1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Merkel nos EUA

2 de novembro de 2009

Falar às duas câmaras do Congresso é alta honra para Merkel. Antes, apenas Konrad Adenauer fora convidado para tal, em 1957. Mas distinção é também convite para que Alemanha faça mais por Afeganistão, Guantánamo e Irã.

https://p.dw.com/p/KLcO
Vista aérea do Congresso dos EUAFoto: picture-alliance/dpa

Antes mesmo de seu primeiro pronunciamento ao Bundestag, na qualidade de chefe de governo alemã reeleita, Angela Merkel partiu nesta segunda-feira (02/11) para uma visita a Washington. No dia seguinte, ela se pronunciará diante das duas câmaras do Congresso norte-americano – o Senado e a Casa dos Representantes.

Com isso, ela alcança algo que antes fora concedido a um único chanceler federal alemão. Embora, a rigor, o discurso de Konrad Adenauer em 28 de maio de 1957 tenha sido uma recepção da Casa dos Representantes, e não um pronunciamento a ambas as câmaras. Nesse sentido, trata-se praticamente de uma estreia para um premiê alemão.

Além disso, a democrata-cristã é a segunda alta representante estrangeira a receber tal honra desde a posse do presidente Barack Obama. Antes dela, só o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, recebera convite de tal ordem.

O preço da honraria

Gordon Brown bei Barack Obama
Brown (d., ao lado de Obama) visitou os EUA no início de 2009Foto: AP

Segundo a justificativa oficial da Câmara dos Representantes, trata-se de celebrar conjuntamente os 20 anos da queda do Muro de Berlim. Porém, embora não explicitamente declarado, o convite também demonstra a importância que os Estados Unidos atualmente conferem à Alemanha.

O especialista em política externa norte-americana John Hulsman explica a dimensão do evento: "Os Estados Unidos são uma república e um país relativamente jovem, que não dispõe de uma simbologia rica. Falar às duas câmaras do Congresso é a honra máxima que um convidado oficial pode receber, não há uma distinção maior".

Só que tal honraria não vem de graça: em retribuição, Washington espera que os alemães assumam maior responsabilidade na política internacional do que têm feito até agora.

Afeganistão

O primeiro ponto de exigência é a missão da Bundeswehr no Afeganistão. Apesar de constituir o terceiro maior contingente estrangeiro no país asiático, suas possibilidades de mobilização são restritas pelo Parlamento alemão. As tropas podem se defender, mas não atacar, e os aviões Tornado das Forças Armadas alemãs ajudam no esclarecimento, mas não podem prestar apoio em combate.

Antes de formular maiores exigências em relação aos alemães e aos outros aliados, Obama tem que decidir, ele próprio, como seguirá a situação no Afeganistão. Mesmo assim, está claro que os EUA apreciariam caso a Alemanha assumisse um papel mais ativo na região. Obama vem sublinhando repetidamente que seu país não tem como arcar sozinho com a reconstrução e a luta contra a Al Qaeda e os radicais talibãs.

Guantánamo

Seria um gesto de bastante peso simbólico se a Alemanha se dispusesse a acolher alguns dos prisioneiros do campo de Guantánamo. Pouco após sua posse, Obama prometera fechar a unidade militar estadunidense em Cuba dentro de um ano – prazo que dificilmente conseguirá cumprir.

No momento, os estados norte-americanos se recusam a aceitar os presos declarados inocentes, mas que não podem ser repatriados por ameaça de perseguição política em seus países de origem.

Segundo Stephen Szabo, diretor da Academia Transatlântica do German Marshall Fund: "Para o presidente, seria mais fácil levar a maioria dos prisioneiros para os EUA, caso pudesse demonstrar que seus aliados estão arcando com parte dessa carga".

Rússia e Irã

A Alemanha igualmente representa um papel significativo no reaquecimento das relações entre Washington e Moscou. Nos EUA, há quem veja com desconfiança as estreitas conexões comerciais entre alemães e russos. Zbigniew Brzezinski, antigo assessor de segurança do presidente Jimmy Carter, por exemplo, é contra um excesso de concessões políticas para com a Rússia, motivadas por interesses econômicos.

"Queremos boas relações com a Rússia. Mas não queremos uma relação que anule as conquistas ligadas ao fim da Guerra Fria, trazendo ainda desvantagens a Ucrânia, Belarus, Geórgia ou à Europa Central e Oriental."

Bundeskanzlerin Merkel in Afghanistan
Merkel esteve no Afeganistão em abril de 2009Foto: AP

As relações comerciais da Alemanha também são um ponto nevrálgico na política estadunidense para com Teerã. Os alemães continuam sendo os maiores exportadores para o Irã dentro da União Europeia. Apesar de um retrocesso, suas exportações somam vários bilhões de dólares ao ano.

Por outro lado, juntamente com os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Alemanha está encarregada das negociações acerca do programa nuclear iraniano. Seria, portanto, consequente – caso novas sanções sejam decretadas no nível das Nações Unidas – se Berlim não só as apoiasse, mas também as fizesse valer para o próprio país.

EUA mais fracos

Guantánamo, Afeganistão, Irã, Rússia: as possibilidades de demonstrar apoio aos EUA na política externa são, portanto, numerosas. E segundo Stephen Szabo, está na hora de a Alemanha assumir uma responsabilidade proporcional a seu tamanho e sua força econômica.

"Os alemães precisam compreender que os Estados Unidos mudaram. Eles se tornaram mais fracos, tomam suas decisões com muito mais cuidado e assumem menos obrigações do que antes. Eles agora precisam de parceiros fortes na Europa para resolver os problemas", avalia.

A Alemanha não deveria esperar demais para se apresentar como um parceiro forte, acrescenta o cientista político, lembrabndo que os norte-americanos não são especialmente pacientes.

Autor: C. Bergmann/M. Knigge/A. Valente
Revisão: Rodrigo Rimon