Diretor alemão leva aos palcos o universo dos banqueiros
19 de janeiro de 2013Durante meses, o diretor Andres Veiel conversou com mais de 20 executivos de bancos. Do material reunido, ele criou uma peça que está sendo encenada no teatro Schauspiel de Stuttgart e no Deutsches Theater, em Berlim. Por duas horas, o espectador adentra o universo secreto de pensamentos dos tubarões do mercado financeiro: o que sentem e o que pensam os senhores do dinheiro? Em entrevista, Veiel fala das razões que o levaram a tratar deste assunto, de sua ira e de sua própria perplexidade.
Deutsche Welle: Por que você se envolveu tanto com o tema dos banqueiros?
Andres Veiel: Fico indignado com o fato de a opinião pública e o circuito das artes não falarem a respeito, de ninguém colocar as questões reais. Por que as pessoas não se levantam e dizem: nossos interesses estão sendo pisoteados profundamente? Muito antes da crise tive uma conversa com um banqueiro que me disse: "Corremos contra a parede. O dinheiro só se prolifera a partir de si mesmo. Quando esta bolha estourar, vai haver um grande crash". À minha pergunta a respeito do que isso significaria, ele respondeu: "Estamos ordenhando a vaca enquanto há leite".
Nenhuma outra profissão teve sua imagem denegrida nos últimos anos como a dos banqueiros. A fama deles está arruinada. Mas há, de fato, banqueiros?
O gênero banqueiro como tal não existe. Olhamos de fora para uma fachada de vidro e presumimos que eles estejam todos submetidos a uma mesma ordem. Mas conversei com altos executivos de bancos que estavam muito irritados, embora também sejam responsáveis por aquilo que está acontecendo. Em suas críticas, alguns deles vão além daquilo que é pensado e falado nas barracas do movimento Occupy.
O que esses altos executivos arriscaram ao conversar com você?
São pessoas que arriscam muito quando conversam. Se forem identificados, podem perder suas aposentadorias ou serem obrigados a pagar multas de indenização.
Por que eles falam assim mesmo?
Essas pessoas querem se ver livres do que pensam. Sua ira não tem destinatário. Elas não podem falar, encontram-se automatizadas e isoladas. E aí eu chego, ouço e asseguro a eles o anonimato. Sou para eles, neste momento, um padre no confessionário, psicólogo e interlocutor de debate. Nas conversas, havia sempre momentos nos quais eu visualizava abismos.
Por que tão poucos banqueiros abandonam a profissão, apesar da postura crítica?
É um vício, como o delírio da droga, movimentar esses volumes gigantescos de dinheiro no mundo e ainda por cima gerir altos lucros para os bancos e para si mesmo. Mas não se trata de celebrar aqui a cobiça, mas sim de uma espécie de reconhecimento e da questão: o que o outro recebe? Recebo dois milhões ao ano e ele, três. Ele é melhor que eu? Não se trata, em primeira linha, de cobiça, mas do desejo de poder. Os banqueiros não são uma casta isolada, mas seu pensamento está profundamente enraizado na sociedade. É o pensamento do lucro, com o qual todos nós nos deparamos.
Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank assassinado, já ocupou em seu filme Caixa Preta Alemanha um papel central. Por que é dedicado a ele um grande espaço também em O Reino das Framboesas?
Herrhausen é, para mim, uma pessoa trágica, que em seu curto tempo de atuação tentou se empenhar pela moratória das dívidas do Terceiro Mundo. Ele defendia a sustentabilidade e a responsabilidade ética e acabou, por fim, fracassando. Mas ele coloca para mim uma questão central: como eu, na condição de indivíduo, posso me posicionar frente ao sistema, que, por sua vez, quer uma coisa totalmente diferente, ou seja, o lucro a qualquer preço? Mas o indivíduo pode mudar alguma coisa nesse sistema tão lubrificado e fluido?
Qual é a responsabilidade dos políticos?
Durante muitos anos, a política foi o elemento incendiário disso tudo. Em 2002 e 2003, foram aprovadas leis que permitiam negócios arriscados. O ministério alemão das Finanças havia incitado os bancos durante anos a arriscarem. Dizia-se: "Vocês precisam participar, caso contrário ficaremos dependentes de Nova York e de Londres".
São buracos bilionários no orçamento, que vão chegar a nós. Recursos que faltam na educação, na pesquisa, nos novos investimentos. Ou caminhamos para uma enorme recessão, porque o Estado não tem mais dinheiro. Aqueles que agora tentam apagar o fogo estão entre seus causadores.
Andres Veiel tornou-se conhecido devido a seu envolvimento na arte com o terrorismo de esquerda na Alemanha. Seu filme Se não nós, quem (2011) narra os primórdios da Fração do Exército Vermelho (RAF). Seus bons contatos com o universo dos banqueiros vêm de seu premiado documentário Caixa Preta Alemanha (2001), no qual ele retrata intensamente a personagem de Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, morto em um atentado.
Autora: Andrea Horakh (sv)
Revisão: Marcio Damasceno