Cúpula UE-África
7 de dezembro de 2007Os chefes de Estado e de governo de 27 países europeus e de 53 nações africanas discutem neste final de semana, em Lisboa, a formação de uma parceria estratégica entre a União Européia (UE) e a União Africana (UA).
O primeiro assunto da pauta, e talvez o mais polêmico, é a violação dos direitos humanos na África, especialmente no Zimbábue, cujo presidente, Robert Mugabe (de 83 anos), não é necessariamente bem-vindo ao encontro.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, decidiu boicotar a cúpula em protesto à participação de Mugabe, que é acusado de reprimir a oposição e a imprensa de seu país, o que já lhe rendeu sanções da UE.
A Espanha também criticou a vinda do líder africano à conferência, que já deveria ter acontecido em 2003, mas foi cancelada justamente por causa de protestos contra Mugabe.
O saldo de 28 anos de governo do "libertador que virou opressor" é uma inflação de 15.000% ao ano e aproximadamente cinco milhões de exilados, que fugiram da repressão e do caos.
"Existem violações aos direitos humanos que são inaceitáveis. Penso que, numa relação madura, temos de abordar essa preocupação com nossos parceiros africanos", disse o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso.
Merkel: críticas diretas
O primeiro-ministro português, José Sócrates, que exerce a presidência semestral da UE, encarregou a chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente sul-africano, Thabo Mbeki, para debaterem os temas "direitos humanos e boa governança" com os líderes africanos.
Merkel defendeu a presença de Mugabe no encontro, mas avisou: "Nós vamos expressar a nossa opinião, também as nossas críticas, e isso na presença dos participantes." Ela pretende dar continuidade em Lisboa à sua cruzada pelos direitos humanos iniciada em encontros com os governos da Rússia e da China.
Barroso vê a megacúpula de Lisboa como "recomeço nas relações entre os dois continentes. Estamos passando de uma relação entre doador e recebedor para uma verdadeira parceria, baseada em interesses comuns".
Na sua opinião, a África e a Europa precisam enfrentar conjuntamente desafios como a mudança climática, segurança energética, comércio e migração em massa. "Até agora tínhamos uma política para a África; daqui para a frente queremos uma política com a África", disse.
Acordo de livre comércio
Em Lisboa deverão ser aprovados uma nova estratégia européia para a África e um plano de ação trienal. A União Européia pretende estreitar sua cooperação com a União Africana e garantir o financiamento das missões de paz na África.
Como ponto alto do encontro de Lisboa estava prevista a assinatura de acordos de livre comércio entre a UE e vários blocos de países africanos, mas as negociações fracassaram porque os europeus exigiram a abertura dos mercados da África para suas exportações.
O comissário de Cooperação Econômica da UE, Louis Michel, disse ao jornal alemão Die Welt que "as políticas ambiental, comercial e agrária européias não devem se transformar num obstáculo ao desenvolvimento da África". A Europa é a principal parceira comercial da região.
O encontro de Lisboa é o segundo entre UE e África, após o de Cairo em 2000, e é uma reação à cúpula China-África de novembro de 2006.
"Há sete anos não temos uma cúpula UE-África. A UE conversa com todo mundo, mas não com a África. Isso é um erro pelo qual vamos pagar caro. A UE não pode se dar o luxo de ter uma política externa sem diálogo com a África", disse Sócrates. (gh)