiquetía. Segundo a imprensa venezuelana, uma jornalista do México foi expulsa do país no mesmo dia.
O governo venezuelano também fechou nesta quinta-feira os acessos à capital que seriam usados por manifestantes. Dentro de Caracas, pelo menos quatro estações de metrô foram fechadas.
Apoiadores de Maduro também devem ocupar as ruas de Caracas nesta quinta-feira. Os defensores do regime já deram início à sua manifestação nesta quarta-feira, em resposta a um apelo do chefe de Estado venezuelano que denunciou que setores opositores estavam preparando, com o apoio dos Estados Unidos, um golpe de Estado.
Os simpatizantes de Maduro assumiram o compromisso de permanecer nas ruas até esta quinta-feira com a missão de garantir a paz e impedir alegadas tentativas de criar violência nas concentrações da oposição.
Em meio à grave crise econômica e política, a Venezuela está dividida. Apesar de ter as maiores reservas petrolíferas do mundo, a economia atravessa grandes dificuldades que levaram o presidente a decretar, em janeiro deste ano, estado de emergência econômica. A população sofre com a escassez de alimentos e medicamentos.
LPF/dpa/efe/lusa