Poloneses vão às urnas
20 de outubro de 2007Os poloneses vão às urnas neste domingo (21/10) para eleger um novo legislativo apenas dois anos após as últimas eleições parlamentares. Por enquanto, não há um claro favorito: tanto o atual premiê Jaroslaw Kaczynski quanto o líder da oposição Donald Tusk se mostram convictos da vitória.
As eleições, que se tornaram possíveis após a dissolução do parlamento no início de setembro, deverão encerrar a crise política interna causada pela quebra da coalizão do governo Kaczynski.
Segundo o ex-presidente da Polônia e ex-líder do sindicato Solidarnosc, Lech Walesa, "esta é a eleição mais importante desde o fim do Estado totalitário". Segundo ele, os poloneses têm uma obrigação moral de votar, pois só a alta participação eleitoral poderá levar à derrota do partido do premiê Kaczynski e de seu irmão, o presidente Lech Kaczynski.
"É hora de decidir se nosso país será governado por uma família, por dois gêmeos que não ligam para a democracia e para nossos direitos", disse o ganhador do Nobel da Paz de 1983, hoje com 64 anos.
Pesquisas manipuladas
De acordo com pesquisas eleitorais, o partido liberal de oposição Plataforma Cívica (PO) possui uma vantagem de 17% em relação ao conservador católico e ultra-nacionalista Partido Lei e Justiça (PiS) dos irmãos Kaczynski.
O PO foi catapultado ao topo das pesquisas após seu líder Donald Tusk ter saído vencedor de dois debates televisivos, nos quais se sobressaiu tanto em relação ao arqui-rival Kaczynski quanto ao social-democrata e ex-presidente Aleksander Kwasniewski.
No entanto, especialistas não vêem motivo para uma mudança tão radical de opinião na população polonesa. E o próprio premiê afirma: "Estas pesquisas são forjadas. Temos todas as chances de vitória. Convoco todos os nossos seguidores à mobilização". De fato, Kaczynski venceu as eleições de dois anos atrás a despeito das pesquisas eleitorais, que previam uma vitória de Donald Tusk com 14% de vantagem.
Eleitores exauridos
Mas os altos escândalos, difamações e ameaças que dominaram a política polonesa nos últimos dois anos exauriram o eleitorado. Por mais que alguns institutos de pesquisa prevejam um índice de participação eleitoral de 70%, especialistas acreditam que o recorde de setembro de 2005, quando apenas 40,5% do eleitorado foi às urnas, deverá se repetir.
Muitos dos eleitores que disseram pretender votar o farão mais por mera obrigação cívica que por entusiasmo, optando por aquele que consideram o menos pior num país onde a maioria da população considera todos os políticos corruptos. No entanto, há quem acredite que a escalada da rivalidade entre os dois partidos possa contribuir para aumentar a participação eleitoral.
"O bom dessa campanha é que não sabemos nada ao certo. Não sabemos quem ficará em primeiro lugar nem que partidos conseguirão um lugar no parlamento. Isso aumenta o interesse dos eleitores. A polarização do cenário político mobilisará as pessoas. Eles gostam quando dois rivais brigam pela vitória", explica o politólogo Rafal Chwedoruk.
Poloneses no exterior decidem?
As eleições de domingo foram anunciadas após o fim da conflituosa coalizão de governo entre o PiS, o partido radical camponês Samoobrona (Autodefesa) e o nacionalista Liga das Famílias Polonesas (LRP), acusados de corrupção. O próprio primeiro-ministro abriu caminho para a dissolução do parlamento, provocando a antecipação das eleições legislativas.
Políticos de oposição e analistas acusam Jaroslaw Kaczynski de violar princípios fundamentais da democracia ao utilizar a cruzada anti-corrupção de seu governo para encobrir tentativas do serviço secreto e do Ministério da Justiça de neutralizar seu adversários políticos. Kaczynski revidou as acusações como infundadas e parte de uma campanha para difamar os esforços de seu governo para eliminar a corrupção e a influência de empresários "oligarcas" no aparato político polonês.
Porém, especialistas prevêem que nenhum dos dois partidos obterá uma ampla maioria, o que prolongaria a instabilidade política do país de 38 milhões de habitantes. Nesse sentido, votos de poloneses radicados no exterior, principalmente no Reino Unido e na Irlanda, poderiam ser decisivos.
Oposição promete mudança
Mais próximo do empresariado, o PO prometeu em sua campanha que impulsionaria iniciativas privadas através da redução da burocracia e da introdução de um imposto único de 15%. Além disso, os liberais prometem a retirada das 900 tropas polonesas do Iraque e um melhor aproveitamento das verbas da União Européia.
Recentemente, autoridades européias em Bruxelas advertiram que a Polônia correria o risco de perder bilhões de euros em subsídios essenciais para a construção de auto-estradas e infra-estrutura pública devido à lentidão do governo Kaczynski no planejamento e execução de projetos.
As relações com a UE também passaram por sérias turbulências durante os dois anos do governo Kaczynski, com a Polônia tendo ameaçado bloquear a aprovação do Tratado Constitucional europeu e deixado fracassar um novo acordo entre UE e Rússia devido a uma disputa comercial entre os dois países.
Segundo especialistas, uma nova vitória do PiS também prolongaria a concentração do poder executivo nas mãos dos gêmeos, comprometendo a saúde do sistema democrático polonês. Pois, por mais que o mandato do presidente Lech Kaczynski termine em 2010, o novo parlamento continuaria no poder até 2012. (rr)